MEIO AMBIENTE
Agricultura familiar: alimentação saudável e preservação da natureza
Produtores lidam com alimentos orgânicos, protegem nascentes e evitam desperdício
Por Caio Possati
05 de junho de 2022, às 09h56
Link da matéria: https://liberal.com.br/especiais/agricultura-familiar-alimentacao-saudavel-e-preservacao-da-natureza-1776483/
Há cerca de três anos o arquiteto Leandro Ramos, de Santa Bárbara d’Oeste, passou a se interessar por agroecologia e sustentabilidade. Começou a estudar o tema, fez pesquisas acadêmicas e mudou os próprios hábitos alimentares, tanto para comer — se tornou vegano — como para adquirir a própria comida.
Com 26 anos, ele tem deixado de comprar das grandes redes de supermercados para obter os alimentos diretamente de agricultores que moram e trabalham em assentamentos da reforma agrária da RMC (Região Metropolitana de Campinas).
Ambientalista, ele defende o modelo de produção de agricultura familiar, tocada em propriedades menores e por pessoas que também consomem aquele mesmo alimento. “Nas grandes produções, quem produz não conhece quem consome”, argumenta. “Direto do produtor, quase sempre a comida que chega em casa é colhida no mesmo dia. Dá para perceber que o alimento é mais fresco”, comenta.
RESPONSABILIDADE. Assim como o arquiteto, Eunice Pimenta, moradora do assentamento Milton Santos, em Americana, defende que a agricultura familiar é ambientalmente mais responsável em comparação aos modelos tradicionais de agricultura.
“Os grandes latifúndios produzem em commodities (mercadorias) e nós, dos assentamentos, produzimos alimentos”, afirma ela, que também é dirigente estadual do MTST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
No Milton Santos, vivem 67 famílias assentadas. Eunice explica que cada casa tem direito a um hectare (10 mil m²) de terra para produção própria e que, para não agredir o solo, os agricultores adotam o sistema de rotação de cultura, quando produzem diferentes tipos de alimentos.
Os agrotóxicos, ou defensivos agrícolas, são usados para defender as lavouras de pragas e fungos. Contudo, são produtos que exigem fiscalização e o uso em dosagens controladas em função de propriedades cancerígenas que afetam a saúde dos trabalhadores do campo e dos consumidores.
Além da rotação de cultura, o Milton Santos adota o sistema agroflorestal de plantação, que mistura culturas agrícolas com o cultivo de árvores da floresta dentro de uma mesma área. O método é usado para manter a riqueza de nutrientes do solo e evitar o desperdício de água e demais recursos naturais.
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“A agroecologia nos dá esse sentimento de amor à terra, que é um patrimônio da humanidade. Todo ser humano deveria ter a obrigação de cuidar dela porque é a terra que fornece nosso alimento”, afirma Eunice.
Esse cuidado com o solo rendeu ao assentamento o certificado de produção orgânica. O selo reconhece que o local cultiva e vende apenas alimentos orgânicos, isto é, cultivados apenas com fertilizantes naturais.
SUMARÉ. O selo orgânico ainda não é realidade de todas as famílias dos três assentamentos de Sumaré. “Não vou dizer que todos trabalham com orgânico. Minha família trabalha, mas não temos certificado ainda”, diz o técnico ambiental Fábio Barbosa, morador, produtor e secretário de Meio Ambiente da associação dos moradores do local.
Embora algumas famílias ainda usem defensivos agrícolas — 90% trabalha com orgânico, segundo Fábio — o secretário também conta que o local vem adotando medidas nos últimos anos para tornar as produções mais sustentáveis e menos agressivas ao meio ambiente.
As melhorias começaram a ser implementadas nos anos 2000, quando os filhos das primeiras famílias produtoras conseguiam aplicar o conhecimento que aprendiam nas universidades.
“A primeira lição que aprendemos foi a de restaurar as APPs (áreas de preservação permanente), e também fazer um reflorestamento na área”, explica Fábio, especializado em restauração florestal.
Outros exemplos foram a da modernização do sistema de irrigação para evitar o desperdício de água e a substituição do cultivo de alimentos perenes (que demandam a remoção do solo a cada seis meses) por plantações de ciclos mais longos, como a de bananas.