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ALÉM DO ESPECTRO

Um olhar sobre o autismo: entenda a condição, o diagnóstico, o tratamento e como lidar

LIBERAL publica a partir de hoje, Dia Mundial da Conscientização do Autismo, uma série sobre o tema, do diagnóstico à inclusão

Por Ana Carolina Leal

02 de abril de 2024, às 08h01 • Última atualização em 02 de abril de 2024, às 10h14

Matheus Olivio da Silva, hoje com 10 anos, tinha 3 quando foi diagnosticado com autismo. Precisou ser matriculado em uma creche para a mãe Daiane de Souza Olivio da Silva, de 35 anos, descobrir que o filho apresentava alguns comportamentos relacionados ao TEA (Transtorno do Espectro Autista).

“Ele estava prestes a fazer 3 anos e falava bem pouco. Questionei o pediatra por duas vezes e ele disse que cada criança tem seu tempo. Mas quando fiz a entrevista na creche e perguntaram como meu filho mostrava quando estava com dor ou incomodado, falei que ele não falava ainda. A partir disso, a escola me direcionou para um médico e em três consultas ele foi diagnosticado com autismo”, recorda Daiane, moradora de Santa Bárbara d’Oeste.

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Matheus faz parte de uma população autista estimada em seis milhões de pessoas no Brasil. De acordo com o doutor em educação e especialista em educação especial, inclusiva e políticas de inclusão, Lucelmo Lacerda de Brito, o número de pessoas com TEA se baseia em pesquisas realizadas nos Estados Unidos, que apontam que uma a cada 36 crianças é diagnosticada autista.

“Não temos motivos, hoje, para entender que [os números] sejam diferentes em outras populações genéticas porque pesquisas similares encontraram correlação em outros países geneticamente muitos distintos”, explica.

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Em alusão ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo, neste 2 de abril, o LIBERAL publica a partir desta terça-feira até o próximo domingo (7) a série “Além do Espectro: um olhar sobre o autismo”, com reportagens sobre o tema. A data foi criada pela ONU (Organização das Nações Unidas) para conscientizar as pessoas sobre o TEA, bem como sobre as necessidades e direitos das pessoas autistas.

O que é o autismo

O autismo é uma condição genética que prejudica a organização de pensamentos, sentimentos e emoções. Tem como características a dificuldade de comunicação por falta de domínio da linguagem e do uso da imaginação, a dificuldade de socialização e o comportamento limitado e repetitivo.

Os sinais de alerta surgem nos primeiros meses de vida, mas a confirmação do diagnóstico costuma ocorrer aos 2 ou 3 anos de idade.

Daiane e o filho Matheus, diagnosticado com autismo desde os 3 anos de idade – Foto: Marcelo Rocha/Liberal

Professora de psicopatologia do curso de psicologia da PUC-Campinas, Marly Fernandes explica que o termo espectro foi inserido ao nome transtorno porque inclui uma série de condições e graus de comprometimentos.

“Em função da diversidade de sintomas e níveis de gravidade, considera-se que cada pessoa com autismo tem seu próprio conjunto de manifestações, tornando-se única dentro do espectro”, afirma.

Leia outras reportagens da série Além do Espectro
➡️ Proporção de diagnósticos de autismo é maior entre pessoas do sexo masculino
➡️ O autismo entre os adultos: como lidar com o diagnóstico considerado tardio

O TEA pode ser classificado em três tipos ou níveis de suporte: nível 1 (leve), nível 2 (moderado) e nível 3 (severo). As pessoas diagnosticadas com nível 1 são autônomas em seu dia a dia e muitas vezes podem nem perceber que possuem a condição, suavizando os sinais de forma involuntária.

Naqueles com autismo nível 2, a condição é mais evidente e a pessoa precisa de apoio no dia a dia e terapias direcionadas. Geralmente, são diagnosticadas ainda na infância pela dificuldade de socializar, podendo ter atraso de fala ou comunicação de forma desconexa. Com um acompanhamento correto, porém, podem ter um funcionamento regular da vida e até certa independência.

Já os que estão no nível 3 precisam de apoio constante. Alguns sequer desenvolvem a capacidade de comunicação verbal. Tendem ao isolamento e a uma forte fixação em objetos de interesse. Mesmo com acompanhamento terapêutico, têm pouca autonomia.

