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Americana e as epidemias

Americana e a dengue, desde 1992

A história da dengue no município remonta aos anos 90 e é tema da segunda reportagem da série sobre como Americana enfrentou epidemias em sua história

Por Marina Zanaki

07 de junho de 2020, às 10h53 • Última atualização em 13 de abril de 2022, às 09h31

Pessoas tomando soro no chão, filas enormes para atendimento e mortes. O cenário descrito foi provocado pela epidemia de dengue que ocorreu entre 2014 e 2015 em Americana, sobrecarregando o sistema público e privado de saúde.

Mosquito Aedes aegypti chegou a ser erradicado na década de 50, mas voltou a circular – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

A Vigilância Epidemiológica de Americana contabiliza mais de 16 mil pessoas infectadas nesses dois anos, quando quatro pessoas morreram em decorrência da doença.

A história da dengue no município, entretanto, remonta aos anos 90 e é tema da segunda reportagem da série sobre como Americana enfrentou epidemias em sua história.

No domingo passado, o LIBERAL mostrou os impactos do H1N1. No próximo fim de semana, a pauta é o surto de impaludismo (malária), que atingiu a cidade no início de 1900.

Amaury atuou na primeira equipe de controle ao mosquito, nos anos 90 – Foto: Arquivo – O Liberal

O primeiro foco de mosquito Aedes aegypti foi localizado em Americana em 1992. Assessor de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde, Amaury Souza atuou na primeira equipe de controle do mosquito, contratada em 1991.

Ele lembra que a primeira larva foi encontrada em uma borracharia no bairro São Vito, um ano após o início dos trabalhos.

Os agentes coletaram a larva e precisaram enviá-la para a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), em Campinas, para realização de uma contraprova.

“Quando o primeiro foco foi encontrado nesse pneu houve aquele alarde. Era realmente algo novo, a gente acompanhava os treinamentos, mas não estava vivenciando a presença do mosquito. A partir disso, foram feitos inúmeros arrastões, mutirões de limpeza e educativos”, conta o assessor.

Amaury foi contratado como coordenador das ações de combate à dengue em 1993, cargo que ocupou até 2010.

Inicialmente, foram identificados casos importados da doença, mas a circulação de mosquitos aliada à presença da doença em indivíduos fez com que os primeiros casos autóctones – ou seja, contraídos dentro da cidade –
surgissem em 1995.

A busca por larvas do Aedes é uma das ações para se controlar os casos de dengue na cidade – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

SURTOS. Antes das epidemias em 2014 e 2015, os casos registrados na cidade estavam ligados a surtos pontuais.

Amaury aponta que uma área com grande incidência compreendia os limites com Santa Bárbara d’Oeste, entre os bairros Cidade Nova e Parque Gramado. Ações conjuntas entre as duas prefeituras eram comuns, segundo ele.

“É a maior faixa de conurbação que existe entre Americana e Santa Bárbara, e acho que isso influencia na transmissão. Havia incidência todo ano nessa região e também em outros bairros, como Cariobinha, Antonio Zanaga”, explica.

EPIDEMIAS. Em 2014, o número de casos de dengue explodiu em Americana. Naquele ano, o município registrou a maior quantidade de infecções – foram mais de 9 mil, com picos entre março e maio.

A cidade chegou a ser a quinta com mais notificações da doença no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Um ano depois, uma nova epidemia contabilizou 7,3 mil casos.

Médico infectologista há 30 anos em Americana, Arnaldo Gouveia Junior avalia que ocorreu na cidade algo semelhante ao que o coronavírus provocou em diversos sistemas de saúde do mundo nos últimos meses.

O tratamento para dengue consiste, basicamente, em hidratar o paciente por meio da aplicação de soro na veia, mas, na ocasião das epidemias, lembra o médico, pacientes chegavam a esperar por até oito horas por atendimento, tanto em hospitais públicos quanto particulares.

