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Revista L

Ensino Integral e sua multiplicidade

Modelo está em ascensão no País em todos os níveis de ensino, trazendo atividades lúdicas para os pequenos e foco no vestibular para os maiores

Por Débora de Souza

17 de novembro de 2019, às 09h27

Foto: Marcelo Rocha - O Liberal
No Dom Bosquinho as crianças participam de uma série de atividades preparadas para favorecer a criatividade e imaginação

A correria do dia a dia coloca os pais do século 21 em um grande dilema: em qual escola matricular os filhos para que tenham um aprendizado de qualidade? Muitos têm optado por instituições que oferecem ensino integral – um sistema crescente no País.

No ensino Infantil e Fundamental, as escolas que funcionam em período integral oferecem, além do conteúdo pedagógico, atividades culturais, esportivas, artísticas, ciência e tecnologia, meio ambiente, culinária, etc.

As atividades acontecem em espaços exclusivos para cada projeto. Os alunos ficam, em média, nove horas na escola.

Mais do que nunca, a escola viabiliza o desenvolvimento intelectual, social e emocional de crianças e adolescentes, oferecendo aquele “colinho” afetuoso ou ombro amigo, trabalhando o respeito, disciplina e solidariedade.

“O integral ajuda na implementação de valores e na formação socioemocional, no desenvolvimento físico, motor e humano do aluno. Por isso, os valores da escola devem estar alinhados aos valores dos pais e aquilo que eles buscam para seus filhos”, explica a coordenadora pedagógica do Ensino Integral do Instituto Educacional de Americana, o Instituto Mais, Bruna Minelli Moreno.

Aprendizado o dia todo

Foto: Débora de Souza - O Liberal
“No Ensino Integral, o aluno tem suporte diferenciado porque têm uma pedagoga que realiza o estudo com ele”, relata a coordenadora pedagógica Bruna Minelli

A questão não é ficar mais tempo na escola, mas ter múltiplas oportunidades de aprendizagem, além de apoio pedagógico extra na hora de fazer as tarefas.

“No Ensino Integral, o aluno tem suporte diferenciado porque têm uma pedagoga que realiza o estudo com ele, tira dúvidas da tarefa, ajuda a estudar para a prova fazendo simulados. Se a criança ficasse em casa com avós, babá talvez ela não tivesse esse tipo de ajuda à disposição ou ficaria no celular”, relata a coordenadora pedagógica Bruna Minelli Moreno, do Instituto Educacional.

É comum as escolas promoverem oficinas, projetos multidisciplinares ou ainda gincanas do conhecimento como parte das tarefas as serem realizadas durante a “recreação”. A ideia é estimular o estudo e espantar o tédio ou cansaço.

“O ambiente escolar precisa ser estimulante. Não estamos falando de aulas, mas oficinas criativas e lúdicas onde o aluno pode conviver com o outro, trabalhar suas competências humanas, além adquirir conhecimento”, destaca a coordenadora do Fundamental I do Colégio Dom Bosco, Sanderli Aparecida Bicudo Bomfim. “Os pais que optam pelo Integral procuram proporcionar um período rico em convivência para o filho”, completa. A partir de 2020, o colégio passará a oferecer Ensino Integral também aos alunos do 2º ao 5º ano.

Atenção aos pequenos

Foto: Marcelo Rocha - O Liberal
“Escolhi a escola pela atenção que ela dá aos bebês”, comenta a jornalista Thaís de Mateu, mãe de Taila, 5 anos

Além de atividades pedagógicas direcionadas, a escola deve oferecer segurança e conforto aos alunos, em especial aos da Educação Infantil. “Escolhi a escola pela atenção que ela dá aos bebês”, comenta a jornalista Thaís de Mateu, mãe de Taila, 5 anos.

A pequena, que desde o sexto mês de vida frequenta o Colégio Moraes, reclama quando sai antes das 17h e vai à escola mesmo no período de férias para brincar com os amiguinhos. “Somos uma extensão da casa dos nossos alunos, principalmente para aqueles que passam mais de cinco horas com a gente”, diz a diretora pedagógica do Colégio Moares, Maressa Camargo.

A ideia é que os pequenos do Ensino Integral se sintam acolhidos e amados, diz ela. “Além de uma equipe preparada para os serviços pedagógicos, temos profissionais aptos também para acolher as crianças e oferecer aquele ‘colinho’ que os pequenos tanto gostam”, completa. Dando ênfase ao ambiente familiar, o Instituto Educacional direciona os alunos de 2 a 6 anos para uma casa vizinha ao colégio.

Foto: Marcelo Rocha - O Liberal
No Instituto Educacional, oficinas criativas e lúdicas estimulam os alunos do período integral, combatendo o tédio e o cansaço

“A ideia é tirar a criança do ambiente escolar para outro mais confortável e mais semelhante à casa dela”, diz a coordenadora da Educação Infantil do colégio, Ketry da Costa. O espaço oferece playground, sala de TV, quarto com caminhas individuais, banheiro adaptado e permite atividades inerentes à infância como brincar com a mangueira em dias quentes.

