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LIBERAL, 70

Coberturas marcantes: histórias da nossa história

Relembre eventos históricos das sete décadas do jornal LIBERAL, que sempre noticiou fatos relevantes da história de Americana e região

Por Marina Zanaki

01 de junho de 2022, às 07h23 • Última atualização em 01 de junho de 2022, às 11h57

As sete décadas do LIBERAL são feitas de histórias contadas diariamente no jornal. A postura combativa e o compromisso com a verdade marcaram essa trajetória, que coleciona uma série de coberturas marcantes. O jornal nasceu justamente de uma busca pela liberdade de expressão.

Presidente do Grupo Liberal, Jocelyna Medon Bianco, conhecida como Dona Joyce, recorda que o marido Jessyr Bianco escrevia artigos para o jornal “O Tempo”. “Mas se eram textos com críticas, vetavam. Então, eles queriam um jornal que pudesse transmitir o que escreviam”, conta a matricarca, sobre a motivação dos fundadores.

Americana cresceu com o LIBERAL. Na década de 1950, a cidade tinha pouco mais de 20 mil habitantes e a indústria têxtil começava a se destacar. Logo que foi lançado, em 1952, o jornal saiu em defesa da emancipação da cidade, sua primeira grande história.

Através de editoriais, pressionou o governo paulista, e revelou em reportagens irregularidades que atrasaram o processo. A luta chegou ao fim em 1° de janeiro de 1954, com a manchete “Concretizado afinal o velho sonho de Americana”, que anunciava a criação da comarca.

Na década seguinte, o LIBERAL se engajou em uma forte crítica à Empresa Telefônica Americana S/A, dos irmãos Antonio e Francisco Pinto Duarte. O LIBERAL denunciou irregularidades nas leis que provocaram aumento nas tarifas. Por conta das publicações e de uma coluna de humor que ironizava a situação, teve a Redação e a oficina invadidas e depredadas em 1° de agosto de 1960.

Redação e gráfica do LIBERAL foram depredadas em episódio de empastelamento – Foto: Arquivo / O Liberal

O episódio ficou conhecido como “empastelamento” do LIBERAL, termo usado quando um veículo de imprensa sofre um ataque contra sua liberdade de expressão e o jornal não é impresso. No ato violento, um funcionário foi agredido, os tipos foram espalhados e móveis quebrados. Os dois números seguintes do jornal foram impressos em uma gráfica de Nova Odessa.

REPRESSÃO. Durante a ditadura militar, o presidente Jessyr Bianco e o jornalista Diógenes Gobbo foram convocados várias vezes ao 5° G-Can, unidade militar de Campinas, para serem interrogados sobre reportagens e artigos. A cada depoimento, o receio de ser preso e torturado. Em 1966, o jornal chegou a ser impedido de circular pois a edição traria um texto com opinião contrária a um deputado do partido ligado aos militares, o Arena.

Entre 1971 e 1972, o então prefeito Abdo Najar era alvo de críticas pelo LIBERAL por várias de suas decisões. O chefe do Executivo atacava o jornal em rádios, e era respondido através de textos afiados de Jessyr Bianco. Incomodado com as réplicas, Najar denunciou Jessyr e Diógenes na Auditoria Militar.

Por conta disso, agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) estiveram em Americana para tomar depoimento da dupla, e pairou a ameaça de prisão. Ficou combinado que apenas Diógenes compareceria e que Jessyr ficaria na retaguarda, já que era advogado, para o caso de o jornalista ser preso. O diretor do Dops, Alcides Cintra, fichou Diógenes e tomou seu depoimento durante quase uma hora.

Após o interrogatório, o agente questionou o jornalista sobre o empresário Romeu Luchiari, o qual Diógenes respondeu que era uma “reserva moral da cidade”. Cintra era amigo de Luchiari, e declarou que havia se deslocado até Americana para visitá-lo.

Jessyr se deslocou até a capital paulista para o interrogatório, acompanhado de Luchiari em busca de mais segurança, e também foi liberado.

AGRESSÃO. O LIBERAL fez a cobertura do protesto da indústria têxtil contra a importação de tecidos chineses e coreanos, em 18 de maio de 1995. O ato culminou com um ato de violência da Tropa de Choque da Polícia Militar de Campinas, que jogou bombas de gás lacrimogêneo e agrediu os manifestantes para dispersar a mobilização, que acontecia na Rodovia Anhanguera. O jornalista Reginaldo Gonçalves, que acompanhava o ato, foi agredido.

