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EDUCAÇÃO

Escolas fecham cerco contra uso de celular e aumentam restrições em Americana

Educadores tentam estimular a interação entre alunos, vista como importante no período escolar

Por Ana Carolina Leal

11 de fevereiro de 2024, às 08h00 • Última atualização em 11 de fevereiro de 2024, às 08h01

No Instituto Educacional Americana, celulares de alunos têm espaço reservado - Foto: JP/Instituto Educacional Americana

A exemplo do que vem acontecendo em outras regiões do País, escolas públicas e particulares de Americana aumentaram a restrição do uso do celular na volta às aulas.

O LIBERAL conversou com ao menos cinco colégios privados e um deles já baniu totalmente o aparelho nas dependências da instituição. A medida tem sido adotada diante da discussão sobre efeitos nocivos para a saúde e o aprendizado.

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No Colégio Americana, o uso do aparelho dentro da escola foi vetado a partir deste ano. Até o ano passado, os alunos podiam usar na entrada e no recreio.

“A escola é um ambiente em que todas as crianças e adolescentes têm a oportunidade de interagir fisicamente com colegas da mesma idade, portanto, a intenção é valorizar a convivência e dizer não ao celular”, afirma a diretora Adriane Santarosa.

Ela diz que ao longo do ano, os professores nutrem os alunos com dados científicos de como são importantes o convívio e as trocas presenciais entre eles. Adriane, no entanto, afirma ser necessário realizar um trabalho de conscientização também junto às famílias.

“Muitas alegam que às vezes precisam falar urgente com os filhos e explicamos que é só ligar na escola que passamos o recado.”

No Colégio Antares, o uso do celular é proibido em sala de aula e no intervalo e, quando necessário, é feito sob orientação do professor e com fins pedagógicos.

“A utilização desenfreada e sem orientação é inimiga da aprendizagem, visto que tira atenção dos alunos. Entendemos que a estratégia de ensino é o estímulo ao cérebro que ocorre através da leitura, discussões, interações, desafios, escrita, exercícios e aulas bem construídas”, comenta Volnei Sacardo, diretor pedagógico da escola.

Claudia Presotto, coordenadora do ensino médio do Colégio Dom Bosco diz que o assunto é mais complexo do que se imagina porque não é só a preocupação com a concentração dos estudos, mas também o uso ético do aparelho. “É difícil para as escolas terem um respaldo das famílias no que se refere ao uso do celular, uma vez que elas mesmas proporcionam isso aos filhos”.

No Dom Bosco, por exemplo, é feito o uso de tablets, mas isso, segundo Claudia, não justifica a presença de celulares, que têm muitas distrações. “Também não podemos dizer que vamos dar conta de tudo. É irreal uma escola que dê conta do celular de todos os alunos porque eles usam escondido, por mais que se fiscalize. É um desafio crescente e a gente segue no sentido de conscientizar os alunos de que esse uso é prejudicial para eles mesmos”.

No Colégio Americana, onde o celular foi vetado, intervalo é espaço para interação entre alunos – Foto: Claudeci Junior/Liberal

Carla Giatti Miranda, diretora pedagógica do IEA (Instituto Educacional de Americana) diz que o uso não é proibido, mas existem regras que precisam ser seguidas diariamente. “É liberado nos momentos de entrada, saída e intervalo. Em sala de aula, o celular precisa ficar guardado na mochila ou na colmeia [porta-celular que fica na mesa do professor]”, explica.

Ela diz ainda que os alunos são sempre alertados em relação ao uso em exagero, que pode provocar distração, queda no rendimento escolar e diminuição na interação e convívio.

Situação semelhante é compartilhada pelo Colégio Objetivo. Segundo a diretora Mariza Pavan Stucchi, desde o primeiro dia de aula são estabelecidos limites para o uso dos celulares. No ensino fundamental 1, crianças de 6 a 10 anos, são orientadas a deixar o aparelho em casa. Para aqueles que estão no segundo nível do fundamental e no ensino médio, com idade entre 11 e 17 anos, é aconselhado o celular permanecer desligado e dentro das mochilas durante os horários de aula.