Inclusão de autistas é desafio

Matheus tem autismo nível 2. Ele tem as estereotipias, que são movimentos motores involuntários, e atraso na linguagem. É uma criança que tem déficit na comunicação, porém, consegue se comunicar.

“Nosso objetivo enquanto terapeuta é a ampliação do repertório verbal dele, fazer com que ele consiga se comunicar de maneira mais funcional na sociedade. Hoje, ele já consegue solicitar o que deseja por meio de gestos e do PECS, um sistema de comunicação alternativa”, explica Thiago da Silva, supervisor do setor ABA (Análise do Comportamento Aplicada) da Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) de Americana.

Para a mãe de Matheus, a maior dificuldade, atualmente, é lidar com a falta de conhecimento das pessoas. “A inclusão é o maior desafio. No caso do Matheus, a escola, os familiares, os amigos, todos o abraçaram. O problema é fora, quando vamos a um parque, a um restaurante. Muitos se afastam por conta dos comportamentos involuntários. É difícil”, diz a mãe Daiane.

Para o supervisor da Apae, é importante a população estar capacitada para receber esse público porque uma vez que as pessoas entendam o que é o autismo, podem até mesmo auxiliar as famílias com filhos autistas.

📝 Sinais do autismo

Veja comportamentos que possam indicar TEA e como a condição pode ser diagnosticada e tratada

  • Aparente desinteresse por outras pessoas
  • Inabilidade para fazer amizades
  • Não gostar de ser tocado
  • Não participar de brincadeiras em grupo
  • Dificuldade de entender e expressar sentimentos
  • Parecer não ouvir quando falam com ele ou ela
  • Falar em um tom ou ritmo diferente
  • Repetir as mesmas palavras ou frase sem objetivo comunicativo
  • Repetir a uma pergunta sem respondê-la
  • Dificuldade em comunicar necessidades e desejos
  • Evitar contato visual
  • Postura atípica
  • Seguir rotina rígida, com dificuldade de se adaptar a qualquer mudança na programação ou ambiente
  • Interesses restritos ou hiperfoco em relação a números, símbolos ou temas específicos
  • Passar longos períodos observando objetos em movimento como ventilador ou focar em uma parte específica do objeto, como as rodas de um carrinho
  • Repetir as mesmas ações e movimentos, como agitar as mãos, balançar ou girar o corpo
  • Seletividade alimentar

🩺 Como se dá o diagnóstico do TEA

É clínico, realizado por meio de observação, entrevistas e instrumentos validados para mensurar sinais de autismo. Não existem exames laboratoriais para o diagnóstico, porém, uma avaliação neurológica é relevante para descartar a manifestação de uma outra síndrome ou presença de doenças.

👪 Como ocorre o tratamento

Considerando que normalmente várias áreas do desenvolvimento se encontram afetadas, tanto o diagnóstico como o tratamento deve ser multidisciplinar. O plano de tratamento deve ser individualizado, com envolvimento participativo e integrado da família, escola e da equipe de profissionais. O diagnóstico e intervenção precoce ajudam muito no desenvolvimento e evolução da condição.

🌻 Recomendações para lidar com o autismo

➡️ Levar em consideração as dificuldades e procurar atender as necessidades oferecendo um ambiente calmo e acolhedor, sem muitos estímulos, com tempo maior para realização das atividades;

➡️ Falar de maneira objetiva, considerar os sentimentos e, muitas vezes, a dificuldade de expressar as emoções;

➡️ Conseguir compreender que existe uma diferença entre uma crise de birra e uma crise em função de um excesso de estímulos ou de uma dificuldade de expressar as emoções;

➡️ As crises podem se manifestar por meio de agitação e comportamentos estereotipados como uma tentativa de autorregulação emocional. Manter a calma e procurar identificar quais estímulos ambientais e/ou emocionais que podem estar causando um desconforto podem ajudar neste momento;

➡️ Buscar um suporte emocional para a família e para os cuidadores também é muito importante para ter um espaço de acolhimento, assim como para esclarecer dúvidas e ter orientações;

➡️ A aceitação e a inclusão social também são fatores fundamentais que contribuem para amenizar as dificuldades encontradas e para o acolhimento dos autistas e de suas famílias.

Fonte: Marly Fernandes, professora do curso de psicologia da PUC-Campinas

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