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Conheça a professora que é uma das precursoras do uso de Libras nas escolas de Americana

Maria Regina, de 62 anos, diz que sua alegria é ver os alunos se desenvolverem; leia a história

Por Jucimara Lima

07 de abril de 2024, às 08h15

Com a ideia de que não escolheu a profissão, mas que “foi escolhida por Deus”, a professora Maria Regina Mouraes, de 62 anos, acredita que foi a pessoa certa, no tempo certo. “Estava no momento exato de ajudar a trilhar o caminho da inclusão”, reflete.

Com uma visão 360° sobre o tema, ela afirma que sua maior alegria é acompanhar o desenvolvimento dos alunos e observar que a cada dia que passa a sociedade evolui no conceito de equidade. “Amo quando as pessoas lutam para que todos tenham acesso às mesmas oportunidades.”

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Normalista formada no final da década de 70, pelo tradicional curso de magistério da Escola Estadual Doutor Heitor Penteado, em Americana, Maria Regina tem um amplo currículo com graduação em pedagogia, artes visuais, letras, Libras, é especialista em deficiência auditiva, especialista em deficiência intelectual e intérprete de libras.

Para ela, oferecer oportunidade para uma PCD (Pessoa com Deficiência) mostrar suas capacidades e habilidades é o mesmo que ajudar a criar um cenário favorável para todos. “Às vezes, essas pessoas são tão maravilhosas, mas não conseguem se mostrar para o mundo por barreiras atitudinais.”

A professora Maria Regina Mouraes – Foto: Marcelo Rocha/Liberal

Intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) há mais de uma década, atualmente, ela é uma das professoras na sala de recursos (espaço de inclusão provido de recursos necessários e professores especializados) para atender alunos com deficiência, nas escolas estaduais Heitor Penteado e João de Castro Gonçalves, assim como também é intérprete de Libras em espaços sociais e de empresas. Além disso, atua no Senai de Americana como professora assistente em técnica de inclusão. “São aulas para PCDs, com o objetivo de promover a capacitação para o mercado de trabalho”, explica.

Vocações

De origem humilde, Maria Regina lembra que, na época de sua juventude, era muito difícil custear uma faculdade. Por essa razão, escolheu fazer magistério. “Era realmente um curso muito bom, que preparava para o mercado de trabalho, dava uma excelente base, lecionado por professores incríveis e muito exigentes”, recorda-se.

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Como se casou e mudou da cidade, durante algum tempo esteve distante da área, contudo, aos 40 anos e recém-divorciada, voltou para a Educação, quando cursou a primeira faculdade, com auxílio de um programa do governo, que pagava o curso para familiares que trabalhassem em prol das escolas.

Desse modo, fez pedagogia, momento do primeiro contato com a Libras, quando ela passou a ser matéria obrigatória para alguns cursos. “A princípio, achei que era só mais uma matéria, mas depois fui me encantando, porque ela é uma língua completa, que usa expressão facial, configuração de mãos, vocabulário, gramática, enfim, é maravilhosa.”

Em 24 de abril de 2002, foi sancionada a lei reconhecendo a Libras como meio legal de comunicação e, em 2005, começou o movimento da presença obrigatória de um tradutor e intérprete de Libras em sala de aula. “Foi nesse momento que entrei, juntamente com outros professores.”

Mesmo receosa, ela aceitou o desafio e acabou sendo uma das precursoras na cidade. “No começo, fiquei com medo, pensei, meu Deus, será que vou dar conta? Porque não era fluente, mas depois deu tudo certo, porque tivemos um excelente suporte, estudamos, tivemos acesso a várias pesquisas, enfim, nos aprofundamos muito e continuamos a estudar, pois a Libras como qualquer língua viva e está sempre em movimento.”

Grandes marcos

Entre as primeiras vivências em sala de aula como intérprete de Libras, Maria Regina não esquece a relação com o primeiro aluno surdo.

“Ele se chamava Juninho e era aluno do ensino médio. Pensei: vou escrever tudo que o professor está falando e depois passo para ele. Ia escrevendo, fazendo sinais, mostrando algumas imagens e quando percebi que ele não conseguia entender o que estava passando, me toquei de que ele não sabia português, afinal, a gente processa e aprende pelo canal auditivo e se me falta o sentido da audição, tenho que me adaptar. Sendo assim, se a Libras é a primeira língua do surdo, é ela que dará suporte para que a segunda língua – no caso, o português -, possa ser compreendida”, comentou.

Com essa experiência, a professora entendeu que o trabalho de intérprete tinha muito mais a ver com inclusão do que apenas a comunicação. “É um ensino colaborativo entre os profissionais envolvidos. Precisamos fazer adaptações até o aluno conseguir entender. Isso é inclusão.”

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Outro marco em sua trajetória foi a passagem pelo Ceeja (Centro Estadual de Educação de Jovens Adultos de Americana), quando ela e outras professoras contribuíram na formação de alunos com necessidades especiais educacionais. “Trabalhamos com surdo adulto, deficientes visuais, deficientes intelectuais, Down, autistas, físicos entre outras síndromes. Foi um período incrível.”

Futuro

Esperançosa sobre o futuro, a professora acredita que apesar de ter muito a trilhar, a educação especial no Brasil está caminhando para cenários mais positivos. “O que vivemos hoje é fruto do incentivo do governo e da sociedade, que refletiu e evoluiu. Daqui a alguns anos, vamos olhar para trás e ver os aspectos positivos e corrigir os negativos.”

“O trabalho da inclusão é árduo e precisa do envolvimento de todos, família, professores especializados, gestão, comunidade escolar, enfim. Estamos colhendo flores lindas desse jardim de PCDs, que têm mostrado suas eficiências”, finaliza.

Para quem desejar continuar acompanhando a trajetória e batalha desta professora, siga o Instagram @regina.mouraes.

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