25 de abril de 2024 Atualizado 23:44

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Americana

Meche admite dependência química, lamenta ‘sumiço’ e busca recuperação

Vereador de Americana teve princípio de overdose em junho; em entrevista exclusiva ao LIBERAL, diz que quer se manter limpo e ser feliz

Por George Aravanis

27 de setembro de 2019, às 08h56 • Última atualização em 27 de setembro de 2019, às 11h24

Foto: José Eduardo Milani - Câmara de Americana.JPG
Meche ficou afastado das sessões até semana passada, após tratamento

O vereador Marschelo Meche (PSDB), de Americana, disse nesta quinta-feira, em entrevista exclusiva ao LIBERAL, que é dependente químico e se arrepende de ter deixado “o mandato de lado” por causa do uso de cocaína. É a primeira vez que ele fala publicamente sobre o assunto.

Durante a sessão desta quinta, Meche, de 33 anos, conversou com o LIBERAL no corredor do plenário da câmara, em uma entrevista de sete minutos. Disse que no dia 2 de junho, quando foi flagrado pela polícia com cocaína em um motel de Santa Bárbara d’Oeste, estava tendo um princípio de overdose.

Ele ficou afastado das sessões até a semana passada, após encerrar um tratamento contra a dependência.

Agora, faz acompanhamento com um psicólogo via Skype e frequenta o NA (Narcóticos Anônimos) em Piracicaba. Nesta quinta, inclusive, o psicólogo que o atende deu uma palestra no começo da sessão a seu convite.

Desde o dia em que foi encontrado pela polícia, Meche diz não ter mais usado drogas. A nova meta do vereador, segundo ele, é se manter “limpo” um dia por vez, seguindo a filosofia chamada de “só por hoje”. “E só por hoje eu não usei. Então, eu estou feliz.” Leia a seguir os principais trechos da conversa.

No dia do episódio no motel, você teve um princípio de overdose?
[Meche acena que sim com a cabeça].

O que aconteceu no dia? Você estava sozinho?
Estava sozinho.

Você tinha ido lá para usar cocaína?
Sim. Eu sou dependente químico, estou em tratamento e agora pretendo ajudar as outras pessoas. E viver o “só por hoje”, que é um lema do Narcóticos Anônimos.

Foi a última vez que você usou?
Foi.

Você já tinha ficado um período tão grande sem?
Eu comecei a usar novamente em fevereiro, eu acho.

E por que você voltou?
Não tem motivo. Porque sou compulsivo. Sou um adicto. Então, eu tenho que viver o só por hoje. Só por hoje não vou usar. Agora, eu estou fazendo isso.

Com quantos anos você começou a usar drogas?
Com 18 anos.

E sempre foi cocaína?
Não, experimentei tudo.

Tudo?
Tudo.

Heroína?
Não, não, não [risos].

A dependência é de cocaína?
A minha droga favorita era a cocaína.

Nesse período da sua vida, você avalia que perdeu o quê?
Perdi o controle total. Não ligava para família, não ligava para nada. É muito difícil. Agora, tenho que começar por hoje. Graças a Deus tem dado certo.

Tem alguma coisa que você se arrepende muito de ter feito nesse período?
Muitas coisas, muitas coisas, principalmente ter deixado a população e o mandato de lado para querer só saber da substância. Agora, eu vejo o quanto isso me regrediu na vida.

Aquele primeiro afastamento seu, no ano passado, por três meses, também foi para tratamento de dependência?
Foi, dependência química.

Você acha que é natural que exista uma desconfiança por parte do eleitor de que “será que não vai acontecer de novo?”
Ainda existe. Por parte do eleitor, da família, dos amigos, de todo mundo. Mas, cara, eu não tenho que provar nada para ninguém. Tenho que provar só para mim mesmo que eu consigo. Porque a recuperação é individual, só depende de mim. E eu quero ter uma vida plena.

O que te motiva mais na recuperação?
É eu me manter limpo, é eu começar a ser feliz.

E na sua rotina, você mudou muita coisa?
Como eu sou muito compulsivo, o que me levava ao uso, na minha opinião, era o tempo muito vago. Agora, pretendo atuar mais aqui na câmara municipal, também fazer algum curso à noite, começar uma faculdade para manter a cabeça equilibrada.

Este tempo vago, as atividades de vereador não preenchiam?
Não preenchiam, à noite principalmente.

Que faculdade você pretende fazer?
Administração ou psicologia, talvez.

Você já ficou internado anteriormente?
Já.

E dessa vez [Meche não ficou internado] qual o principal diferencial que você acha em relação às outras?
Tenho que viver o “só por hoje”. Não posso prometer nada, não posso fazer nada, tenho que viver o “só por hoje”. E só por hoje eu não usei. Então, eu estou feliz. Essa é a filosofia. Nosso gabinete pretende estender a mão. Pretendo ajudar as pessoas com o mesmo problema que eu.

Como você pretende fazer isso?
Vou colocar nas redes sociais, por exemplo, para que as famílias procurem nosso gabinete, que a gente vai fazer uma parceria com clínicas, para estar ajudando pessoas com dependência química.

Você acha justo ter recebido o salário integral nesse período de afastamento?
Eu não fiquei afastado. Fiquei em contato com os meus assessores, trabalhando. Só não ia de quarta, quinta e sexta porque eu ficava em tratamento.

Nesse período, você considera que trabalhou?
Trabalhei normalmente.

O que você fazia?
Eles [assessores] passavam as instruções, requerimentos, essas coisas normais. No Facebook eu estou trabalhando também, normal.

Publicidade