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Americana, 148 anos

Uma cidade e seus belíssimos templos

Como as igrejas contam suas próprias histórias e a de Americana

Por Gabriel Pitor

27 de agosto de 2023, às 08h20 • Última atualização em 27 de agosto de 2023, às 08h22

O ápice da Guerra Civil dos Estados Unidos, também conhecida como Guerra de Secessão, em 1864, fez com que muitos dos confederados deixassem as suas terras de origem e buscassem refúgio. O livro “A colônia perdida da confederação”, publicado em 1985 por Eugene Harter, traz o relato de uma senhora sulista que diz que “a guerra está caindo sobre nós, vinda de todos os lados. Ninguém se refere mais à ajuda da França e da Inglaterra, mas falam sobre imigração para o México e para o Brasil”.

A história já é popularmente conhecida por aqui. Os norte-americanos vieram para o Brasil e se instalaram na região onde hoje estão as cidades de Americana e Santa Bárbara d’Oeste. De seus países, trouxeram a cultura, os costumes e as crenças. Foi assim que o protestantismo nasceu e se desenvolveu na então Villa Americana.

A grandeza da Basílica de Santo Antônio de Pádua, na região central – Foto: Claudeci Junior / Liberal

Os protestantes são o ponto inicial da extensa relação dos americanenses com as religiões. Em junho de 1870, os pastores Emerson e James R. Baird organizaram a primeira Igreja Presbiteriana na região, que inicialmente contou com a participação de 12 famílias.

O templo foi inaugurado em 12 de junho de 1894, no terreno doado por Charles Hall, que até hoje abriga a comunidade, na Rua Sete de Setembro, no Centro, ainda que com várias modificações ao longo dos anos.

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Em Santa Bárbara, outro grupo de protestantes se organizava em 10 de setembro de 1871: os batistas, com a construção da Primeira Igreja Batista de Cristo no Brasil, dentro do atual Cemitério do Campo. O crescimento da comunidade fez com que fiéis se espalhassem por Americana.

Foi assim que o pastor Carlos Kraul, da Igreja Batista Fazenda Velha, organizou uma Escola Bíblica Dominical, no bairro Conserva, que levaria à origem da PIBA (Primeira Igreja Batista de Americana), em 8 de outubro de 1939. A tradicional igreja esteve sediada em quatro locais ao longo da história: em dois salões na Rua Anhanguera, na Rua Itororó (nos anos 1940) e, finalmente, na Rua Dom Pedro II, esquina com Benjamin Constant, onde está atualmente.

A nova versão da Igreja do Bom Jesus trouxe linhas mais contemporâneas – Foto: Marcelo Rocha / Liberal

Um ponto em comum entre os templos presbiterianos e batistas é que são mais modestos — em alguns casos as reuniões e os cultos acontecem em salões e casas —, principalmente se comparados aos da Igreja Católica, e não possuem uma inspiração arquitetônica. O costume se arrastou por décadas e nasceu de uma necessidade.

“Antes de 1894, não se podia construir igrejas protestantes com formatos de templos, porque era proibido. A Igreja Católica Apostólica Romana era a religião oficial do Estado. E mesmo com o advindo da constituição no País e o nascimento da República, ainda não havia uma liberdade para a construção de templos, senão católicos”, contou o pastor Ailton Gonçalves Dias Filho.

Parte da história de Americana, a sede da paróquia de Carioba – Foto: Claudeci Junior / Liberal

TEMPLOS DO CATOLICISMO

O contraste pode ser feito com a Matriz de Santo Antônio, conhecida como Matriz Velha, que é a primeira igreja católica de Villa Americana. Ela foi construída pelos imigrantes italianos e inaugurada em 13 de junho de 1897, depois que a Capela de Santo Antônio, edificada na Fazenda Salto Grande, passou a não comportar as atividades religiosas da vila.

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Outro templo tradicional de Americana é o da Paróquia de São João Batista, em Carioba. Os moradores da região, em sua maioria descendentes de alemães e italianos, trouxeram ideias do que viram em outros países. O início da construção se deu em 8 de setembro de 1947 e a conclusão aconteceu em meados de 1949.

Embora as arquiteturas possam ser apontadas como vernaculares, ou seja, são frutos do que as pessoas observaram, um conceito é apontado nos dois templos católicos: a verticalidade.