“Do nada escutei ‘bate, bate, vamos dispersar’. E começaram a jogar bomba. Você não tinha para onde correr, se passasse pelo canteiro central ia ao encontro dos carros no outro sentido. Teve gente que caiu, cheguei a levar um pedaço de cassetete nas costas, mas teve gente que apanhou muito mais”, recorda o jornalista, hoje editor do LIBERAL.

Protesto em maio de 1995 ficou marcado pelas agressões – Foto: Arquivo / O Liberal

Reginaldo lembra que, quando soube do ocorrido, o então governador Mário Covas ligou na Redação para apurar com Diógenes a situação. Os dois haviam se conhecido no LIBERAL durante a campanha do político para deputado.

“Isso culminou com exoneração do responsável pelo policiamento em Campinas que tinha dado a autorização para bater no pessoal”, lembrou o editor.

EMBATES. No início dos anos 2000, o jornal se posicionou contrário à instalação da Termelétrica Carioba 2. O LIBERAL mostrou que o investimento milionário traria consequências ao meio ambiente e à comunidade. Após várias publicações, ficou comprovado que a termelétrica não era necessária. O assunto foi sepultado com a manchete “Carioba 2 morreu”, noticiada em 2003.

Em 2004, o jornal denunciou a compra de um tomógrafo sucateado pela Prefeitura de Americana para o Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi. O modelo vendido era obsoleto e foi alvo de investigações pelo Ministério Público e Polícia Civil. Como resultado da apuração, a empresa que vendeu o equipamento foi condenada a devolver o dinheiro, pagar multa e prestar serviços comunitários.

O LIBERAL publicou com exclusividade em 2010 suspeitas de irregularidades no programa Segundo Tempo, realizado em parceria da prefeitura com o Ministério do Esporte. O projeto foi investigado pelo MPF (Ministério Público Federal) por indícios de irregularidades no número de crianças atendidas, materiais utilizados e alimentação oferecida aos participantes. A apuração interrompeu o serviço e deu origem a uma investigação.

O MPF pediu a condenação dos envolvidos e a devolução de R$ 4,7 milhões ao Ministério do Esporte. A denúncia deu origem a quatro ações judiciais, que tramitam na Justiça Federal em Americana. Segundo o órgão informou em maio à reportagem, as ações estão na fase de apresentação de provas e convocação de testemunhas.

O ex-prefeito Diego De Nadai e o ex-vice prefeito Seme Calil tiveram o mandato cassado em maio de 2014 pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) após terem sido acusados de fazer “caixa 2” em sua campanha à prefeitura em 2012. O LIBERAL acompanhou o caso desde a denúncia, que apontava a distribuição de uma revista de alto custo com os feitos realizados no mandato anterior.

Os candidatos informaram que cada exemplar custou R$ 2, mas a gráfica emitiu nota no valor de R$ 4,66 por unidade. A Justiça Eleitoral considerou que foram gastos R$ 200 mil em recursos não comprovados na campanha. Diego conseguiu se manter no cargo por meio de recursos, mas em outubro daquele ano o TSE manteve a cassação mantida. 

MISSÃO. Por sua postura combativa, o jornal foi alvo de inúmeros processos. O próprio Jessyr Bianco, que também era advogado, foi processado diversas vezes. Foi condenado em apenas uma ocasião, por conta da cobertura da demolição do Casarão da família Antônio Zanaga. Ele teve os direitos políticos cassados e precisava notificar a Justiça sempre que deixasse Americana.

Em uma revisão do processo no Tribunal de Justiça, as irregularidades da demolição ficaram comprovadas e a pena foi anulada. Dona Joyce lembra que a condenação abateu Jessyr, mas não o fez desistir da missão de informar a verdade.

O lema “No coração e no espírito, compromisso com a verdade”, presente no cabeçalho do LIBERAL e que norteia a atuação da equipe até hoje, foi criado em 1952 por Jessyr Bianco para definir a missão do jornal, segundo dona Joyce. “Ele tinha paixão pelo jornal, era tudo na vida dele”, finalizou a presidente.

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