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DEPOIMENTO

Servidora do MEC diz que Nova Odessa pediu participação de pastores

Vanessa Reis Souza depôs na Comissão de Educação do Senado; gabinete itinerante esteve no município em agosto de 2021

Por Maria Eduarda Gazzetta

05 de maio de 2022, às 08h04

Em depoimento à audiência pública na Comissão de Educação do Senado, na manhã desta quarta-feira, a chefe da assessoria de cerimonial do MEC (Ministério da Educação), Vanessa Reis Souza, afirmou que a Prefeitura de Nova Odessa pediu que os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos participassem do gabinete itinerante realizado em agosto do ano passado na cidade. A administração diz que acreditava que os pastores eram funcionários do ministério.

A chefe da assessoria do cerimonial depôs para a comissão, cujo objetivo é registrar depoimentos para prestação de informações sobre o aparente beneficiamento indevido na destinação de verbas públicas ao Ministério da Educação e ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

Segundo relatos da profissional, nas reuniões em que participou e que os pastores estiveram presentes, os religiosos sempre estavam acompanhados, em geral, de prefeitos.

Vanessa afirmou que os pastores estavam sempre acompanhados de prefeitos, e que foi procurada sobre pedidos de propina – Foto: Geraldo Magela / Agência Senado

“Eles convidavam o ministro oficialmente para um evento de atendimentos a prefeitos no município. Este de Nova Odessa [os pastores] compuseram o evento a pedido da prefeitura. A gente só organizava de acordo com o protocolo”, declarou Vanessa.

Ela ainda detalhou como teria sido feito o pedido de propina na cidade, conforme divulgou o LIBERAL, em abril, depois da conclusão do relatório realizado pela CGU (Controladoria Geral da União).

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“Após o evento, eu fui procurada pelo José Edvaldo Brito, um interlocutor da prefeitura, que me disse ter sido abordado por uma equipe que lhe fez pedidos desconfortáveis”. “Eu perguntei ‘que tipo de pedido?’ e ele me disse que pediram emissão de passagem, hospedagem e ‘alguns outros que não gostaria de entrar no mérito’”, comentou Vanessa.

Denúncia

Ela disse que orientou Brito para que formalizasse uma denúncia, mas o ex-candidato a prefeito de Piracicaba solicitou uma reunião com o ministro para falar sobre o ocorrido, que foi realizada em setembro de 2021.

Questionada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede), autor da audiência, sobre a participação dos pastores nos eventos, Vanessa comentou que o pastor Arilton tentava interferir no protocolo do cerimonial.

Ele solicitava um tempo maior de discurso ou questionava o motivo que falaria depois ou antes de algum convidado. De acordo com ela, como chefe do cerimonial, sempre barrou os pedidos.

Prefeitura acreditava que eles eram servidores

A Prefeitura de Nova Odessa disse ao LIBERAL que acreditava que os pastores em questão faziam parte da equipe do MEC (Ministério da Educação), porque portavam-se como tal. A administração, inclusive, afirmou que não interferiu no cerimonial.

“Portanto, pelo que podemos deduzir, a presença dos pastores no palco foi uma decisão do MEC”, trouxe nota que vai contra o depoimento da chefe da assessoria de cerimonial.

A administração nega que tenha realizado a organização do evento, e que essa condição era de um profissional indicado pelo MEC, Edvaldo Brito, ex-candidato a prefeito de Piracicaba. No entanto, em release divulgado pela própria prefeitura em agosto de 2021, após o gabinete itinerante, o prefeito Cláudio José Schooder, o Leitinho (PSD), classificou o dia como “um grande sucesso” e que o evento foi realizado “a convite da prefeitura”.

Em entrevista à reportagem, Brito disse que mantinha contato com o então secretário de Governo da cidade, Marco Antônio Barion, o Russo.
Sobre os custos do evento, o chefe do Executivo afirmou durante entrevista à Rádio Clube (AM 580), em abril, que a prefeitura arcou financeiramente com o café da manhã e da tarde oferecido a cerca de 80 prefeitos, vice-prefeitos e secretários municipais de Educação da região e do interior do Estado, que foram atendidos no ginásio de esportes, no Jardim Santa Rosa. Em contradição com essa informação, Brito completa que a cidade só ficou responsável pelo local e cadeiras.

Acesso

O político de Piracicaba disse que conhecidos dele tinham acesso aos pastores. “Falaram que durante o dia o MEC fazia o evento e a noite teria o culto. Achei legal ajudar os municípios”, disse.

Sobre os pedidos “desconfortáveis”, o político ressaltou que houve um pedido de oferta no dia do evento, no qual achou que os pastores estavam abusando e que usavam o nome do ministro.

Ainda de acordo com ele, quem pagou pelas passagens aéreas dos religiosos foram parceiros que o prefeito só conheceu no dia do evento. Entretanto, em entrevista à rádio, Leitinho afirmou que conheceu os dois em Brasília e que, inclusive, almoçou com eles.

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