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São João Carioba

Comissão se organiza e angaria fundos para construir a nova igreja

Patrimônio em detalhes: capela é um símbolo de fé, memória e resistência de Carioba

Por Isabella Holouka

08 de junho de 2023, às 09h33 • Última atualização em 08 de junho de 2023, às 09h42

O altar-mor da igreja, todo feito em mármore, foi recebido como doação e data de 26 de junho de 1953 - Foto: Marcelo Rocha - Liberal.JPG

Não se sabe a data exata, mas os fiéis do bairro Carioba se uniram para fundar uma comunidade dedicada ao profeta João Batista entre 1925 e 1927. A pequena capela ficava entre uma colônia de casas às margens do ribeirão Quilombo e já era palco de atos de devoção como a coroação da virgem Maria e procissões com a imagem do padroeiro.

Com o tempo, a capela foi ficando pequena e os fiéis decidiram construir uma nova, maior e mais bem situada, em um local que, na época, era o mais alto e visível de todo o bairro. Em 1946, uma comissão se organizou para angariar fundos para a construção e, dentre as ações, já estavam os festejos juninos para o padroeiro. 

No ano seguinte, em 29 de junho de 1947, com a presença do bispo da Diocese de Campinas, houve o lançamento da pedra fundamental. Todo o material utilizado na construção foi doado pela família Abdalla, que na época era proprietária do bairro Carioba, inclusive da Fábrica de Tecidos onde todos os moradores eram empregados. Foram muitos os que colaboraram nas obras. 

A primeira missa com a capela parcialmente pronta foi em 1949, fortalecendo um legado de trabalho pastoral, litúrgico e social no local. Em 1971, com a construção de galpão e forno nos fundos da igreja, a vocação da comunidade para a famosa quermesse do padroeiro foi consolidada.

Mas com o fechamento da Fábrica de Tecidos Carioba e a destruição do bairro operário, por volta de 1982, a comunidade se enfraqueceu. Coube a um pequeno grupo de fiéis Z Z a insistência para que pelo menos a igreja continuasse de pé, como um marco de fé, memória e resistência dos cariobenses. Em 1994, uma nova comissão é formada com o intuito de retomar os antigos eventos tradicionais para levantar fundos, recuperar e ampliar a capela. 

O professor e engenheiro mecânico Jader Neves Grilo é filho de cariobenses, integrou a comissão formada na década de 1990, continua voluntário e é um dos detentores da história da comunidade. Ele conta ter reunido muitas informações através de documentos encontrados na capela, mas a maior parte dos detalhes foi contada pelos antigos.

“Aqui ao redor da Igreja havia colônias de casas dos dois lados, e a festa era nessa rua lateral asfaltada. Na torre, no lado de fora, megafones antigos transmitiam a missa para o restante do bairro, uma coisa de Interior”, lembra.

Jader acompanhou a reportagem do LIBERAL em uma visita à Igreja São João Batista, revelando detalhes da construção, principalmente os que resistem ao tempo.

ALTAR. O altar mor da capela, todo em mármore, foi uma doação de D. Catharina Antonio, mãe dos irmãos Manoel e Nicolau Abdalla, e é datado de 26 de junho de 1953. Nas obras de restauro na década de 1990, a área ganhou mais profundidade, com a intenção de ampliação, e a peça foi colocada ao fundo. O adorno acima e o nicho à direita do altar também foram feitos posteriormente, por Ademir Zanarelli, que na época era pároco na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, no bairro Cordenonsi. Originalmente, as imagens de São João Batista, Maria e São José ficavam acima do altar.

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ANJOS E SANTOS. Feitos em gesso, os anjos que guardam as laterais da Igreja são originais da época e foram recuperadas no restauro. Hoje elas acomodam arandelas de iluminação, mas até a década de 1980 serviram como apoio para outras imagens de santos, como Santo Antônio e São Pedro. Muitas imagens estão guardadas ou foram doadas para fiéis.

VITRAIS. No período em que ficou fechada e passou por degradação, a Igreja São João Batista teve seus vitrais quebrados. Depois, na restauração, através de fotografias da época da fundação, os voluntários retomaram o mesmo formato, cores e ordem das cores nas janelas. O vitral na porta de entrada, que mostra o batismo de Cristo, também foi instalado na época da restauração, substituindo uma porta simples de madeira que estava tomada por cupins. 

PISO E FORRO. O ladrilho hidráulico que reveste o Z Z piso da igreja é original da época da fundação. Somente na área do altar, devido à reforma de ampliação e afastamento da peça em mármore, foi preciso trocar o piso, novamente com a escolha de ladrilho hidráulico.

O forro original em madeira precisou ser completamente substituído na restauração da Igreja. Devido à acústica elogiada do ambiente, optou-se por refazer o forro em madeira, mantendo as características originais e alterando apenas a iluminação, com a retirada de pendentes e instalação de iluminação embutida. As sancas laterais em gesso também foram iluminadas.

SINO. Os sinos originais da Igreja foram subtraídos no período em que ela ficou fechada. Segundo Jader, na época de restauração, os voluntários receberam a doação de um sino menor, que atualmente tem usos pontuais em celebrações. 

Patrimônio é tombado
O Complexo Industrial de Carioba foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), através de uma resolução de 2013, pois configura como uma das primeiras fábricas têxteis de São Paulo, com sistema de produção paternalista. O perímetro tombado inclui a Igreja São João Batista e outras edificações na avenida Carioba, como o antigo Grupo Escolar, a residência Hermann Müller e o conjunto de galpões de fábricas têxteis.

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