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Leilões do Diego

Novos acordos em ação podem render R$ 6,8 mi em dívidas para a prefeitura

Após locadora de veículos conseguir se livrar de processo, três réus buscam negociação para evitar julgamento por improbidade

Por João Colosalle

06 de junho de 2021, às 07h58

Depois de concordar com um acordo que pode lhe render R$ 8,1 milhões em cobranças, a Prefeitura de Americana agora está diante da possibilidade de novas dívidas milionárias em novos acordos que estão sob discussão.
No mês passado, o LIBERAL revelou um acordo da locadora de veículos Comercial Germânica com o Ministério Público no âmbito de uma ação de improbidade sobre o que ficou conhecido como “leilões do Diego”.

Entre 2011 e 2013, o governo de Diego De Nadai vendeu 71 imóveis municipais para fornecedores que tinham dívidas a receber ou para pessoas ligadas a eles. Os leilões, entretanto, tinham uma peculiaridade: havia coincidência entre a compra dos imóveis e o pagamento das dívidas por parte da administração.

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Após uma apuração da câmara, o MP processou, em 2016, o ex-prefeito e os compradores das áreas, alegando irregularidades no procedimento. No total, as 71 áreas foram arrematadas por R$ 37,2 milhões, segundo a ação do MP.

No ano passado, a Comercial Germânica negociou um acordo que a livrasse da ação de improbidade. Em janeiro, o acordo de não persecução cível foi homologado. Para se livrar da possibilidade de ser condenada por improbidade, a empresa aceitou devolver três terrenos arrematados, perder os tributos pagos por eles – cerca de R$ 923 mil – e pagar multa de R$ 300 mil.

Por outro lado, ganhou o direito de cobrar a dívida que havia sido “paga” pelo governo com a venda das áreas e os valores pagos a mais nos leilões. No total, a Comercial Germânica poderá cobrar cerca de R$ 8,1 milhões da prefeitura.

Após a informação do acordo da locadora, outros três réus manifestaram, em março, interesse em negociar uma forma de não serem julgados por improbidade – a empresa Gramacon, o contador Helenilto Aureliano Pontes e o escritório Advocacia José Silva, de São Paulo. A Gramacon arrematou três terrenos avaliados em R$ 4,9 milhões. A entrada de R$ 2,4 milhões foi paga no mesmo dia em que a prefeitura repassou o mesmo valor a título de pagamento de dívida à empresa.

Ligado ao escritório de advocacia José Silva, Helenilto arrematou um imóvel, em 2014, no valor de R$ 1,8 milhão. Era ele quem assinava o contrato firmado pelo escritório com a prefeitura, para a prestação de serviços de modelagem jurídica de operações financeiras. Ao mesmo tempo em que pagava as parcelas da área, a prefeitura pagava dívidas com o escritório. Para o MP, Helenilto funcionou como “testa de ferro” no leilão.

A discussão de novos acordos, se nos mesmos moldes do firmado com a Comercial Germânica, pode levar os três réus a terem de volta o direito de cobrar as dívidas que tinham a receber da prefeitura na época dos leilões. Somados os gastos da Gramacon, de Helenilto e do escritório, são cerca de R$ 6,8 milhões.

Questionada sobre as negociações do acordo, a Gramacon preferiu não se manifestar. O LIBERAL não teve resposta do escritório de advocacia, de Helenilto e do Ministério Público.

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Contradição
Durante a negociação do acordo da Germânica, uma das preocupações da Prefeitura de Americana era justamente com o retorno da dívida para os cofres do município. Em uma manifestação em outubro na ação de improbidade, para esclarecer sobre condições iniciais para o acordo, a Secretaria de Negócios Jurídicos citou o alto estoque de precatórios, anexando um gráfico que mostra que os débitos com condenações judiciais cresceram de R$ 59,9 milhões para R$ 179,4 milhões entre 2015 e 2020.

O documento trazia ainda uma previsão de R$ 238,3 milhões em precatórios para este ano e alertava para o fato de o município ter aderido ao regime no qual é obrigado a destinar uma parcela proporcional de sua receita corrente líquida mensal para o pagamento das condenações. Em curto prazo, ponderou a secretaria, um aumento nos precatórios poderia provocar problemas no fluxo de caixa da administração municipal.

“O município manifesta-se aqui para informar que concorda com a formalização dos acordos na forma proposta pelo MP, deixando claro que não aceita apenas o restabelecimento dos débitos em relação a qualquer das empresas que formalizarem acordo”, afirma o documento.

Apesar da posição da prefeitura, não foi o que ocorreu na negociação com a Germânica. No acordo homologado pela Justiça, o município concordou em reconhecer de volta as obrigações contratuais que tinha com a locadora e os valores que devia a ela na época do leilão, bem como a possibilidade de ser cobrado pelos gastos a mais da empresa na compra dos terrenos.

Questionada sobre a contradição, a Secretaria de Negócios Jurídicos informou que não comentaria porque a atual administração não participou das negociações. A reportagem também questionou a secretária de Fazenda de Americana, Simone Inácio de França Bruno, durante a audiência de metas fiscais realizada no dia 26 de maio, na câmara. Ela reconheceu o retorno da dívida, mas considerou o caso como pontual.

“Não vou entrar no mérito, mas acredito que a Secretaria de Negócios Jurídicos vai analisar se houver algum outro tipo de interesse, dentro do que for legal e do que for benéfico para todos os munícipes. Neste caso específico, a dívida voltou para o município, mas ela também vai ser discutida judicialmente”, comentou a secretária.

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