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Televisão

A delicadeza trágica da minissérie ‘Os Maias’

Há 20 anos, a minissérie retratava a decadência de Portugal com requinte e erudição

Por Tv Press

14 de janeiro de 2021, às 15h51 • Última atualização em 14 de janeiro de 2021, às 15h55

Walmor Chagas, Leonardo Vieira, Simone Spoladore, Osmar Prado, Felipe Martins, Stenio Garcia - Foto: Divulgação

Levar a obra do português Eça de Queiroz para a televisão era um sonho antigo da patrícia Maria Adelaide do Amaral. Após o sucesso da adaptação que fez em 2000 para “A Muralha”, de Diná Silveira de Queirós, a autora resolveu apresentar à Globo a ideia de adaptar “Os Maias”, obra-prima de Eça, para o formato de minissérie e exibir no início de 2001.

“Eça de Queiroz estava sendo muito homenageado por conta do centenário de sua morte. Era um projeto de dramaturgia arrojado e que exigia profundidade. O livro é um retrato perfeito da derrocada da sociedade portuguesa do Século 19, além de abordar com firmeza a espinhosa paixão entre dois irmãos”, entrega a autora.

Para comandar a produção, outro grande fã da obra do escritor foi escalado: Luiz Fernando Carvalho. Envolvido com cinema e distante dos estúdios da Globo desde o final dos anos 1990, o diretor viu em “Os Maias” o projeto perfeito para voltar ao vídeo. “Eu fiquei encantado com a linguagem utilizada pela Maria Adelaide na adaptação. A força poética e histórica estava intacta. Foi uma conjunção maravilhosa de ideias”, ressalta o diretor.

Dividida em duas fases, a trama de “Os Maias” começava com a paixão tempestuosa de Pedro da Maia e Maria Monforte, personagens de Leonardo Vieira e da então estreante Simone Spoladore. Herdeiro de uma fortuna e órfão de mãe, Pedro passou boa parte de sua vida enclausurado em sua melancolia.

Ao conhecer Maria, o jovem se abre para o mundo e, mesmo a contragosto de seu pai, Dom Afonso, de Walmor Chagas, casa-se com a amada. Do enlace, nascem Maria Eduarda e Carlos Eduardo. “A relação deles era tão passional e intensa que só poderia terminar em tragédia. Foi um trabalho lindo e que me fez perder os receios que tinha com a televisão”, assume Spoladore.

Os dias de felicidade da família chegam ao fim com a súbita paixão entre Maria Monforte e o príncipe italiano Tancredo, interpretado por Fabio Fulco, que era conhecido de Pedro, e passara uma temporada hospedado na casa dos Maias. Monforte foge com o príncipe e leva consigo a pequena Maria Eduarda.

Amargurado, Pedro comete suicídio e Carlos Eduardo acaba sendo criado por Dom Afonso. “As gravações foram experiências de vida. O elenco todo viajando junto, muitas horas de ensaio. Tudo para obter o resultado fantástico que foi ao ar”, relembra Leonardo Vieira.

Cerca de 25 anos depois, Carlos Eduardo, de Fábio Assunção, torna-se um homem carismático e bem-sucedido. Recém-formado em Medicina, ele abre um consultório em Lisboa e continua a viver ao lado do avô. Por intermédio de amigos, acaba conhecendo a misteriosa Maria Eduarda, de Ana Paula Arósio.

Recém-chegada à cidade e casada com um rico comerciante brasileiro, ela tenta evitar maiores contatos com Carlos, mas o interesse crescente acaba fazendo com que os dois comecem a se encontrar às escondidas.

“Toda a paixão que eles sentem acaba por não se tornar mais segredo. Mas é aí que a história de ‘Os Maias’ se torna ainda mais trágica”, explica Fábio Assunção. Sabendo da aproximação dos dois, Maria Monforte, agora interpretada por Marília Pêra, volta a Lisboa e revela a Carlos Eduardo que o grande amor de sua vida é também sua irmã.

Arte na televisão
Orçada em cerca de R$ 11 milhões e dividida em 44 capítulos, “Os Maias” foi concebida para ser um verdadeiro sucesso. A Globo não economizou em quesitos como viagens, figurinos, direção de arte, elenco e trilha sonora. O resultado foi uma das minisséries mais belas da história da emissora, mas a repercussão foi mediana.

Dos esperados 30 pontos de média de audiência, a minissérie fechou com exatos 15. “O que fica é o trabalho maravilhoso que foi realizado. Mas, na época, foi um pouco frustrante não conseguir conquistar a massa”, conta Maria Adelaide.

Com elenco escalado a dedo, muitos foram os destaques em meio aos mais de 50 atores envolvidos no projeto, que reuniu nomes como Ariclê Perez, Eva Wilma, Leonardo Medeiros, Ilya São Paulo, Selton Melo, Stênio Garcia, Paulo Betti e Osmar Prado. “Era tudo pura poesia. Acho que isso fica bem claro nas cenas. Do ponto de vista dos atores, ‘Os Maias’ é o tipo de projeto onde percebemos que é possível fazer arte na televisão”, valoriza Osmar.

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