“Caso o estudante insista em atender o celular ou o utilize para jogos e acesso às redes sociais, os educadores orientam para que desligue e o guarde na mochila. Se a situação persistir, pode-se caracterizar uma transgressão às normas e regras regimentais da escola, podendo ser aplicadas medidas pedagógicas ou disciplinares”, destaca Mariza.

Como é nas escolas públicas

Na rede municipal de ensino, a Secretaria de Educação de Americana informou que o uso de celulares por estudantes nas escolas é vetado durante as aulas, a não ser com expressa autorização do professor ou em atividades pedagógicas orientadas pelo educador.

Já na rede estadual, a Seduc-SP (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo) afirmou que “o uso do celular em sala de aula é permitido exclusivamente para finalidades pedagógicas”.

A pasta esclareceu ainda que mantém restrito, desde fevereiro do ano passado, o acesso a aplicativos e plataformas sem fins educativos em salas de aula por meio da rede de internet cabeada e Wi-Fi nas escolas.

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De acordo com Lucio França Teles, professor titular da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília), pesquisas apontam que o uso do celular pelas crianças pode ter impactos negativos físicos, psicológicos e sociais.

“Mesmo fora da sala de aula, crianças usam o celular nos recreios e se isolam dos colegas e de atividades físicas como correr, jogar bola e outras”, comenta.

Lucio ressalta ainda que o uso de celulares em sala pode desviar a atenção dos estudantes para atividades não relacionadas ao conteúdo sendo abordado pelo professor. Esta distração pode impactar negativamente o processo de aprendizagem.

Em dezembro, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes) divulgou dados alarmantes, entre os quais o de que 65% dos alunos de 15 anos nos países pesquisados relataram que se distraem nas aulas de matemática com o celular.

No Brasil, a média é ainda maior, chegando a 80%. Quase a metade (45%) dos estudantes disse se sentir nervosa ou ansiosa quando está longe do celular.

De acordo com o professor da UnB, estudos sobre o uso de celulares na sala de aula também indicam uma correlação entre o tempo gasto nos dispositivos e problemas comportamentais, como falta de atenção e hiperatividade.

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“Esses efeitos adversos se intensificaram durante a pandemia, quando as escolas incentivaram o uso de computadores, tablets e celulares para acesso ao material de estudo e realização das tarefas escolares”, comenta.

Além dos impactos no ambiente escolar, o uso excessivo de celulares pode gerar consequências fora da escola, como insônia, ansiedade, depressão e dependência tecnológica.

Prefeitura do Rio de Janeiro baniu celulares nas escolas municipais

No início deste mês, a Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou, por meio de decreto, a proibição do uso de celulares e dispositivos eletrônicos em escolas públicas municipais. A medida abrange tanto o uso dentro das salas de aula quanto em áreas comuns durante o período escolar, incluindo os intervalos.

A decisão de proibir o uso de celulares foi motivada por três fatores, conforme explicou o pediatra Daniel Becker, que participou ativamente das deliberações da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro.

Em primeiro lugar, ele destacou que o uso excessivo de celulares atrapalha o aprendizado das crianças, pois os dispositivos são viciantes e causam distração. Estudos demonstram que quanto mais próximo o celular está do aluno durante as aulas, menos ele absorve o conteúdo ensinado.

Além disso, o pediatra enfatizou a importância do recreio como um momento fundamental para o desenvolvimento infantil, especialmente para os alunos mais jovens. De acordo com ele, é durante o intervalo que as crianças têm a oportunidade de se movimentar, brincar e interagir umas com as outras, desenvolvendo habilidades sociais essenciais, como empatia, resolução de conflitos e colaboração.

Por fim, Becker argumentou que é preciso viver no mundo real e a criança, do lado de fora da escola, vive o tempo todo em contato com a tela. “A escola, como é um espaço regulamentado, é um lugar onde a gente pode deixar a criança sem celular, em contato com a vida, com o mundo real, com os objetos, com o outro, com o brincar”.

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