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146 anos

Gastronomia e tecnologia despontam como novas ‘vocações’ econômicas

Setores são apontados como novas vocações econômicas de Americana, concentrando investimentos e ofertas de emprego

Por Marina Zanaki

27 de agosto de 2021, às 08h05

Americana se desenvolveu em torno do setor têxtil, mas nos últimos anos novas vocações econômicas têm surgido. Os serviços são verdadeira potência, respondendo por 32 mil empregos diretos e já superando a indústria no estoque de trabalho do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

“Americana era uma cidade de casas e hoje é uma cidade de prédios. Isso promoveu uma mudança em hábitos de consumo e uma descentralização da realidade de comércio e serviços”, avaliou o presidente da Acia (Associação Comercial e Industrial de Americana), Wagner Armbruster.

Secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico, Rafael de Barros apontou a área de gastronomia como um dos maiores destaques de serviços para geração de emprego e arrecadação.

Secretário adjunto aponta a área de gastronomia como um dos maiores destaques – Foto: Arquivo pessoal

“Em qualquer setor na gastronomia temos bons representantes, seja pizzaria, comida japonesa, comida internacional, alto padrão. Americana não deve nada para as maiores cidades da região, como Piracicaba e Campinas. Hoje não há necessidade de se deslocar para outro município para comer em um restaurante de altíssima qualidade”, disse o secretário.

Ele revelou que o Comitê de Retomada Econômica, fundado para fazer frente à crise do coronavírus, planeja a criação de dois festivais gastronômicos anuais.

Advogado e ex-secretário municipal de Negócios Jurídicos de Americana, Alex Niuri enxergou na gastronomia um potencial investimento. O restaurante Dal Giardino foi inaugurado no ano passado, após dois anos de planejamento.

Dal Giardino conta com ambiente sofisticado – Foto: Divulgação

“Americana tem ganhado boas novas casas e acreditamos que isso é bom para todos, é salutar que Americana se fortaleça como um polo gastronômico, atraindo pessoas da região”, disse o empresário.

O espaço foi montado atrás do Jardim Botânico. O destaque da casa é a ampla adega, com variedade de vinhos que acompanham pratos como risotos, pizzas e opções da alta gastronomia.

“Acredito que quem entra na gastronomia é por paixão. É uma área muito bonita, trabalhosa, exige dedicação, mas é prazeroso ao final poder servir a qualidade que a gente aprecia”, afirmou.

Americana também possui potencial para se tornar bastante relevante em um dos setores que mais emprega e cresce no país. “Uma área que vem se desenvolvendo e tentamos estimular é o setor de tecnologia, com a chegada de startups”, revelou o secretário adjunto Rafael de Barros.

Empresário aposta na relevância de Americana na área tecnológica – Foto: Divulgação

A Qyon Sistemas Inteligentes, empresa que usa inteligência artificial para desenvolvimento de softwares, foi inaugurada no ano passado com a compra de três startups de Americana.

No final de 2020, ela criou uma aceleradora de startups em sua sede, às margens da Rodovia Luiz de Queiroz. Cinco empresas já estão sendo incubadas no projeto, que recebeu investimento de R$ 3 milhões até o momento. Contudo, o número ainda pode crescer, pois o programa prevê 20 startups e R$ 10 milhões em recursos.

O desafio é encontrar projetos que se encaixem na linha da Qyon, com perfil de alta tecnologia e softwares disruptivos. Entre as empresas que fazem parte da aceleradora de startups, há representantes da cidade de São Paulo, interior e uma de Americana.

A aposta é do empresário Maurício Frizzarin, proprietário da Qyon e fundador da Folhamatic. A trajetória do empresário justifica o investimento na aceleradora. Maurício fundou a Folhamatic quando tinha apenas 17 anos, e apesar de contar com o capital necessário, sentiu falta de suporte com diversas áreas. É essa necessidade que ele busca suprir com a aceleradora, oferecendo apoio em setores como marketing, comercial e jurídico.

