02 de maio de 2024 Atualizado 21:31

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Americana, 147 anos

Apesar da queda de movimento, comércio de Americana resiste

Queda no fluxo de pessoas no Calçadão voltou a ser discutida após anúncio de shopping; mudanças na Área Azul e Rua 24h são as apostas

Por Marina Zanaki

27 de agosto de 2022, às 08h27 • Última atualização em 27 de agosto de 2022, às 08h59

A descentralização e o comércio eletrônico afastaram consumidores da região central; lojistas também falam em dificuldades com a Área Azul - Foto: Marcelo Rocha - Liberal

“O Centro morreu”. Esse bordão é muito repetido quando a pauta é a diminuição no fluxo de pessoas no Calçadão de Americana. O anúncio do primeiro shopping da cidade reacendeu a discussão e voltou a chamar a atenção para a Área Azul, apontada por muitos como fator principal para a queda no fluxo do Centro.

Em um dia útil durante a semana, a reportagem do LIBERAL observou que o Centro fica realmente vazio em alguns momentos, mas em outros há uma rotatividade de público, seja apenas passando pelas ruas, seja entrando nas lojas.

“No período mais crítico da pandemia, eu estava como Diretor de Desenvolvimento Econômico da cidade, e as maiores reclamações de aglomerações eram no Centro”, recorda Marcelo Fernandes, recém-eleito presidente da Acia (Associação Comercial e Industrial de Americana).

Mas o relato dos comerciantes é que o movimento atual não se compara com aquele de algumas décadas atrás. O Centro reunia produtos e serviços que só existiam ali, e a população precisava se deslocar para lá para ter acesso a bancos, lojas com várias opções e preços competitivos. Nos últimos anos, houve um processo de descentralização, fortalecendo os chamados corredores comerciais.

Gerente de uma loja de calçados, Jean Milani cita que “o povo deu uma sumida” – Foto: Marcelo Rocha – Liberal

Essa tendência, que é nacional, contribuiu para diminuir o fluxo de pessoas no Calçadão de Americana. Mais recentemente, a pandemia fortaleceu o comércio eletrônico, contribuindo para desmotivar as pessoas a irem até o Centro.

Gerente da Calçadista, Jean Milani trabalhou por quase uma década no Centro de Americana. Ele ficou afastado profissionalmente por sete anos do Calçadão e retornou há três meses.

“Quando vim para cá em 2005, trabalhava em Campinas, que tem um comércio que é um ‘rolo compressor’. Mas eu gostava daqui, era uma cidade do interior, mas que você via que o comércio era muito bom. Hoje, o povo deu uma sumida. Mas os últimos meses foram bem bons para nós, abril, maio e junho, a onda de frio e o rodeio (retorno da Festa do Peão de Americana) agregaram”, avalia o gerente da loja de calçados.

O comerciante Manoel Bachega Junior defende ações para atrair consumidores – Foto: Marcelo Rocha – Liberal

Quem também entende que as vendas estão melhorando gradativamente após sofrer por conta das restrições de funcionamento na pandemia é Manoel Bachega Junior, proprietário da Bachega Calçados. Ele disse que algumas mudanças são irreversíveis, como o comércio eletrônico e a descentralização, mas em outras cabem discussões, como o modelo da Zona Azul.

Inaugurada em 1973, a loja é uma das mais antigas do Centro de Americana. “Ao longo do tempo foi sendo construída uma imagem negativa do Centro e isso vai incorporando nas pessoas. As pessoas vêm com um discurso pronto de que o ‘Centro está morto’, aí veem que não mudou nada, e isso reforça a ideia. Mas não é verdade”, declarou Bachega.

“Estamos aqui trabalhando, as vendas estão melhorando, não como era antes, mas por uma série de fatores. Estamos progredindo, ficamos dois anos estagnados, com muito desemprego e dívida, e isso contribui para o processo de recuperação ser mais lento. Precisamos reverter essa imagem através de ações – são muitas lojas, muitos empregos”, defende o empresário.

Gerente da Drika Modas, Raquel de Oliveira criticou a Área Azul e opinou que é necessário revitalizar o Calçadão. Ela relatou que as vendas aos sábados, que historicamente são mais intensas, caíram muito. Nesse cenário, Raquel teme os reflexos da inauguração do shopping, prevista para 2024.

A gerente Raquel de Oliveira opinou que é necessário revitalizar o Calçadão – Foto: Marcelo Rocha – Liberal

“Quem tem comércio aberto tem que agradecer a Deus, sobreviver à pandemia e a isso tudo. Não aguento mais cliente deixando roupa no caixa porque tem que sair correndo renovar a Área Azul, e nunca mais volta. Estamos precisando de ajuda, senão o comércio de Americana vai sumir. Com o shopping, quem virá para cá? Vai matar o Centro”, afirmou Raquel.

