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Política

Bolsonaro descumpre ordem de Moraes, que nega recurso; PF vê violação de sigilo

PF concluiu que Bolsonaro cometeu crime de violação de sigilo funcional ao vazar dados de uma diligência em curso

Por Agência Estado

29 de janeiro de 2022, às 08h05 • Última atualização em 29 de janeiro de 2022, às 08h33

O presidente Jair Bolsonaro desobedeceu a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e não compareceu ontem à sede da Polícia Federal para prestar depoimento no inquérito que apura o vazamento de investigação sobre ataque hacker ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A ausência de Bolsonaro reabriu a crise entre o Palácio do Planalto e o Supremo. Moraes negou o recurso do presidente para não depor, apresentado na última hora pela Advocacia-Geral da União (AGU).

A PF concluiu que Bolsonaro cometeu crime de violação de sigilo funcional ao vazar dados de uma diligência em curso. A delegada Denisse Dias Rosa Ribeiro encaminhou relatório a Moraes e afirmou que só não indiciou o presidente porque seria preciso autorização da Corte, uma vez que o chefe do Executivo tem foro (mais informações nesta página).

A AGU sustentou que os documentos não estavam sob sigilo à época em que foram divulgados por Bolsonaro durante transmissão ao vivo nas redes sociais, em agosto do ano passado. Na live, o presidente lançou dúvidas sobre credibilidade das urnas eletrônicas, embora o ataque hacker não tivesse relação com isso.

Prazo

O ministro da AGU, Bruno Bianco, chegou a ir à superintendência da PF, no lugar de Bolsonaro. Bianco solicitou que o presidente não fosse ouvido até que o plenário do STF se reunisse para avaliar a decisão de Moraes, mas o magistrado rejeitou o pedido, sob o argumento de que o prazo para esse tipo de questionamento terminou em dezembro. Moraes determinou, ainda, que o depoimento de Bolsonaro seja mantido, mas não especificou nova data.

Há, no STF, a avaliação de que o impasse pode perdurar, alimentando a crise institucional. Ministros ouvidos pelo Estadão disseram, sob reserva, ser preciso agir com cautela para que Bolsonaro não saia como vítima desse episódio. Para uma ala da Corte, o imbróglio provocou desgaste desnecessário entre os Poderes no início de ano eleitoral. Por esse entendimento, Moraes não precisava “esticar a corda”.

Após o presidente faltar ao depoimento, a hasthag #BolsonaroArregao ganhou destaque nas redes sociais e adversários não pouparam ataques a ele. “A nação deve acompanhar com o máximo de atenção o desenrolar da nova crise institucional criada por Bolsonaro que decidiu confrontar, de forma irresponsável e autoritária, uma decisão do STF”, escreveu no Twitter o presidenciável do PDT, Ciro Gomes.

Bolsonaro é alvo de cinco inquéritos – quatro no STF e um no TSE. A decisão de ignorar a determinação de Moraes foi tomada na manhã de ontem, em reunião com seleto grupo de ministros. Ao não comparecer à PF, o presidente cumpriu promessa feita a milhares de apoiadores nas manifestações antidemocráticas de 7 de setembro, em São Paulo, quando disse que não acataria ordens de Moraes. Na ocasião, Bolsonaro chamou o ministro de “canalha”.

Fim da trégua

Dois dias depois, Bolsonaro recuou e divulgou uma “Declaração à Nação”, escrita com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, na qual afirmava que suas palavras haviam sido ditas no calor do momento. A trégua, no entanto, chegou ao fim no último dia 12, quando Bolsonaro atacou Moraes e Luís Roberto Barroso, presidente do TSE. O chefe do Executivo acusou os dois magistrados de cassar “liberdades democráticas” para beneficiar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto.

O professor de Direito Penal Thiago Bottino, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), disse que resta agora à AGU apresentar pedido de habeas corpus contra a decisão de Moraes. A AGU poderia direcionar sua demanda para o gabinete de outro magistrado.

Bolsonaro não pode ser conduzido coercitivamente para depor. Em 2018, o STF proibiu a condução obrigatória de réus e investigados para prestar esclarecimentos. A AGU se ampara ainda no precedente criado pelo Senado, em 2016, quando foi aprovado o descumprimento da decisão proferida pelo então ministro Marco Aurélio Mello, que obrigava o afastamento de Renan Calheiros (MDB-AL) da presidência da Casa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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