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LIBERAL, 70

Americana: história que se confunde com o desenvolvimento industrial

Estampadas nas páginas impressas pelo LIBERAL nos últimos 70 anos, principais mudanças estão relacionadas ao setor têxtil

Por Rodrigo Alonso

01 de junho de 2022, às 10h06

A cada edição impressa pelo LIBERAL, Americana se desenvolve cada vez mais. E as principais mudanças, estampadas nas páginas do jornal durante os últimos 70 anos, estão diretamente relacionadas à indústria têxtil. Afinal, não é à toa que a cidade, desde a década de 60, carrega o título de Princesa Tecelã.

Nos anos 50, quando o LIBERAL iniciava sua trajetória, a industrialização transformou o município num dos destinos do êxodo rural.

“Americana era uma região que empregava muito facilmente. Então, as pessoas vieram muito para a cidade, para trabalhar na tecelagem”, diz Maria Aparecida Martins Feliciano, socióloga da Secretaria de Planejamento de Americana e coordenadora dos informativos socioeconômicos da prefeitura.

À época, a malha urbana, concentrada na região central, ultrapassou a linha férrea, para o lado do Jardim Colina. Com o crescimento da população, surgiram bairros periféricos que, hoje, são tradicionais, como Cidade Jardim, São Vito e Ipiranga. O avanço viário no entorno da Represa do Salto Grande também motivou a criação da Praia Azul.

“Nessa década já se tem uma primeira necessidade de ordenação da cidade. Começou a ficar meio caótico”, cita a arquiteta Daniela Morelli de Lima, autora do livro “Americana em um século”.

Em 1959, por outro lado, Americana “perdeu” uma de suas áreas: o distrito de Nova Odessa, elevado à categoria de município em fevereiro daquele ano.

Já entre 1960 a 1970, apareciam os primeiros loteamentos com preocupações urbanísticas, acompanhados de avenidas, praças e áreas de recreação. Inclusive, em meados de 1965, foi inaugurado o primeiro viaduto da cidade, o Amadeu Elias.

Na década de 70, o setor industrial começou a se diversificar, com a chegada de empresas como Goodyear e Polyenka. Houve, então, maior oferta de empregos. Primeiro, foram contratados trabalhadores para a construção das fábricas. Depois, já prontas, as indústrias também precisavam de funcionários para iniciar e manter suas operações.

Segundo Maria Aparecida, essa necessidade de mão de obra trouxe a Americana trabalhadores de outras localidades, principalmente da região de Votuporanga. E esse movimento fez surgirem as favelas.

“Foi na década de 70 que deu uma bagunçada no processo de urbanização”, conta a servidora, que trabalha na administração municipal desde 1975 – ingressou no funcionalismo público como escriturária.

ORGANIZAÇÃO. Diante disso, para regularizar a situação, a prefeitura realizou o cadastro das famílias que moravam em barracos e deu início aos programas habitacionais. Foi no final da década que surgiu o Profilurb, em 1979, mesmo ano da inauguração do Zanaga, atualmente a região mais populosa de Americana.

Antes, em 1970, o município lançou o inédito o PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano), que ditaria o planejamento urbano local pelos 20 anos seguintes. Com a implantação desse plano, criou-se, por exemplo, o primeiro distrito industrial da cidade.

“Já era um plano mais completo, que propunha não só ordenamento, mas zoneamento viário, áreas de equipamentos urbanos”, diz Daniela.

Os anos 80, por sua vez, ficaram marcados pela verticalização do município, com a instalação de edifícios de seis andares e dois blocos, de acordo Maria Aparecida. Também foi construído, em 1982, o Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi. Nessa década, também nasceram os centros comunitários.

POLO TÊXTIL. Para a autora do livro “Americana em um século”, o desenvolvimento urbano de Americana se confunde com a história industrial do município.

