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ALÉM DO ESPECTRO

Proporção de diagnósticos de autismo é maior entre pessoas do sexo masculino

Estimativa é de que para cada quatro meninos com transtorno há apenas uma menina

Por Ana Carolina Leal

02 de abril de 2024, às 08h15 • Última atualização em 02 de abril de 2024, às 10h14

Lucelmo Brito, especialista em educação inclusiva, alerta para subnotificação por conta de gênero - Foto: Marcelo Rocha/Liberal

O TEA (Transtorno do Espectro Autista) é uma condição que afeta pessoas em diferentes graus e manifestações, e embora seja reconhecido por sua complexidade, um padrão tem se destacado: a prevalência maior no sexo masculino. A proporção é de quatro meninos diagnosticados com TEA para cada menina com a mesma condição.

“As meninas têm realmente menos autismo do que os meninos. Sabemos que há um fator genético e um fator hormonal envolvidos, mas não compreendemos como eles interagem para resultar nessa disparidade de diagnósticos”, afirma Lucelmo Lacerda de Brito, doutor em educação e especialista em educação especial, inclusiva e políticas de inclusão.

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De acordo com o especialista, as meninas, embora em menor número, tendem a ser subnotificadas. “Há uma série de estudos em andamento tentando avaliar essa questão, mas aparentemente, não está relacionado nem aos critérios diagnósticos padrão nem à hipótese de que os protocolos de avaliação foram concebidos considerando principalmente o comportamento masculino”, explico Lucelmo.

Um dos aspectos que tem sido sugerido como influenciador dessa subnotificação é a maneira como as expectativas de gênero moldam a percepção e a avaliação dos comportamentos.

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“Parece que tem muito mais a ver com as expectativas de gênero que temos em relação a meninos e meninas”, diz o especialista. “Essas diferentes expectativas levam as meninas a passarem despercebidas em processos de avaliação, já que muitas vezes seus comportamentos atípicos são interpretados como mais aceitáveis dentro dos padrões sociais”.

Leia outras reportagens da série Além do Espectro
➡️ Um olhar sobre o autismo: entenda a condição, o diagnóstico, o tratamento e como lidar
➡️ O autismo entre os adultos: como lidar com o diagnóstico considerado tardio

Por exemplo, situações de retraimento social podem ser interpretadas de forma diferente dependendo do sexo da criança. “Um menino retraído é mais provável que alguém indique a necessidade de uma avaliação, enquanto que uma menina pode ser considerada apenas tímida, de acordo com as expectativas de que ‘meninas devem ser mais recatadas’”, destaca o especialista.

Segundo o doutor em educação, esses estereótipos de gênero podem influenciar diretamente na identificação precoce e no acesso a intervenções adequadas para meninas com TEA.

Por que tem se falado tanto em autismo?

Nos últimos anos tem havido um aumento no debate e na conscientização sobre o autismo, embora o transtorno sempre tenha existido.

A descrição inicial do autismo infantil foi feita pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner em 1943, quando publicou a obra “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”, descrevendo casos de 11 crianças com características de isolamento extremo e necessidade de preservação da mesmice.

Segundo a professora Marly Fernandes, do curso de psicologia da PUC-Campinas, várias hipóteses podem explicar porque o tema está sendo mais debatido ultimamente.

Uma delas é o acesso a mais informações e a conscientização crescente da população em geral. Além disso, a melhor capacitação de profissionais de saúde e educação para realizar o diagnóstico também pode estar contribuindo para que haja mais discussão.

Outro fator é o engajamento e participação ativa de familiares, profissionais e pessoas com autismo, que têm fortalecido a comunidade autista.

“Esse engajamento tem influenciado o financiamento de pesquisas e o surgimento de leis que buscam garantir amplos direitos, maior reconhecimento e redução do estigma”, explica Marly.

O que é mito quando se fala em autismo ❌

➡️ Vacinas causam autismo: isso é decorrente de uma fraude que já foi superada e já há pesquisas que desmentem tal afirmação

➡️ Falta de amor da mãe ou do pai ou uma falha emocional na relação com os pais: o autismo é uma condição congênita com larga medida genética

➡️ Que o autismo não tem tratamento: existem práticas baseadas em evidência que apoiam essas pessoas, que podem ter um ganho significativo de qualidade de vida

Fonte: Lucelmo Lacerda de Brito, doutor em educação e especialista em educação especial, inclusiva e políticas de inclusão

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