06 de maio de 2024 Atualizado 19:40

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Cotidiano & Existência

O coração de Dom Pedro e outros corações

O coração, a pedido do monarca, foi deixado na cidade do Porto onde nasceu e cresceu, e também como agradecimento pela resistência da população

Por Gisela Breno

23 de agosto de 2022, às 09h12 • Última atualização em 23 de agosto de 2022, às 09h14

Com pompas, honras e segurança de chefes de estado, chegou ontem à Brasília, o coração de Dom Pedro I, como parte das comemorações pelo bicentenário da Independência do Brasil.

Os restos mortais de Dom Pedro I estão guardados na cripta do Monumento à Independência, localizado no Museu do Ipiranga, em São Paulo.  O coração, a seu pedido, foi deixado na cidade do Porto onde nasceu e cresceu, e também como agradecimento pela resistência da população durante o cerco a essa cidade, permitindo sua vitória contra as tropas absolutistas de seu irmão Dom Miguel, que, na época, almejava o trono português.

É forte o simbolismo, que carrega a chegada e a exposição desse coração, para poucos, diga-se de passagem, nesses dias turbulentos que antecedem a eleição de outubro, marcada por uma intensa e até mesmo violenta bipolaridade política.

Para o hinduísmo, esse órgão vital é considerado o lugar da consciência pura. Na cultura e religião egípcias, o coração representa o centro da vida, lugar da inteligência, da vontade e da consciência moral.

No Antigo Testamento a palavra lev (coração) aparece cerca de 1024 vezes, como lugar da mente e da intelectualidade, como território dos sentimentos e como centro da vida moral e religiosa. Mas é na nova aliança entre Deus e seu povo, que o símbolo do coração aparece mais intensamente. No livro do Jeremias, Ele anuncia: “Eis que virão os dias em que concluirei com o povo de Israel e de Judá uma nova aliança. Imprimirei a minha lei nas suas entranhas e a escreverei em seus corações. Então, eu serei o seu Deus e eles serão meu povo”.

Em tempos de desigualdades e dificuldades extremas, onde corações mendigam o pão nosso de cada dia, se partem e sangram diante de tantas atrocidades, a vinda do coração de Dom Pedro I me traz à memória os líderes romanos e suas políticas de panem et circenses (pão e circo) e da frase, comumente atribuída a Maria Antonieta, “Se as pessoas têm fome e não tem pão, que elas comam brioche”.

Gisela Breno

Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.