26 de julho de 2024 Atualizado 20:37

Notícias em Americana e região

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

PAIS & FILHOS

Entenda como conflitos na infância refletem na vida adulta

Psicólogas explicam que traumas nos primeiros anos de vida deixam marcas e repercutem ao longo da vida

Por Isabella Holouka

28 de novembro de 2022, às 05h46 • Última atualização em 28 de novembro de 2022, às 10h33

Experiências carregadas de emoções mais intensas, onde não se consegue lidar naquele momento, tendem a deixar marcas e repercutir ao longo da vida - Foto: Pixabay

Diante de desentendimentos ou situações fora de controle, qual a importância de cada acontecimento da infância para a formação de um ser humano. Será que as crianças conseguem lembrar episódios desagradáveis, envolvendo falhas dos pais ou cuidadores? Guardam mágoas? E mesmo que elas não se lembrem no futuro, existem consequências?

As psicólogas Mariana Biffi e Luiza Domingues, idealizadoras do espaço de desenvolvimento humano A Casa da Vida, em Piracicaba, explicam que as relações estabelecidas nos primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento humano, e este é um bom motivo para priorizar uma infância mais acolhedora e menos rígida. Elas também indicam a psicoterapia ou atividades terapêuticas para auxiliar no cuidado de marcas de experiências do passado.

Luiza Domingues lembra que está na infância a base de quem todos nós seremos na vida adulta. “O ser humano se estrutura emocionalmente na infância. É através da maneira como a criança aprende a se vincular, a experimentar o mundo e também da maneira que entende seu papel na família que ela irá se estruturar emocionalmente como adulto”, explica.

Considerando que, na infância, construímos gradualmente quem somos e como nos relacionamos com as outras pessoas, a psicóloga Mariana Biffi afirma que as experiências traumáticas – carregadas de emoções mais intensas do que o sujeito consegue lidar naquele momento – tendem a deixar marcas e repercutir ao longo da vida. Por isso, ela sugere um olhar mais afinado para a infância, visando a construção de relações e de uma sociedade mais acolhedora e compassiva. 

“Temos uma herança de formas de cuidado rígidas com as crianças, em que a punição ganha bastante espaço e as emoções, nem tanto. Ainda ouvimos que ‘criança ainda não entende’, mas, pelo contrário, a criança, desde bebê, está construindo suas formas de compreender o outro e a si mesma. Quanto mais pudemos oferecer esse olhar cuidadoso, mediar as experiências infantis, falar sobre as emoções, compreender a imaturidade e suas necessidades, estaremos contribuindo para seres humanos saudáveis e fortalecidos emocionalmente”, disserta.

Contudo, apesar da preocupação em proporcionar boas experiências e relacionamentos, pais e cuidadores precisam apresentar limites. “A importância dos pais serem pais e filhos serem filhos é fundamental. Não podemos perder de vista a imaturidade da criança. Precisamos ter clareza em nossas decisões e escolhas que ela é ou não capaz de fazer. Podemos ser acolhedores, assertivos, e ainda assim apresentar importantes limites estruturantes para a personalidade da criança e para suas relações”, orienta.

CUIDANDO DAS FERIDAS. Após um desentendimento com os filhos, quando o perdão de uma das partes é preciso, é essencial ter em mente que perdoar não significa esquecer, afirma a psicóloga Mariana. Ela orienta que os envolvidos reconheçam as experiências, seus impactos e o que se torna possível a partir disso. Além deste olhar para o interior, é importante compreendermos que as outras pessoas nunca corresponderão plenamente com o que desejamos que elas sejam. 

Segundo ela, no momento em que há compreensão sobre isso, se torna mais possível estabelecer relações mais maduras e que comportam as emoções, desconfortos e possibilidades de cuidado destes vínculos – inclusive com as crianças e adolescentes.

A psicóloga Luiza lembra que, apesar de as bases para a estruturas emocionais dos adultos estarem na infância, somos seres mutáveis. “Já sabemos pela neurociência que temos plasticidade neurológica. Porém, para mudar, temos que dedicar algum esforço para isso”, ressalta.

“Nossa história vai compondo quem somos, mas isso não significa que estamos destinados a sofrer na vida adulta. Não é bem assim! O olhar para nosso mundo emocional, via psicoterapia ou tantas outras atividades terapêuticas, pode auxiliar e contribuir nesse percurso em que descobrimos novas formas de ser e estar no mundo, lidando com as dores e impactos que as experiências passadas deixaram”, completa Mariana. 

Publicidade