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ABASTECIMENTO

Com consumo diário de até 178 litros por habitante, região busca atingir meta de 150

Apesar de acima de meta estabelecida pelo Consórcio PCJ, índices de municípios da região são considerados aceitáveis

Por Gabriel Pitor

30 de março de 2024, às 08h49

Os municípios da RPT (Região do Polo Têxti) consomem diariamente, em média, de 152 a 178 litros de água por habitante, de acordo com dados divulgados pelo Snis (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), do Ministério das Cidades, e considerando o último Censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2022.

A quantidade ainda está acima da meta estabelecida pelo Consórcio PCJ (Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí), que é de 150 litros por habitante por dia, embora nos últimos anos as cidades da região tenham buscado reduzir o consumo e a perda de água tratada — que também influencia nesses números.

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Americana é a que mais gasta água diariamente por habitante na RPT com 178 litros. Já Sumaré é o município mais econômico com 152 e está próximo da meta do consórcio. Hortolândia também está perto de atingir o objetivo, já que consome 154 litros. Por fim, Santa Bárbara demanda em média 171 litros por habitante por dia e Nova Odessa, 174.

Parte do sistema de tratamento de água instalado na Saltorelli Têxtil, em Americana – Foto: Leonardo Matos/Liberal

Esses números, entretanto, podem esconder situações específicas de algumas cidades, como atentou o secretário executivo do Consócio PCJ, Francisco Carlos Castro Lahóz. Segundo ele, o caso de Americana, por exemplo, é impactado pela indústria têxtil, uma das principais atividades econômicas do município e que utiliza em sua produção grande quantidade de água.

“A comparação desses números entre cidades pode levar a injustiças, porque precisam ser consideradas a perda de água e a quantidade de indústrias que estão na área urbana e usam água da rede. Americana tem muitas empresas na área urbana. Então, não é a população necessariamente que está consumindo, mas sim, a produção dessas empresas”, disse.

O apontamento feito por Lahóz vai ao encontro dos dados do Snis. Holambra é a cidade da RMC (Região Metropolitana de Campinas) com maior consumo diário: 336 litros por habitante. Porém, tem população de apenas 15.094, o que indica que o gasto de água se deve à irrigação de plantas e flores — principal atividade econômica do município.

Em Americana, algumas indústrias têm se preocupado com o excessivo uso dos recursos hídricos. A Saltorelli Têxtil, na região da Chácara Machadinho, possui uma estação de tratamento própria para conseguir fazer o reúso da água na produção.

A água é captada de uma lagoa atrás da empresa, que além de ser abastecida naturalmente por meio de poços, também recebe volumes de uma cisterna construída pela têxtil — que redireciona a água da chuva para a lagoa. A quantidade captada é usada na produção e na tinturaria.

Sistema de tratamento e reúso de efluentes instalado na Saltorelli Têxtil, em Americana – Foto: Leonardo Matos/Liberal

Depois de todos os processos produtivos, a água se torna complementamente imprópria para consumo, já que carrega resíduos químicos e chega a um índice altíssimo de acidez. A partir daí entra em ação a estação de tratamento, que recebeu investimento estimado em R$ 8 milhões.

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A fumaça da calderaria é levada para tambores enormes que se junta à água imprópria para diminuir a acidez — um procedimento natural, sem a utilização de outros ácidos de menor pH. Depois, a água passa por duas etapas de filtragem até chegar a um tanque, com várias bactérias, que “comem” os resíduos. Esse tanque é continuamente oxigenado por meio de compressores para manter as bactérias vivas.

Com esses processos, um lodo residual é gerado (e decartado em aterros autorizados) e a água passa por mais um processo de filtragem. Cerca de 80% dela retorna para a rede com qualidade, já outros 20% são purificados e vão para os reservatórios da têxtil para fazer o reúso.

“Não tem hipocrisia, a gente faz isso porque é o correto a se fazer. As grandes confecções só compram de indústria têxteis ecologicamente corretas. E tem um lado econômico nisso porque em um momento de crise hídrica, eu vou precisar captar muito mais água a um custo enorme para fazer o bombeamento. Com essa estação, eu faço o reúso, capto menos e em pouco tempo já passa a compensar o valor investido”, explicou Pedro Saltorelli, sócio-administrador da empresa.

Pedro Saltorelli, sócio-administrador da Saltorelli Têxtil – Foto: Leonardo Matos/Liberal

Ainda de acordo com Pedro, que guiou a reportagem do LIBERAL na visitação à indústria e explicou passo a passo o tratamento, a intenção a longo prazo é fazer o reúso de 30% a 40% da água. Ele ainda ressaltou que a água tratada na estação própria é analisada diariamente pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).

Consumo menor de água também é meta estabelecida pela OMS

A redução do uso dos recursos hídricos também é uma meta estabelecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que recomenda que os municípios consumam até 110 litros por habitante diariamente. Porém, Lahóz aponta que essa quantidade, embora signifique a excelência, é quase impossível de ser atingida no Brasil.

“A OMS estabeleceu essa meta levando em consideração os países europeus, onde há predominância de temperaturas mais frias. Aqui no Brasil, um país tropical, com forte calor, as pessoas tomam banho pelo menos duas vezes por dia, o que torna essa meta muito difícil de ser alcançada”, justificou.

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“O município que chegou a 200 litros por habitante diariamente está em um índice aceitável. 150 é a meta, seria ótimo para a nossa região que tem uma escassez de recursos hídricos. E 110 seria um trabalho excelência, mas não olhamos para esse número”, completou.

O secretário executivo comentou que as cidades da região têm “números excelentes e estão fazendo a lição de casa”, mas destacou ações de uso consciente, como banhos de até 5 minutos, reaproveitamento de água da máquina de lavar, esfregar a louça com a torneira fechada, entre outros. Na esfera municipal, o combate às perdas também foi destacada por Lahóz.

O que dizem os municípios

O LIBERAL questionou os municípios sobre os volumes de água consumidos e as ações que têm tomado para atingir a meta do PCJ.

O DAE (Departamento de Água e Esgoto) de Americana afirmou que observa com bastante atenção o consumo per capita do município e que tem realizado estudos com o objetivo de melhorar seu sistema de distribuição. Informou ainda que são feitas campanhas nas mídias e redes sociais, bem como a manutenção de um centro educacional que recebe, em média, 8 mil alunos anualmente da rede pública e particular.

O ponto de captação de água de Americana no Rio Piracicaba – Foto: Marília Pierre/Prefeitura de Americana

Já o DAE de Santa Bárbara avalia positivamente o seu consumo diário, situação atribuída às campanhas e aos trabalhos constantes realizados para o consumo racional da água.

Por sua vez, a Coden Ambiental, empresa responsável pelo abastecimento de Nova Odessa, atentou que a média diária de 174 litros por habitante pode não retratar a realidade por conta das empresas, mas ressaltou ações de troca de tubulações e o baixo índice de perdas no município (em torno de 28%).

A BRK Ambiental, concessionária responsável pelo abastecimento de Sumaré, reconheceu o esforço da população da cidade no consumo consciente e destacou tanto medidas de conscientização — como a campanha Jogando Junto pela Água —  quanto o combate a vazamentos, que segundo a empresa fez com que a cidade deixasse de desperdiçar 7,3 bilhões de litros em nove anos de concessão.

Por fim, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que cuida do abastecimento de Hortolândia, disse que o Programa Corporativo de Redução de Perdas atua na substituição de redes e troca de ramais e hidrômetros. Além disso, a companhia afirmou que faz campanhas diárias e oferece cursos sobre consumo consciente e educação ambiental.

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