“As igrejas tradicionais, desde as góticas, têm como característica serem mais altas, mais verticais. Essa verticalidade é o símbolo do homem procurando o céu, procurando Deus”, apontou a arquiteta e urbanista
Daniela Morelli de Lima.

A sede da Primeira Igreja Batista de Americana, na Rua Dom Pedro – Foto: Marcelo Rocha / Liberal

“É um pouco diferente da basílica, porque mesmo ela sendo um prédio imponente, a busca não era necessariamente pela verticalidade, mas sim, por um estilo neoclássico, majestoso que era moda na época em que foi construída”, completou.

ABRAÇO DE DEUS
A majestosidade da Basílica de Santo Antônio pode ser explicada pela arquitetura neoclássica romana, que tem entre as suas principais características o uso de materiais nobres, a construção de pórticos com colunas, cúpulas e fachadas imponentes. O projeto foi elaborado pelo engenheiro e arquiteto Lix da Cunha, de Campinas, ainda que também tenha sido idealizado pelo Monsenhor Nazareno Maggi.

A construção iniciou-se em 1950 e foi necessária porque a Matriz Velha já não comportava mais as atividades da igreja. A pintura ficou a cargo dos irmãos italianos Pedro e Uldorico Gentilli, havendo também a participação do pintor e restaurador, Alberto Ettore Gobbo. O templo em formato de cruz latina ficou pronto em 1977, quando o pároco era o Monsenhor Constantino Gardinali, e se tornou o maior da Diocese de Limeira.

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“A basílica foi construída para ser catedral da diocese que iria nascer. Quando foi o criado o projeto de uma nova diocese, que virou a Diocese de Limeira, havia uma grande chance que fosse sediada aqui em Americana. E se fosse aqui, a nossa basílica seria a catedral”, contou o padre e reitor da basílica, Valdinei Antônio da Silva.

“A cor púrpura dessa igreja é por conta do ícone de André Rublev, um pintor russo que representou a trindade [pai, filho e espírito santo] como três figuras iguais, com capas de cores diferentes. Quem tem a capa púrpura é o pai. A ideia é que quando você entra na basílica, você ganha um abraço de Deus”, disse Valdinei.

Referência para os cristãos, a Matriz Velha, inaugurada no século 19 – Foto: Marcelo Rocha / Liberal

Em local próximo à região central onde está a basílica, no Jardim Girassol, nasceu nos anos 1950 a Igreja do Senhor Bom Jesus em terreno doado por Estevão Faraone, que foi elevada à condição de paróquia em 13 de junho de 1958. O primeiro padre a tomar posse foi Isaías Baptistella, grande responsável pelo crescimento da comunidade até a demolição da antiga igreja, em 2009.

O novo templo da paróquia foi inaugurado em agosto de 2016, durante os festejos do padroeiro, e possui características únicas e contemporâneas. A verticalidade foi deixada de lado, para que outros elementos da igreja pudessem ter um profundo significado litúrgico.

“A igreja antiga não estava adaptada às normas litúrgicas aprovadas em 1964. E a nova tem todo um significado: as luzes da sacristia e do batismo, os vitrais que representam o amanhecer e o entardecer, a escadaria na entrada, que significa a pessoa deixar o mundo e subir ir em direção a Deus, assim como aconteceu na ‘Transfiguração de Jesus’, quando ele subiu ao monte para orar”, explicou Carmen Berto Bernardo, que integrou a Comissão de Assuntos Econômicos da comunidade, junto a Pedro Norberto Cicolin e Carlos Eliseu Tomazella, na construção do novo templo.

Para Valdinei, não existe mais uma disputa entre protestantes e católicos, como visto no início do século passado. “Na época tinha isso, mas hoje não existe esse combate direto. É melhor você ser cristão de uma outra denominação e estar fazendo o bem no mundo do que não ser”, ponderou.

AMERICANA ATRAVÉS DOS TEMPLOS

Veja as principais construções religiosas que surgiram na cidade desde sua fundação:

  • 1894 – Inauguração da Igreja Presbiteriana;
  • 1897 – Inauguração da Matriz de Santo Antônio (Matriz Velha);
  • 1939 – Início da Primeira Igreja Batista de Americana;
  • 1949 – É concluída a obra Paróquia de São João Batista (Carioba);
  • 1958 – A Igreja do Senhor Bom Jesus se torna paróquia;
  • 1977 – Conclusão da Basílica de Santo Antônio.

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