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AMERICANA, 148 ANOS

Era Vargas: sob intervenções, Americana teve seis prefeitos em apenas cinco anos

No início dos anos 30, decisão sobre quem comandaria cidade vinha do Estado

Por João Colosalle

27 de agosto de 2023, às 08h23 • Última atualização em 27 de agosto de 2023, às 08h24

O interventor Adhemar de Barros (à direita do militar) visita Americana, nos anos 30, acompanhado do prefeito Antonio Zanaga (à esquerda do militar) - Foto: Reprodução

Em novembro de 1930, Getúlio Vargas chegava ao comando do Brasil com a articulação de levantes armados, pondo fim à chamada República Velha e à alternância de governo entre oligarcas paulistas e mineiros – protagonistas da chamada política do “café com leite”.

Distante da capital federal da época, o Rio de Janeiro, Americana contava seus primeiros anos de organização política. Seis anos antes, em novembro de 1924, uma lei estadual criou o município de Villa Americana.

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Dois meses depois, em janeiro de 1925, a recém-criada cidade deu posse à primeira formação da câmara municipal, de onde saiu a escolha do primeiro prefeito, Jorge Gustavo Rehder. Dali até o início da Era Vargas, Americana ainda teria mais dois chefes do Executivo: Angelo Orlando (1927 a 1928) e Carlos Matthiesen (1929 a 1930).

A chegada de Getúlio ao poder levou o País a uma era de intervenções. O Congresso foi fechado e as câmaras municipais, dissolvidas. A partir de então, os prefeitos eram escolhidos de acordo com os interesses dos chefes dos estados. O cenário político da época fez com que em um período de cinco anos Americana contasse com seis prefeitos.

A Era Vargas começou com a intervenção do capitão Hiram de Oliveira, que assumiu a chefia da prefeitura no início de 1931. Um pouco antes, já durante o período de transição, tomou posse como prefeito Joaquim Silveira Rosa, em substituição a Carlos Matthiesen, que contava com grande apoio popular. Joaquim, logo no dia de sua posse, já era alvo de protestos e durou pouco mais de dois meses.

Em 13 março de 1931, era nomeado, por intervenção, Antonio Zanaga. O empresário assumia uma Americana que não tinha nem 10 mil habitantes e contava com problemas graves em termos de abastecimento de água e saneamento.

Na década de 30, Americana viu um adensamento populacional, especialmente nos arredores da estação de trem – marco de fundação do município. Foi também no período que começaram a surgir pequenas indústrias têxteis, grande parte focada na produção de tecido rayon, que foram a base para a expansão industrial da década seguinte.

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Os anos 30, apesar da instabilidade política, foram de avanços econômicos para a cidade. Em 1933, por exemplo, uma publicação no jornal O Município afirmava que Americana contava com cerca de mil operários e fábricas que “brotam em todos os cantos”.

Dentre elas, a mais famosa era a Fábrica de Tecidos Carioba, que, sob o comando da família Müller, ajudou a formar um dos núcleos populacionais mais importantes da história da cidade.

As fábricas de Carioba – Foto: Reprodução

A gestão de Zanaga foi até meados de abril de 1933 e deu lugar a outro efêmero prefeito. Erich Rehder era engenheiro e filho de Jorge Rehder. Nos pouco mais de seis meses que permaneceu à frente da prefeitura, Erich se envolveu em uma polêmica com Zanaga, que envolvia a doação de barricas de cimento por parte do ex-prefeito a empresas da cidade.

Na versão de Zanaga, a doação havia sido feita porque as barricas estavam estragando. O compromisso era de que as empresas “devolvessem” à prefeitura quando houvesse necessidade. Já Erich tratava o caso como uma negociata de má-fé, que feria a moralidade pública. Notícias da época davam conta de que o então prefeito chegara a agredir um dos empresários envolvidos no caso.

Em setembro do mesmo ano, porém, o primogênito da família Rehder deixava o governo para que dele tomasse posse o quarto prefeito em menos de cinco anos. Na ocasião, assumira Bento de Toledo Rodovalho, agricultor e dono de fazenda, onde, diferente de boa parte dos lavradores da época, investia no plantio de trigo.

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Como prefeito, Rodovalho chegou a distribuir sementes e orientações sobre o cultivo. Por meio de decretos, concedeu isenções para a construção de imóveis na cidade e determinou que loteamentos tivessem aprovação da prefeitura.

O governo de Bento Rodovalho durou até 1934. Seu sucessor foi Paulo Furini, que tomou posse no dia 2 de julho daquele ano. “A cerimônia foi rapidíssima, fulminante, revestindo-se da máxima simplicidade”, trazia a edição de O Município. “Sem discursos, sem banquetes, tão de agrado aos lisonjeadores profissionais”.

O jornal cobrava Furini de problemas que persistiam na cidade: água e esgoto. No mês seguinte, um decreto do governo estadual determinava que engenheiros iniciassem imediatamente os estudos para a implantação da rede de abastecimento e saneamento em Americana. Mas a demora para que o serviço saísse do papel e seus custos foram motivos de polêmicas nos jornais da época.

Em outubro de 1935, um médico especialista no atendimento a crianças e em clínica geral, com consultório na Rua Vieira Bueno, assumia o governo municipal. Leopoldo Viriato de Saboia seria o sexto prefeito em cinco anos. A nomeação se deu após um vazio de poder no município durante algumas semanas.

Em uma edição de O Município, em setembro de 1935, um artigo trazia como título “Procura-se um prefeito”. A reclamação era de que, há pelo menos um mês, desde a saída de Furini, o diretório do Partido Constitucionalista ainda não havia nomeado um sucessor.

É bastante lamentável a situação em que se encontra nosso município. Faz hoje um mês que estamos sem prefeito, culpa que cabe unicamente ao diretório do Partido Constitucionalista

Crítica publicada no jornal O Município, de setembro de 1935

À frente da prefeitura, Saboia ficaria até meados de 1936, quando, em um intervalo democrático da Era Vargas, consequência da Revolução Constitucionalista de 1932, os municípios voltaram a escolher seus representantes do Legislativo e do Executivo, ainda que indiretamente. Como prefeito, a câmara elegeu para um novo mandato Antonio Zanaga, que governou até 1941.

Em meio ao período, ainda no segundo ano de governo de Zanaga, em novembro de 1937, o Brasil veria o surgimento do Estado Novo, com novas restrições políticas, como o fechamento do Congresso e das câmaras.
Em anos seguintes ao fim da gestão Zanaga, Americana voltaria a ter prefeitos nomeados por interventores. Só após 1945, ano da deposição de Vargas, o processo eleitoral retornaria.

Veja os prefeitos nomeados em Americana no início da Era Vargas

1931
Joaquim Silveira Rosa

1931 a 1933
Antonio Zanaga

1933
Erich Rehder

1933 a 1934
Bento de Toledo Rodovalho

1934 a 1935
Paulo Furini

1935 a 1936
Leopoldo Viriato de Saboia

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