Foto: Débora de Souza - O Liberal
A criança precisa dessa atenção para se sentir amada, porque, ela pode ficar o dia todo aqui, mas os pais sempre estarão em primeiro lugar”, diz a coordenadora

Ferramentas garantem que pais acompanhem rotina

Seja por necessidade ou escolha, muitos pais se sentem culpados por deixar os filhos o dia todo na escola. Mesmo trabalhando do outro lado da rua, Sanderli Aparecida Bicudo Bomfim, coordenadora do Fundamental I do Colégio Dom Bosco, não passou ilesa pela experiência. “Eu chorei o final de semana todo”, conta ela sobre o início de seu filho Sávio, de 1 ano, no Dom Bosquinho, aos seis meses.

Thaís de Mateu, mãe de Taila, 5 anos, relatou prantos diários nos primeiros meses da filha na escola. “O que me ajudou foi vê-la ir e voltar feliz da escola, bem cuidada. Isso me deu mais confiança”, desabafa a jornalista.

As instituições costumam promover atividades para confortar os pais e minimizar distâncias. No Dom Bosquinho, por exemplo, os pais são convidados a participar das gincanas em datas festivas e ainda preparar receitinhas com os pequenos na aula de culinária. O Instituto Educacional também realiza a “Semana das Profissões”, convidando os pais para falarem sobre suas carreiras aos alunos.

“O importante é que os pais valorizem o tempo que têm com os filhos. Mesmo que ela tenha feito a tarefa na escola, pergunte o que ela fez, o que aprendeu, olhe o caderno, brinque com ela. A criança precisa dessa atenção para se sentir amada, porque, ela pode ficar o dia todo aqui, mas os pais sempre estarão em primeiro lugar”, diz a coordenadora e orientadora pedagógica do Dom Bosquinho, Elisangela Giuliato Abrão.

Aplicativos, cadernos e apostilas são ferramentas que muitas dessas escolas oferecem aos pais para acompanhar o dia a dia dos filhos. “Os pais têm acesso à escola e muitos participam dos grupos de WhatsApp criados pelos professores para recebem fotos e informações dos filhos”, diz a coordenadora e mantenedora do Colégio Ideal, Kátia Stafuzza Limoni.

Foco na preparação para vestibular e Enem

Foto: João Carlos Nascimento - O Liberal
Educação integral é uma realidade para os alunos do Ensino Médio no Colégio Antares

O modelo de educação integral é uma realidade para os alunos do Ensino Médio no Colégio Antares, há uma década. Não à toa, o conhecimento assimilado nos anos que antecedem o vestibular é muito significativo. O projeto foi estendido, recentemente, para os alunos do último ano do Fundamental II.

“Entendemos que o 9° ano é o fechamento do Fundamental, a base tem que estar com ele agora para não encontrar dificuldades no Ensino Médio”, ressalta a coordenadora do Fundamental II do colégio, Adriana Aguiar. “Quando a escola tem projeto e o aluno se vê produtivo, ele fica animado, ele tem mais vontade de aprender. Ficar em casa mexendo no celular o dia todo cansa muito mais”, completa Adriana.

“Qualquer aluno se dá melhor no vestibular se estudar, no mínimo, quatro horas diárias depois da escola, mas nem todos têm essa disciplina. Aqui ele estuda três horas e meia, mas é um tempo de qualidade. Ele faz projetos, simulados, tira dúvidas, tudo com o professor da disciplina que ele teve aula de manhã”, acrescenta o diretor pedagógico, Volnei Antônio Sacardo.

O modelo será estendido aos alunos do 8º ano, em 2020, e para as turmas dos 7º e 6º anos, em 2021. No entanto, será um projeto adaptado à idade do aluno, com atividades mais interativas e lúdicas. Os docentes asseguram que nenhum estudante fica “cansado” de estudar.

Estado aponta rendimento 60% melhor

Dados da Seduc (Secretaria de Educação do Estado de São Paulo) apontam uma melhora de 60% no rendimento escolar dos alunos de Ensino Médio Integral da rede pública, em comparação aos estudantes que têm aulas em um único período. Esse percentual é referente ao último Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo), divulgado em 2018.

Em Americana, Nova Odessa, Hortolândia, Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré são 16.162 crianças matriculadas no ensino integral, nas turmas de Educação Infantil e Fundamental I.

No entanto, as escolas estaduais de Ensino Médio das cinco cidades ainda não aderiram ao modelo de aulas em período integral. Na opinião da coordenadora pedagógica do Ensino Integral na Seduc, Bruna Waitman, esse modelo de ensino traz resultados importantes para estudantes do Ensino Médio.

“As chances de empregabilidade e de aprovação no vestibular são maiores entre esses alunos”, observa Bruna.

Como incentivo para ampliar o número de escolas com ensino integral e professores interessados em lecionar nesse modelo, o Estado oferece uma gratificação salarial aos professores que aderirem a modalidade (75% sobre o salário-base).

Na rede pública, a educação integral traz atividades específicas no contra turno das aulas. Os jovens são estimulados a criarem “clubes de interesses” que são grupos focados no desenvolvimento de habilidades artísticas, sociais, profissionais, debate e argumentação ou mesmo no estudo para o vestibular e Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

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