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Covid-19

‘Esgotamento faz pessoas se colocarem em risco’, diz psicólogo de Hortolândia

Richard Lima de Barros, que atua na linha de frente do combate a Covid-19, acredita que o descumprimento do isolamento surge de um cansaço da população

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06 de julho de 2020, às 08h00 • Última atualização em 06 de julho de 2020, às 09h01

O número de casos do novo coronavírus (Covid-19) em Hortolândia mais do que triplicou entre maio e junho em Hortolândia, saltando de 154 para 571 ao final do mês passado. Para o psicólogo Richard Lima de Barros, que faz parte do grupo de apoio aos profissionais da linha de frente no combate a pandemia, essa evolução no contágio tem relação com o esgotamento vivido pela população.

Richard atua também nas UBSs São Jorge e Parque do Horto – Foto: Divulgação

Desde março, o Estado de São Paulo entrou em quarentena para tentar evitar a disseminação do vírus. São mais de 100 dias de quarentena.

Enquanto o período de confinamento avançava, o comportamento dos moradores de Hortolândia e região foi relaxando quanto aos cuidados para evitar a propagação do vírus. Nas últimas semanas, a Guarda Municipal flagrou aglomerações em espaços públicos e a realização de festas para centenas de pessoas.

“Você sabe que permanecerá por muito tempo repetindo uma coisa que você não aguenta mais. Esse esgotamento fez com que muitas pessoas se colocassem em risco, tentassem a transgressão do distanciamento e, infelizmente, por esse momento temos percebido um aumento da transmissão de pacientes sintomáticos”, afirmou Richard Lima de Barros em entrevista ao LIBERAL.

Para Richard, o psicológico das pessoas, principalmente aquelas que já possuíam um quadro de depressão ou ansiedade, tem se agravado neste período. Por isso, a prefeitura criou um serviço de atendimento psicológico gratuito por telefone.

Inicialmente implantado para auxiliar os profissionais da saúde, o serviço foi ampliado para que todos os moradores da cidade pudessem solicitá-lo. Até o último dia 29, foram 222 atendimentos realizados, segundo dados divulgados pela administração.

“Tenho recebido mais pessoas com idade intermediária, entre 30 e 50 anos. A maioria são casos que tecem sobre as dificuldades do isolamento, o aumento das questões ociosas e depressivas e, infelizmente, casos de crise, queixas sobre dificuldade financeira e os impactos disso”, detalhou.

Os profissionais atendem os pacientes por telefone e também via WhatsApp. A ficha cadastral preserva o sigilo do paciente. “A ideia é de um atendimento emergencial breve. Orientações pontuais em situação de risco, agravamento de episódios depressivos, crises de ansiedade, inclusive o manejo em situações de risco de vida. Pessoas sofrendo violência doméstica, tentativa de suicídio”, detalhou o psicólogo.

Richard revela que tem crescido as queixas das mulheres sobre episódios de violência doméstica e também no manejo do ambiente familiar com os filhos o tempo todo em casa, já que as escolas ainda não estão funcionando.

“Pela primeira vez todo mundo esteve de cara com as suas escolhas. Como escolheu construir sua vida, como escolheu construir sua família, como construiu o cuidado com a educação dos filhos. A gente tem vivido questões que atravessam o sujeito no seu modo de existir. Ele tem que lidar com questões inéditas”, pontua.

Para o psicológo, esse esgotamento da população vai aos poucos se misturando com o luto, já que a pandemia vai ganhando nome e rostos à medida em que os casos avançam por todas regiões.

“Recebi uma ligação de uma mulher que havia perdido o pai na noite anterior, em decorrência da Covid-19. Ela relatava que a família toda, que estava em outra cidade, estava adoecida e alguns com muita resistência para procurar ajuda. Ela tinha a sensação de muita angústia, de que outras pessoas da sua família pudessem morrer”, relatou o psicólogo.

Para ter acesso ao atendimento psicológico realizado pela Prefeitura de Hortolândia, basta entrar em contato pelos telefones (19) 99684-9605 e (19) 99782-4306. O serviço funciona de segunda à sexta-feira, das 7h às 19h.

Podcast Além da Capa
Por quais razões a recomendação de manter o isolamento social permanece como a maneira mais difundida no combate ao novo coronavírus, mesmo com mais de 100 dias de quarentena e com a retomada da produção econômica em curso? É o que discute essa edição do podcast “Além da Capa”. Ouça:

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