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Representando uma nova geração

Aposentado, mas ainda em atuação, morador de Nova Odessa superou problemas emocionais, cursa faculdade de Educação Física e planeja realizar projeto voltado para a qualidade de vida dos idosos

Por Jucimara Lima

27 de março de 2022, às 16h46 • Última atualização em 27 de março de 2022, às 16h47

Aluno do oitavo semestre da FAM (Faculdade de Americana), Odair está em sua segunda graduação - Foto: Claudeci Junior - O Liberal.JPG

Era o tempo em que aposentado ficava em casa, vivendo apenas de memórias como se a vida tivesse acabado. O gerente técnico Odair Destro, 68 anos, morador de Nova Odessa, é um belo exemplo de como essa nova geração se comporta de maneira diferente, madura, atuante e destemida perante novos desafios.

No caso dele, mesmo tendo no currículo uma carreira brilhante na indústria automotiva, e já ser aposentado há 9 anos, decidiu mudar de rota, cursar Educação Física e no momento mantém grandes planos para o futuro.

Aluno do oitavo semestre da FAM (Faculdade de Americana), Odair está em sua segunda graduação, já que quando jovem se formou em Química. Decidido, aos 16 anos ele passava na frente de um curso técnico de Santo André e pensava – “um dia vou estudar aí” – algo que aconteceu de fato anos mais tarde.

A depressão. Em 2015, Odair ficou viúvo. A esposa, mãe de seus 4 filhos (sendo um in memorian), faleceu após uma árdua batalha contra um câncer, o que acabou desencadeando nele um quadro de depressão, sintomas de ansiedade e Síndrome do Pânico. “ Depois dessa experiência, comecei a perceber que as coisas não estavam legais para mim. Como sempre fui de exatas, resolvi ir para o lado de humanas para entender essas sensações”, recorda ele que atribui a sua recuperação a três coisas: acompanhamento médico, apoio familiar e trabalho voluntário.

O trabalho voluntário, Odair passou a praticar quando a esposa ainda era viva e ele atuava em um Centro Espírita. Nessa época, ele utilizava os finais de semana para prestar ajuda aos necessitados, além de fazer palestras e cursos. Já a ajuda para a mente veio por meio de uma equipe de psicólogos e psiquiatras. “Só sai da depressão com muita ajuda, encontrando as pessoas e profissionais certos e recebendo o suporte da família. Para mim, depressão é falta de controle, então, não adianta a gente ficar achando que é assim mesmo, é preciso se cuidar”, alerta.

O Despertar. O desejo de cuidar foi o que atraiu Odair para a Faculdade de Educação Física, algo que ele considera um recomeço. “Sempre prezei muito o lado profissional, até porque eu era o principal provedor da família, mas acabei deixando o resto um pouco de lado. Aí percebi que precisava mudar”, reflete.

Assim sendo, iniciou a faculdade na Unimep/Taquaral, mas tempos depois acabou se transferindo para a FAM, onde passou pela Educação à Distância durante a pandemia e agora, voltou a frequentar fisicamente. “Aqui me sinto em casa. Acho uma boa faculdade, os professores me apoiam e acabei encontrando amigos. Apesar da dificuldade inicial do EAD, me adaptei bem e percebi que rendia até mais”, revela.

Incansável, ele acorda às 6h, dorme por volta da meia-noite, trabalha, pratica tênis e não deixa de participar das aulas práticas do curso. “Claro que não sou nenhum molecão, eu não preciso levantar o supino, mas preciso saber como se faz. Em resumo, pratico todas as atividades necessárias, tenho minhas limitações, mas estou longe de ser limitado”, brinca.

Recomeço. Nessa nova jornada, Odair encontrou uma nova companheira, reconstruiu a vida e planeja terminar a graduação, fazer pós, mestrado e como ele mesmo diz “quem sabe até um doutorado.” Apesar da insegurança inicial de voltar aos bancos escolares, e ter como colegas de turma um faixa etária jovem, ele se adaptou bem. “No começo sentia os olhares, mas não pensei muito nessa questão de idade, porque eu sei me relacionar! Sempre fui extrovertido e procurei me enturmar, algo que acredito que tenha conseguido”.

Bem-humorado, ele brinca que tem muita gente que pensa que ele é professor. “Quando me perguntam, eu digo que ainda não sou, mas que estou aqui para isto”. O educador Felipe de Ornelas, um dos professores que já deu aulas para ele, fica admirado com sua força de vontade. “Odair foi uma grata surpresa para nós. Ele sempre foi um aluno empenhado, dedicado, que se envolveu com os alunos e com o curso, tanto nas aulas teóricas quanto nas práticas. Na verdade, ele comprova que é preciso sempre estar em busca de conhecimento e para isto não tem idade.”

O Plano. De acordo com o estudante, a Educação Física e o desejo de passar o conhecimento para outras pessoas é sua atual missão de vida. No momento, seu principal objetivo é concluir a formação e passar a trabalhar na área de saúde. “ Até quero ser professor, porque gosto dessa área, mas a minha ideia principal é trabalhar com uma equipe multidisciplinar com médicos, nutricionistas, fisioterapeutas e educadores físicos para ajudar a melhorar a qualidade de vida dos idosos”.

Analítico, apesar do sonho, ele mantém os pés nos chãos e segue as metas para alcançar o que deseja. “Preciso pesquisar muito ainda, não posso dar um passo errado. Por essa razão, vou planejar tudo, antes de buscar colocar em prática. Espero que consiga”.

Sobre toda essa reviravolta que sua vida deu nos últimos tempos, Odair pensa que tudo tem a ver com a quebra de paradigmas. “A gente tem muitos paradigmas na cabeça que as pessoas colocaram lá dentro e que nem sabemos o real motivo. Isso precisa acabar. Vamos criar outras expectativas”, finaliza.

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