A ideia veio de toda a bagagem adquirida em sua experiência em Harvard, nos Estados Unidos. Maurício fez o curso de OPM (Owner Presidente Management), focado em gestão global e executiva, que ampliou seus horizontes.

“Harvard tem muito essa pegada social, uma visão de ajudar as pessoas, a crescer, investir naquilo que vai ajudar a humanidade”, contou o empresário ao LIBERAL.

O conhecimento foi complementado com uma especialização em inteligência artificial, que influenciou a fundação da Qyon em 2020.

Na avaliação do empresário, assim como a Folhamatic ajudou Americana a ser referência em profissionais da tecnologia, contratando mais de mil funcionários e atraindo para carreiras na área da tecnologia, a Qyon também pode ser uma importante peça na consolidação dessa vocação da cidade.

“Americana passou a ter relevância na área de tecnologia e acho que estamos contribuindo um pouco para ela se tornar um polo tecnológico”, avalia o empresário.

Na essência, a cidade é ‘Princesa Tecelã’

O setor têxtil sofreu com diversas crises nos últimos anos, como a concorrência de produtos da China, instabilidades econômicas e a própria pandemia do coronavírus (Covid-19). Apesar de todos esses reveses, Americana continua sendo, em essência, a Princesa Tecelã.

O setor em torno do qual o município cresceu e se desenvolveu é ainda hoje o que mais emprega na indústria. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o estoque de trabalhadores na fabricação de produtos têxteis era de 7.225 no mês de maio, o que representa 32% da mão de obra na indústria, composta por 22.253 empregos.

Quando incluída a confecção, com 2.067 trabalhadores formais, a área totaliza 41% da mão de obra industrial da cidade. Presidente do Sinditec (Sindicato das Indústrias de Tecelagem), Leonardo Sant’Ana lembrou que o setor ainda é responsável por diversos empregos indiretos em empresas que existem para atender, principalmente, à área têxtil.

“A região de Americana é o maior produtor do Brasil e um dos maiores do mundo de denin, o tecido para jeans. O polo também é um grande produtor de fibras artificiais sintéticas. Para se ter uma ideia do faturamento, a região de Americana, somando têxtil e confecção, tem faturamento de R$ 5,2 bilhões, o que corresponde a 3% de todo o faturamento nacional no setor”, destacou Leonardo.

No têxtil, as confecções se destacam. A Unidade de Desenvolvimento Econômico revelou que a maior demanda é por costureiras e que há atenção especial para essa capacitação no Cuca (Centro da Universidade do Conhecimento de Americana). O Sinditec apontou que 60% da mão de obra da área é feminina.

Para fortalecer o setor, Leonardo avalia que a reforma tributária é fundamental para melhorar a competitividade.

“O têxtil vai continuar por um bom tempo sendo o maior gerador de empregos na região, economicamente é o setor principal, e tende a crescer. Mas dependemos da reforma, que é de extrema importância para o Brasil inteiro, mas para o têxtil em especial”, destacou.

Presidente da Fidam destaca a importância de apoio para o setor têxtil continuar forte – Foto: Arquivo / O Liberal

Presidente da Fidam (Feira Industrial de Americana) e empresário têxtil, Edison Tadeu Botasso avalia que as indústrias precisam de apoio. “O setor têxtil infelizmente vem perdendo participação, mas ainda somos bastante fortes. Vejo que deveria continuar sendo dada muita atenção pelo número de trabalhadores que emprega”, afirmou o empresário.

A aposta da Unidade de Desenvolvimento Econômico é unir o setor emergente de tecnologia à tradicional área têxtil. “As empresas que resistiram e ficaram no têxtil são muito fortes, muito estruturadas. Se conseguirmos uma ligação entre tecnologia e setor têxtil, a cidade tende a se tornar ponta de novo no país. Se pudermos estimular uma área, provavelmente vai ser essa”, revelou o Secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico, Rafael de Barros.

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