Histórias de Americana
Saudosismo americanense
Por Mariana Spaulucci Feltrin
06 de setembro de 2019, às 09h24 • Última atualização em 28 de abril de 2020, às 09h27
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Quando pensamos sobre o nosso passado, quase sempre nos vem à cabeça memórias de períodos em que vivemos momentos incríveis e frequentamos lugares que não existem mais.
Os costumes e estilos de cada época nos fazem relembrar com nostalgia desses acontecimentos marcantes, quase sempre ligados à infância e adolescência.
Para muitos, a maior parte das lembranças, que recheiam os pensamentos de forma bastante afetiva, ocorreram no cenário interiorano da cidade de Americana.
Assim, os americanenses mais antigos, por exemplo, relembram as paqueras dos bailes, a diversão nas sessões de cinema e atividades de lazer que aconteciam em Carioba, bairro operário que foi por muitos anos um ponto cultural do município.
No entanto, tratando-se da memória coletiva, é difícil admitir a fugacidade e a seletividade das recordações.
Pouco se fala sobre as greves e crises em Carioba, sobre as questões trabalhistas nas fábricas de tecido ou então sobre o aspecto historicamente político do apagamento de rastros com a demolição de todas as casas dos operários.
Entre o imenso saudosismo dos relatos pessoais, nota-se a ausência do crivo crítico tão necessário na construção de narrativas históricas sobre o passado cariobense.
Além disso, fica evidente a desconsideração de processos e atores que interviram na constituição das memórias coletivas.
Desse modo, há muitas narrativas a serem revisitadas sobre a princesa tecelã do interior do Estado de São Paulo, principalmente as que permeiam relações de poder imbricadas na escrita da história da cidade.
É necessário, no entanto, relacioná-las e conectá-las ao complexo contexto nacional e mundial em que ditaduras se consolidaram, guerras aconteceram, entre outros processos políticos e ordens sociais que se alteraram.
Nesse sentido, o olhar ao passado deve ser mais apurado, pois entre as tantas histórias saudosas de momentos gloriosos, encontra-se um abismo que separa as mais profundas e turbulentas relações na sociedade americanense no presente.
*Mariana Spaulucci Feltrin é membro do grupo Historiadores Independentes de Carioba, dedicado à pesquisa histórica sobre Americana
Blog abastecido pelo grupo Historiadores Independentes de Carioba, que se dedica à pesquisa histórica sobre Americana.