Glórias do Tigre
Rio Branco comemora 100 anos do bicampeonato do Interior
Vitória sobre o Sorocabano, em 10 de fevereiro de 1924, deu o segundo título consecutivo ao Tigre da então Vila Americana
Por Gabriel Pitor
10 de fevereiro de 2024, às 08h10 • Última atualização em 10 de fevereiro de 2024, às 10h09
Link da matéria: https://liberal.com.br/esporte/esportes-da-regiao/rio-branco-comemora-100-anos-do-bicampeonato-do-interior-2112716/
Americana ainda era uma vila e distrito de paz de Campinas em 1921, quando o Rio Branco resolveu se aventurar no Campeonato do Interior, organizado pela Associação Paulista de Esportes Atléticos. Naquela época, o torneio estadual era dividido em duas partes: o Campeonato da Capital, disputado por times da cidade de São Paulo, e o Campeonato do Interior, dividido em regiões por meio das linhas de trem.
Era por meio da ferrovia que os times interioranos viajavam para enfrentar os seus adversários. Dependendo do destino, a jornada poderia demorar alguns dias. As dificuldades eram grandes, porque o futebol era amador e os atletas geralmente tinham outros trabalhos, então precisavam bancar os custos para jogar.
“Os jogadores tinham suas profissões e se reuniam uma ou duas vezes por semana para fazer uma corrida por Americana. Essa era a preparação física. Festas, quermesses, piqueniques… Tudo era organizado para cobrir os custos que o clube tinha”, contou Claudio Gioria, pesquisador do Tigre.
Disputar o Campeonato do Interior significava dar um passo adiante e se colocar à frente das equipes vazeanas que pipocavam pelo Estado. Foi isso que o Rio Branco fez em 1921, mas não conseguiu chegar ao título devido à forte equipe do Paulista de Jundiaí.
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Nos anos seguintes, por sua vez, o Alvinegro americanense mostrou a que veio. O Paulista era apontado como a equipe mais forte do interior, já que na campanha de 1921 massacrou XV de Piracicaba e Taubaté por 11 a 0 e 11 a 1, respectivamente. O ataque era o ponto forte do Galo da Japi e o maior desafio para o Tigre chegar à fase final.
Porém, em 1922, o Rio Branco desbancou pela primeira vez o rival jundiaiense e o Rio Claro antes de chegar à fase final e levar o primeiro título do interior, após triunfo em São Paulo por 2 a 1 sobre o Taubaté, que carregava a fama de ter sido o primeiro campeão do interior, em 1918.
Já em 1923, o Tigre tinha de enfrentar o temor dos adversários. Com uma defesa que sofria pouquíssimos gols para a época, conseguiu passar da fase regional ao superar adversários como Ponte Preta, Guarani, Inter de Limeira e o atual arquirrival União Barbarense.
Na fase final, o Paulista de Jundiaí esteve no caminho de novo, mas o Alvinegro venceu por 1 a 0 e iniciou a caminhada que levou ao bicampeonato do Interior contra o Sorocabano, em jogo realizado na capital e que terminou em 0 a 0, no dia 10 de fevereiro de 1924 – os campeonatos atravessavam o ano -, portanto há 100 anos.
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“O grande líder era o médio Raphael Vitta, pai de Décio Vitta, que foi presidente e dá nome ao estádio. Seu irmão Alfredo, zagueiro, era outro líder daquela equipe, linha dura na preparação física dos jogadores. Augusto Américo e Albertino eram os dois principais jogadores de frente, enquanto Ditinho e Carabina eram os pilares do meio-campo em uma época em que se jogava no 2-3-5”, disse Gioria.
De acordo com relatos de atas do Rio Branco, na volta a Americana os atletas foram recepcionados com o Cinema Central lotado, onde cantaram o hino do clube. Cinco dias depois, a então diretoria do Alvinegro resolveu confeccionar medalhas de ouro para os jogadores.
Após as duas conquistas, o Rio Branco ganhou o direito de disputar a final estadual, chamada de Taça Competência. Em ambas as oportunidades, o Corinthians foi o adversário e saiu de campo como vencedor, com triunfos por 5 a 0 e 2 a 1.
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“Eu ouvia do meu pai [Aristides, goleiro do bicampeonato] que o Rio Branco vencia por 1 a 0 e o juiz meteu a mão e ajudou o Corinthians a ganhar por 2 a 1. Muita gente falava na época e continuou falando por anos”, afirmou Athos Pisoni, que também virou atleta, com direito a medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos do México de 1975, no tiro esportivo.
O jornal Estado de São Paulo da época corroborou a reclamação ao relatar o gol de empate do Corinthians. “Quando a bola, de posse do guardião do Rio Branco, transpôs a meta, o jogo estava suspenso, sendo, portanto, duvidosa a legimitidade”, escreveu.
Em setembro de 2021, a FPF (Federação Paulista de Futebol) passou a considerar os campeonatos do Interior de 1922 e 1923 como a segunda divisão estadual. O Tigre, então, se tornou bicampeão da Série A2, iniciativa que teve discordâncias de pesquisadores.