APOSTA. Secretário de Desenvolvimento Econômico, Rafael de Barros apontou que a mudança no fluxo do Calçadão ligado à descentralização do comércio é algo inevitável.

Ao invés de lutar contra a tendência, a aposta da prefeitura é fomentar o Centro com atrações. Barros contou que o projeto de uma Rua 24h, prevista no Plano de Governo de Chico Sardelli (PV), é a grande aposta da prefeitura.

“Desde o ano passado temos pensado em algum tipo de serviço ou algo voltado para o turismo para fazer com que as pessoas queiram ir para o Centro. Temos chegado em um denominador comum, de um espaço para visitar e que fomentaria o comércio ao redor”, indicou o secretário.

Inspirado na Rua Coberta de Gramado (RS), o projeto prevê um lugar bonito e “instagramável”, com bares e restaurantes com horário estendido, em alguma rua do Centro da cidade – que ainda não foi definida.

“O projeto está na fase de ideias, mas temos prazo para cumprir, temos até o ano que vem para entregar isso. Está sob responsabilidade do Desenvolvimento Econômico, mas será feito entre várias secretarias”, explicou Barros.

ESTACIONAMENTO. Mudanças na Área Azul estão sendo discutidas pela Prefeitura de Americana junto à Estapar, concessionária do serviço.

O município pede que o atual modelo de pagamento, considerado um dos mais modernos, seja simplificado. Isso porque a principal reclamação é a dificuldade em pagar através dos totens instalados na cidade.

A Área Azul foi apontada como um problema tanto pelos comerciantes ouvidos pela reportagem quanto pela população. “Em outras cidades você paga um real, um valor simbólico. Aqui é caro, já vem gastar e tem que pagar para estacionar e consumir na cidade”, criticou Ana Caroline dos Santos, usuária da região central.

Em nota, a Estapar disse que segue as obrigações firmadas com a Prefeitura de Americana, mas confirmou que tem discutido melhorias no serviço.

Secretário de Desenvolvimento Econômico, Rafael de Barros cita que o projeto de uma Rua 24h é a grande aposta da prefeitura para fomentar o comércio central – Foto: Marcelo Rocha – Liberal

REVITALIZAÇÃO. Comerciantes pedem também uma revitalização do Centro para atrair o público. Instalação de bancos para descanso, cobertura para os taxistas que ficam no convívio, criação de banheiros públicos, instalação de luzes na Praça Comendador Müller na época do Natal e até reestruturação do Calçadão, que tem uma inclinação e provoca quedas, estão entre as ideias ouvidas pela reportagem.

“Apesar de ter melhorado perto do que era, falta um carinho pela área central. O Centro de Americana é o coração da cidade, tem que estar sempre limpo, e ter um trabalho de fiscalização dos ambulantes”, opinou Paulo Scalco, responsável pela Glocam (Grupo dos Lojistas do Centro de Americana).

“Comerciantes, Acia e Glocam estão chegando em um consenso. Se não tomarmos conta, o Centro vai fechar, se não trabalharmos unidos, nós é quem perdemos. Precisamos trazer incentivos, voltar a ter shows na praça”, sugeriu Paulo.

Secretário de Desenvolvimento Econômico, Rafael de Barros rebateu que a prefeitura fez um mutirão no Centro no ano passado, com limpeza de postes, reparo de buracos, corte do mato e pintura. Depois disso, foi formado um grupo permanente de manutenção do Convívio, acionado sempre que há alguma demanda.

“Podemos entrar na discussão de colocar um banheiro, mas isso não era um problema quando ele vivia cheio, assim como ninguém reclamava da inclinação. A pauta agora é que o Centro não tem o fluxo que tinha antes, mas ele não morreu. Se olhar em um sábado de manhã, nenhum outro local comercial de Americana tem mais gente que o Calçadão. Não é como na década de 1980, 1990 ou 2000, mas ainda concentra o maior público de todas as regiões comerciais”, afirmou Barros.

“Tem comerciantes que estão no Centro há muitos anos, que acreditam nele, investem em produtos, em atendimento. Tem coisas que as pessoas só encontram lá, tem gente que vai para passear. Muitos têm uma história para contar ali: do primeiro emprego, pessoas que se conheceram e se casaram. Mas ele está se adaptando; Temos lojas enormes, se estivesse morto, porque estariam lá? Empresários trabalham pelo ganho, pode não ser o ideal, mas é um lugar único”, defende Marcelo Fernandes, presidente da Acia. 

Publicidade