25 de abril de 2024 Atualizado 23:44

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Religião

Intolerância religiosa: ataques levam medo a terreiros de umbanda na RPT

Casos de depredação dos locais foram relatados por lideranças em Sumaré e Santa Bárbara d’Oeste, que cobram apuração

Por Maria Eduarda Gazzetta

05 de dezembro de 2021, às 09h01 • Última atualização em 05 de dezembro de 2021, às 09h02

Pelo menos quatro terreiros de umbanda de Sumaré e Santa Bárbara d’Oeste foram alvos de ataques e intolerância religiosa nos últimos 90 dias, segundo relatos ouvidos pelo LIBERAL. Os locais foram invadidos por criminosos que quebraram imagens e danificaram instrumentos utilizados no culto religioso.

A situação fez representantes da religião levarem o caso ao Ministério Público, que pediu informações para avaliar o que fazer.

No dia 7 de outubro, criminosos invadiram a Casa Santa Bárbara e Pai João da Guiné, no Jardim Picerno, em Sumaré, e destruíram um instrumento conhecido como atabaque, imagens sagradas para a religião e velas utilizadas durante o culto. O pai de santo e responsável pelo templo, Wesley Concas, relatou que uma mulher foi realizar a limpeza do terreiro quando notou os materiais danificados.

Casa no Jardim Picerno teve imagens de santos danificadas e objetos de culto jogados ao chão – Foto: Divulgação

Ainda de acordo com Wesley, sacos de mantimentos não perecíveis, usados no preparo de alimentos para moradores em situação de rua, também foram rasgados pelos invasores. Ele calcula um prejuízo de R$ 5 mil.

“Eu entendo que, por conta até mesmo de pessoas que fazem parte da umbanda, nossa religião é um pouco mal vista. Sofri ameaças um dia antes e, no dia seguinte, tivemos esse ataque. Estou com medo, preciso prestar atenção e, neste momento, estou atendendo às escondidas, sem fazer barulho. O que quero de coração é que a família umbanda se una para eu levantar meu terreiro novamente”, disse Wesley.

📲 Receba as notícias do LIBERAL no WhatsApp

Em setembro, o terreiro Oxalá e Iemanjá, no Jardim Alvorada, também em Sumaré, registrou os mesmos ataques. Em dezembro, um outro local também foi invadido por criminosos – neste caso, os responsáveis preferiram não se manifestar e nem que o endereço do terreiro fosse divulgado, por medo de represálias.

A fundadora e diretora de relações institucionais da Armac (Associação dos Religiosos de Matriz Africana de Campinas e Região), Edna Almeida Lourenço, relatou ao LIBERAL que nos últimos 90 dias um outro terreiro, em Santa Bárbara d’Oeste, também foi alvo de intolerância religiosa. Edna não informou à reportagem o local do templo religioso e o contato do pai de santo responsável, já que os religiosos estão com medo de novos ataques.

Por conta dos atos criminosos, a diretora da associação fez uma representação no Ministério Público de Campinas, em outubro, onde solicita do órgão fiscalização, apuração e que os responsáveis sejam punidos pelos ataques.

“Esta é uma violência pautada no racismo religioso. Uma religião que vem da África, criada por negros, uma religião de negros, mas que branco, amarelos, todos participam dela. Mesmo assim sofre esse racismo. Então, o que vemos é que a base de tudo isso é essa violência, é falta de respeito”, comentou Edna.

De acordo com resposta do Ministério Público, encaminhada ao LIBERAL pela fundadora da associação, o órgão público determinou a remessa de cópias das representações para as promotorias de Sumaré e Santa Bárbara para ciência e providências cabíveis.

O MP também oficiou o Centro de Referência em Direitos Humanos na Prevenção e Combate ao Racismo e Discriminação Religiosa solicitando considerações a respeito das medidas a serem adotadas para prevenir tais práticas. Questionado pelo LIBERAL, no entanto, o Ministério Público não informou se houve retorno sobre os ofícios.

No último dia 24, o presidente da Câmara de Sumaré, Willian Souza (PT), encaminhou um ofício à Secretaria Municipal de Segurança Pública, ao 48º Batalhão da Polícia Militar do Interior e à Polícia Civil relatando os problemas e solicitando reforço na segurança dos locais.

Ao LIBERAL, o vereador respondeu que recebeu somente retorno da PM, que informou que os endereços dos templos terão prioridade no patrulhamento. A reportagem entrou em contato com a SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública) e questionou sobre a investigação dos casos, mas até o fechamento da reportagem, não respondeu.

Publicidade