“O meu estudo, o que a gente desenvolveu, foi essa relação de desenvolvimento entre fábrica e cidade, que foi muito íntimo desde o começo. O que veio primeiro? A cidade ou a fábrica? É até difícil de responder, porque é bem inter-relacionado. Até as fases do desenvolvimento da cidade também têm a ver com o desenvolvimento da industrialização”, afirma.

No meio do século passado, uma característica da cidade era a presença de fábricas de fundo de quintal, que trabalhavam num esquema de fração, como relata Frederico Polo Muller, ex-prefeito mais antigo vivo – comandou a cidade entre 1993 e 1996.

“Muitos funcionários, empregados da Tecelagem Carioba, conseguiram comprar um tear, punha em casa e trabalhava em fração. A Tecelagem Carioba pagava o fio, dava a matéria-prima, e o tecelão, em casa, fazia o pano”, explica.

IMPORTAÇÕES. Quando Muller era prefeito, no entanto, a indústria têxtil enfrentava uma dificuldade: a importação. As fábricas locais, à época, precisavam competir com os tecidos que vinham de fora do País. Como resultado, teve 4 mil empregos perdidos e 150 empresas fechadas.

“Começou a acontecer a importação de tecidos mais baratos e houve problema com as indústrias têxteis, que começaram a ter dificuldades, porque estavam entrando produtos importados com preços menores. E isso pegou, principalmente, Americana, que era um polo têxtil”, diz.

Em 1994, esse cenário motivou a categoria fazer uma manifestação. Houve atos na Praça Comendador Muller e na Rodovia Anhanguera (SP-330), que chegou a ser paralisada, conta o ex-prefeito.

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“Acredito que foi a primeira vez na história de Americana que a classe empresarial e os trabalhadores se reuniram numa manifestação em comum”, lembra.

Como consequência, foi criada uma frente parlamentar para defesa da indústria têxtil em Brasília, na Câmara dos Deputados. Além disso, Muller e representantes dos sindicatos patronal e dos trabalhadores foram até a Organização Mundial do Comércio, na Suíça, para discutirem a situação.

“Teve naquela época um pouco de resultado. Freou um pouquinho, deu um pouco de fôlego para as indústrias se recuperarem”, afirma.

LAZER. Paralelamente ao avanço industrial, Americana também foi se desenvolvendo no setor de lazer, com cada vez mais opções para os moradores aproveitarem em seus momentos de folga.

Em 1959, foi construído o Mercado Municipal para suprir a necessidade de um ponto de comércio em Americana. Mas o local também se consolidou como um espaço de cultura e história, tanto é que se transformou em patrimônio sociocultural do município.

Em 1984, também surgiu o Parque Ecológico Cid Almeida Franco, o “Zoo Americana”, numa área de 120 mil metros quadrados.

Até a data de inauguração, parte da área onde está o parque era utilizada como local de produção de mudas de árvores e arbustos que serviam para abastecer as praças da cidade. Depois, já disponível para a população, passou a ser um espaço de lazer e aprendizado, onde as pessoas podem conhecer diferentes espécies de animais.

Em 1987, aconteceu a primeira edição da Festa do Peão, realizada pelo CCA (Clube dos Cavaleiros de Americana). O evento inaugural ocorreu na Fidam (Feira Industrial de Americana).

Porém, hoje, o rodeio e os shows são realizados na região da Praia Azul, no Parque de Eventos CCA, que costuma receber pessoas de diferentes cidades.

Em 1988, a prefeitura abriu as portas do Teatro Municipal Lulu Benencase no prédio do antigo Cine Brasil, que por décadas foi um dos principais pontos de encontro dos jovens americanenses. A inauguração, no entanto, ficou marcada pela queda do palco durante apresentação da Orquestra Sinfônica. Para Daniela, há a necessidade de se fazer um trabalho para que os espaços históricos do município perdurem. “Tem de se pensar numa união público-privada, numa parceria, para poder manter a nossa história”, diz.

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