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Uma bela maneira de enxergar o mundo

Cão-guia acompanha servidora pública de Sumaré no trabalho e faz parte da rotina de departamento

Por Jucimara Lima

20 de março de 2023, às 07h27

No mês em que é celebrada a força da mulher em todo o mundo, conhecer a história de vida da ouvidora da Prefeitura de Sumaré, Gildete Maia, de 45 anos, e de sua cão-guia Kayla é mais uma comprovação do quanto as mulheres são resilientes, persistentes e capazes de superar os mais variados desafios.

Portadora de glaucoma desde o nascimento, Gildete é a primeira deficiente visual da cidade a contar com o suporte de um cão-guia. “Sempre gostei de cachorro, mas com ela é diferente, porque é mais que um cão guia. Nós temos um vínculo afetivo muito maior. Digo que Kayla é totalmente meus olhos, então, é muito amor”, derrete-se.

Desafios. Apesar de conviver com a baixa-visão desde o nascimento, aos 24 anos, Gildete parou de enxergar durante a gravidez de sua única filha. Assim, além de se adaptar ao novo papel de mãe, ainda muito jovem, ela foi obrigada a se encaixar no universo da deficiência visual. Apesar das dificuldades, a ouvidora não se deixou abater e mesmo sem enxergar absolutamente nada, criou a filha, cursou a faculdade de pedagogia e passou em um concurso público.

Kayla e Gildete se tornaram parceiras inseparáveis – Foto: Junior Guarnieri / LIBERAL

Questionada sobre de onde vem essa força para superar tantos desafios, ela mantém a modéstia e confessa não saber. “A gente vai simplesmente tentando fazer o que dá para fazer, criando forças a cada dia e assim superando os obstáculos”, reflete.

Cão-guia. A chegada da labradora Kayla na vida de Gildete foi algo muito sonhado e planejado. Apesar de sempre ter ouvido falar do trabalho do cão-guia, apenas no ano passado ela se inscreveu no Instituto Magnus para pleitear um animal.

Segundo o site oficial da organização, o instituto nasceu com o propósito de se tornar para a sociedade um ambiente mais consciente e acolhedor para o próximo. Em sua apresentação, eles colocam o cão-guia como uma ferramenta de partida para que as pessoas entendam a importância desse tipo de inclusão.

Segundo o instituto, hoje são menos de 200 cães-guias em atividade, portanto, Kayla faz parte de um grupo seleto, que passa por um rigoroso processo.

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Com apenas dois anos, antes de chegar à vida de Gildete há cerca de três meses, Kayla passou por um ano de socialização e outro de treinamento. Além disso, para ser escolhida como a nova companheira da ouvidora, ambas passaram por um processo intenso de 15 dias.

“Cheguei a fazer essa etapa antes, com outro candidato a cão-guia, mas ele não tinha meu perfil”, conta. Durante esse período a dupla fez suas primeiras lições como aprender a se posicionar, praticar os primeiros comandos, além de aprender a fazer o gestual e o verbal, “Se você só fala e não gesticula, por exemplo, o cão pode não entender”, explica.

Para se candidatar como possível tutor de um cão-guia, além de ser deficiente visual, a pessoa precisa atender alguns critérios, como, por exemplo, ter o mínimo de condições para sustentar o cachorro.

Além disso, também é necessário ter uma certa mobilidade. “Eu já me locomovia bem de bengala, e esse é um critério importante, porque assim o cão vem para facilitar a independência do deficiente visual como um recurso extra”, diz Gildete.

Vida Nova. Desde a chegada de Kayla, a ouvidora aponta que sente a vida mudar a cada dia. “Sinto como se ela estivesse me completando. Ainda estamos em fase de adaptação, mas ela supre muito bem minhas necessidades. Acredito que temos grandes chances de progredir a cada dia mais”.

De personalidade dócil, carinhosa, calma, equilibrada e muito cuidadosa, Kayla passou a fazer parte da rotina do Seminário, uma das sedes do governo municipal, onde todos os dias acompanha sua parceira ao trabalho.

A também ouvidora Lucilene Machado de Araújo, que trabalha com Gildete há quatro anos, conta que a expectativa para a chegada da cão-guia era grande e que Kayla surpreendeu positivamente.

“Nós até achamos que de início seria um transtorno, mas foi muito simples. Ela teve um excelente treinamento e a Gildete está bem mais segura e leve depois que ela chegou”, revela.

Feliz com a companheira, a ouvidora concorda com a colega de trabalho e confirma que a vida realmente melhorou depois da chegada de Kayla. “Melhorou muito os aspectos psicológicos, além da questão da mobilidade. Agora, o nosso próximo desafio é ir ao Centro de ônibus”, confidencia.

Para receber a cão-guia em casa Gildete precisou se acostumar a uma rotina regrada, além de se organizar no sentido de evitar acidentes. “Preciso ficar atenta ao que ela lambe, cheira, come, tudo precisa ser bem regradinho, inclusive a ração e os passeios diários. Para ela poder fazer o trabalho, precisamos estar sempre ativas e caminhando”, conta.

Conscientização. Em busca da conscientização da comunidade em relação à inclusão do deficiente, Gildete alerta sobre a importância de deixar o cão-guia cumprir seu trabalho sem interferências. “O certo é não brincar com o cão quando ele está trabalhando. Não olhe, não encare, não chame a atenção dele, porque qualquer movimentação diferente pode lhe tirar o foco. Na prática, é como se ele tivesse dirigindo, então, toda atenção é necessária para não ocorrer um acidente”, explica.

Se adaptando uma à outra, Gildete e Kayla vão construindo essa relação de parceria que deve durar mais oito anos. “São 10 anos de serviço, mas como ela já tem dois, temos oito pela frente. Depois disso, ela passará a viver como um cão doméstico normal”, finaliza.

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