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LIBERAL, 70

Marcadas por reflexão e humor, charges se adaptam à atualidade

Com críticas e situações cotidianas, conteúdos foram atravessados por mudanças na redação do LIBERAL, evoluções tecnológicas e de pensamento

Por Isabella Holouka

01 de junho de 2022, às 10h09

Publicada em jornais, revistas e na internet, a charge costuma ser composta por uma única imagem de traços simples e mensagem direta, representando uma situação cotidiana em contexto exagerado e sem ponto final, com potencial para gerar reflexão com bom humor.

A linguagem satírica e interpretativa expõe diferentes perspectivas de um fato político, econômico ou comportamental e rende análises com múltiplas camadas, motivo pelo qual o conteúdo também marca presença nas salas de aula e vestibulares. A explicação é do quadrinista e professor de design e artes na PUC-Campinas, Paulo Kielwagen.

Chargista do LIBERAL desde 1989, o publicitário Carlos Reis, de 55 anos, morador de Americana, conta que o processo criativo diário começa com a maturação dos principais assuntos do dia, com foco nos acontecimentos locais.

Carlos Reis, chargista do LIBERAL desde 1989 – Foto: Claudeci Junior / O Liberal

“A charge não é algo que eu possa inventar, uma piada. Tentamos usar um tom de crítica apartidária e assuntos que precisam ser cutucados. É papel da charge criticar, levantar um assunto, criar uma polêmica, colocar a pessoa para pensar porque a charge está sendo feita desta forma, o que está acontecendo, olhar um problema de um ângulo diferente”, defende ele, que admite estar sujeito à interpretação dos leitores.

Reis conta produzir até três opções de charges para publicação no jornal diariamente. Hoje os conteúdos são feitos digitalmente desde o início e enviados para a Redação por e-mail, mas nem sempre foi fácil assim. No início, o chargista vivia em Santa Bárbara, onde produzia a charge no papel, e vinha até a sede do LIBERAL para entregá-la pessoalmente.

Naquela época, o principal colaborador de Reis era o editor e colunista Diógenes Gobbo. “Ele me ligava no final do dia, reunia os assuntos que achava interessante, conversávamos e ele me passava mais ou menos, às vezes a charge inteira, até o que seria escrito. Depois que ele faleceu, eu passei a fazer as charges sozinho, como faço até hoje”, conta.

Carlos Reis e uma das charges mais marcantes no LIBERAL: a morte de Ayrton Senna – Foto: Reprodução

Outra mudança observada com o passar das décadas é que hoje em dia nem toda piada é aceita e o chargista precisa se atentar às questões de raça e gênero. Para Kielwagen, isso é resultado de uma evolução do pensamento crítico da sociedade, visando a inclusão e a representatividade.

“Não queremos ofender o outro, queremos estabelecer um senso crítico, um humor, com cuidado onde pisamos exatamente para respeitar, não ser ofensivo ou gerar uma comoção desnecessária”, pontua.

O chargista Luiz Fernando Cazo, morador de Bauru (SP), de 40 anos e colaborador do LIBERAL desde 2010, contar ter se apaixonado pela linguagem das charges na leitura de jornais quando menino. Ele acredita que os conteúdos têm enorme poder de comunicação na sociedade imagética em que vivemos.

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“As pessoas muitas vezes não têm tempo para parar e ler um artigo muito elaborado sobre determinado assunto. Leem cada vez mais as manchetes das notícias, mas não leem as notícias. E a charge produz uma ideia, uma reflexão, e toma pouco tempo do leitor para ser entendida. Essa é a força da charge. O chargista propõe riso, reflexão e mensagem rápida. O ideal é que ela tenha sempre traços simples e o mínimo de diálogo possível, porque o impacto está no desenho, no visual”, afirma.

Cazo também pontua a temporalidade das charges, e o fato de que nem sempre é possível fazer humor com determinados acontecimentos. “A charge é uma crítica do momento. As charges não precisam ser necessariamente bem-humoradas, mas o objetivo do chargista deve ser tentar encontrar um lado bem-humorado a respeito de um determinado assunto”, finaliza.

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