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Artigos de leitores

Dos tempos modernos

Por Katya Forti

25 de março de 2021, às 09h35

De geração em geração eis que uma teimosia se repete: não dar ouvidos aos que nos antecederam. Passamos dias e noites com a sensação que, de uma hora para outra, uma bomba será acionada colocando, em milésimos de segundo, tudo pelos ares. E com este pensamento, entregamo-nos à rotina massacrante que nos tolda a visão e nos impede de admirar o belo.

Em alguns instantes de lucidez ecoa em nosso cérebro a frase profética: “Amanhã pode ser tarde”. E pode mesmo. Talvez como uma tentativa de amenizar o estresse que abate os seres que tentam sobreviver nesta selva de concreto, deparamo-nos com histórias e fatos reais de pessoas que encontraram um outro sentido para suas vidas após terem, literalmente, nascido de novo.

E tais depoimentos, do ponto de vista psicológico, acabam proporcionando outras possiblidades de entendimento, devolvendo bom ânimo. Aos que hoje veem uma formiga andando no chão e sem pensar duas vezes pisam em cima, deixando evidente sua irritabilidade. E ainda são capazes de dizer: “Uma formiga a menos no formigueiro. Mais espaço lá dentro”.

E neste contexto o que dizer dos afetos? Entre quatro paredes então, instala-se o caos. “Não tenho tempo” “Agora não dá”. “Depois a gente conversa, vai”. O mesmo se dá com as amizades. E de algum modo se acentua, como sinal dos tempos modernos, em que a pandemia nos sufoca e nos impede de expressar afetividade com um abraço repleto de carinho.

Na tentativa de amenizar um pouco a saudade, fazemos um monólogo tedioso com o “tum tum” do telefone e com a caixa postal do celular. Fingindo ter alguém do outro lado da linha, dizemos: “Amanhã pode ser tarde, para dizer que eu te amo. Espero que você não apague esse recado”. “Tum, tum, tum, tum”.

Katya Forti é pedagoga e autora

Colaboração

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