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Revista L

Mercado muda e cria novas funções

Para especialistas é preciso deixar o modelo de educação que se conhece para trás e preparar alunos com novas habilidades para solucionar problemas

Por Danilo Reenlsober

09 de novembro de 2019, às 08h44

A tecnologia é irrefreável e traz todo um novo mundo de possibilidades. Quem imaginaria, há poucos anos, serviços como o de transporte por aplicativo ou de streaming de vídeo, que hoje fazem parte do dia a dia? Entretanto, a mesma tecnologia que cria novas experiências também pode ser o estopim para uma crise: segundo pesquisa da consultoria McKinsey, os robôs substituirão entre 400 e 800 milhões de empregos até 2030 por meio da automatização.

No meio desse processo evolutivo, ainda um tanto desconhecido, estão os jovens. Especialistas ouvidos pela Revista L entendem que é necessário mudar os rumos da educação e a atuação de professores desde já, para que os estudantes não cheguem ao mercado despreparados. Para eles, o futuro da educação tem que começar agora para que esses profissionais saibam lidar com as novas profissões.

Foto: Pixabay
Segundo pesquisa, os robôs substituirão entre 400 e 800 milhões de empregos até 2030, por meio da automatização, e jovens precisam se preparar

“O mundo está passando por uma grande transformação que vai mudar a forma de trabalho do homem, de produção e de consumo. E essa mudança tem um papel fundamental para se pensar a educação”, avalia Ericka Vitta, diretora do NEI (Núcleo de Educação Integrada) da Fundação Romi, de Santa Bárbara d’Oeste.

“Há pesquisas que mostram que daqui 10 anos, 40% das profissões estarão extintas e outras tantas surgirão. Mas essas novas estão ligadas à tecnologia e a resolução dos problemas. A educação hoje não está mais atendendo a demanda social atual, muito menos as demandas que estão por vir”.

Educação 4.0

De acordo com Ericka, mestre em Educação e Tecnologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e com especialização em Aprendizagem Cooperativa e Tecnologia Educacional pela UCB (Universidade Católica de Brasília), para um mercado de trabalho cada vez mais tecnológico – chamado por muitos teóricos como a 4ª revolução industrial – é necessária uma educação que acompanhe esse ritmo de inovação.

“A escola está focada no modelo de educação do século 19, na reprodução de conhecimento e informação, trabalhando pouco com as competências socioemocionais”. Segundo ela, a educação 4.0 prevê uma ressignificação do ensino, fortalecendo essas habilidades socioemocionais e buscando soluções conjuntas para problemas reais. “Eu preciso fazer com que esse aluno seja levado a pesquisar e motivado a resolver problemas, e essas coisas a escola atual não faz”, cita Ericka.

Oportunidades inovadoras

Relatório produzido pela consultoria McKinsey Global Institute e divulgado em 2017, aponta que entre 400 e 800 milhões de profissionais ao redor do mundo vão perder seus empregos até 2030 devido à automação e a robótica. O estudo analisou 800 profissões em 46 países e constatou que até um terço dos trabalhos atuais estará automatizado em 13 anos. Diz a pesquisa que países desenvolvidos, como EUA, Japão e Alemanha, serão os principais afetados pelo avanço da automação, atingindo 20% dos profissionais.

No Brasil, o relatório aponta que o percentual de automação deve afetar 15% dos profissionais. Independentemente do país, porém, a consultoria alerta que todos os profissionais precisarão se adaptar a um cenário com novas tecnologias, robôs e inteligência artificial em diversas áreas.

“Todos precisarão se adaptar à medida que suas ocupações forem sofrendo a influência das máquinas. Algumas pessoas poderão fazer isso por meio de uma educação melhor. Outras precisarão gastar mais tempo em atividades que exigem habilidades emocionais e sociais, criatividade, alto nível de capacidade cognitiva e habilidades que são difíceis de os robôs replicarem”, diz o estudo.

O mesmo relatório projeta, no entanto, que novos empregos serão criados indiretamente a partir da tecnologia. Até 2030, a consultoria projeta que trabalhos relacionados ao desenvolvimento e implantação da automação e robótica possam criar de 20 a 50 milhões de empregos em todo o mundo.

Programação e robótica

Embora a tecnologia prometa acabar com uma série de postos de trabalho, ela também deve criar toda uma nova leva de profissões, muitas delas relacionadas, por exemplo, à programação e robótica. Para Fábio Kawakami, diretor administrativo do colégio Anglo Cezanne, de Americana, ainda não é possível apontar, no entanto, quais serão essas profissões. “Estamos num cenário em que muitas profissões vão surgir, mas a gente ainda não sabe quais serão essas profissões específicas”, explica.

“Por isso é importante garantir e focar nas chamadas habilidades do século 21, que são muito relacionadas à lógica, criatividade, autonomia e resiliência”, complementa. Para que os jovens de hoje tenham sucesso amanhã, as escolas precisam focar na preparação dos profissionais de educação o quanto antes.

“A gente vive esse momento de transformação e isso envolve, claro, os professores. Por isso, antes de tudo é preciso formar os profissionais para esses novos métodos de ensino, já que eles trabalharam há muito tempo em um outro modelo.

Essa é uma mudança gradual e lenta, no entanto”, enfatiza Fábio. Para o especialista, um dos grandes desafios é justamente essa mudança de cultura educacional, passando de um modelo visto como ultrapassado por muitos teóricos para um método que trabalha o conhecimento de forma interdisciplinar e sistêmica. “A escola é do jeito que é há séculos. Mudar essa cultura vai gerar alguns traumas e não é algo rápido. Não é uma mudança a curto prazo”, analisa.

Segundo Fábio, a escola do futuro deve colocar o aluno como protagonista do processo de aprendizagem. “O professor não deve mais ser visto como aquela pessoa dona da informação, uma vez que essa informação está no celular. O papel dele e da escola, hoje, é muito mais de moldar o jovem para ele se tornar alguém capaz de resolver problemas, aprender sozinho e resolver desafios, sejam eles quais forem, para que, quando chegarmos a um cenário em que essas novas profissões estejam mais bem definidas, esse profissional tenha capacidade de resolver, seja qual for esse problema”.

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