“Dava vontade de chorar, aquele tanto de gente, todo mundo bravo, esperando. Até houve contratação de mais médicos, mas chegou uma hora que não tinha mais sala para colocar as pessoas”, conta. “Tinha gente sentada, deitada, em pé”.

Técnica de enfermagem do Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi desde 2012, Giovana Colombo pondera que, durante a epidemia, havia outros locais com pronto-atendimento na cidade e isso ajudou a amenizar a carga do HM.

PIORES DIAS. O publicitário Jenilson Silva, de 23 anos, foi um dos 2,8 mil infectados em abril de 2015, segundo pior mês da série histórica de casos na cidade. Ele lembra que chegou a perder a consciência e ficou uma semana internado.

“Contraí na minha rotina de casa, trabalho e faculdade. Meu ex-patrão comentou que tinha pego e ficado ruim, então eu tomava cuidado. Passava repelente, olhava se não tinha ‘pernilongo’ por perto, fazia soluções caseiras de citronela”, recorda o publicitário.

Jenilson conta que começou a apresentar os sintomas durante uma viagem de final de semana. Com retorno programado para a noite de domingo, ele acabou internado por uma semana.

“Costumo falar que foram os piores dias da minha vida, internado à base de soro. Sentia muita dor no corpo, nos olhos, foi muito intenso”, lembra o publicitário.

ENDEMIA. A dengue é uma doença considerada endêmica – ou seja, todo o ano há nova ocorrência de casos, relacionada à sazonalidade da estação chuvosa. Em 2020, foram registrados até maio 337 casos positivos da doença em Americana e uma morte é investigada.

“Com a epidemia de coronavírus, as pessoas se concentraram só nisso e esqueceram das outras doenças. A dengue é muito simples, basta a gente prevenir”, alerta a técnica de enfermagem Giovana Colombo.

A ocorrência mais intensa ou mais amena da dengue em determinado ano está ligada, segundo especialistas, ao próprio ciclo da doença, ao sorotipo circulante e ao comportamento da população em relação à prevenção.

No ano passado, por exemplo, a circulação de um sorotipo diferente colaborou para que Americana tivesse a terceira pior epidemia de dengue deste então, com 4,5 mil casos confirmados.

SEMELHANÇAS. Mesmo diante da pandemia do coronavírus, muitas pessoas que se contaminaram este ano com o vírus respiratório receberam diagnóstico inicial de dengue.

As duas doenças são causadas por vírus, e o desenvolvimento inicial dos sintomas pode ser semelhante – febre, dor muscular, diarreia, vômito e dor de cabeça.

Professora do curso de Enfermagem da FAM (Faculdade de Americana), Grace Pfaffenbach explica que elas começam a se diferenciar quando o paciente passa a apresentar problemas respiratórios e tosse.

“Como a gente vive em epidemia de dengue e o vírus está circulando, é possível confundir nos primeiros sintomas”, explica Grace.

Outra doença confundida com a dengue, a febre maculosa, transmitida pela picada de carrapato, provocou surto em Americana em 2018. Naquele ano, 11 pessoas se infectaram e nove morreram.

“Foi terrível porque estava saindo de surto de dengue, e é muito parecido no começo”, lembra o infectologista Arnaldo Gouveia Junior. “Os primeiros casos morreram porque quando se tocou que não era dengue e descobria que era maculosa já tinha passado o tempo”.
retorno. O Aedes aegypti chegou a ser erradicado no Brasil nos anos 50, em ações de combate à febre amarela. Mas, na década seguinte, voltou a circular.

Na década de 1990, após surtos de dengue, o Ministério da Saúde passou a promover campanhas para a erradicação do mosquito. Recursos foram enviados às prefeituras para que montassem as equipes para combate à doença. O conceito de erradicação foi substituído pelo de controle a partir de 2002.

“Chegou-se à conclusão que, por mais dinheiro que se investisse, por mais funcionários que se contratasse, não ia erradicar. A própria questão comportamental e a complexidade das cidades explicam”, afirma Amaury.

Combate ao mosquito

O Aedes aegypti é um mosquito doméstico. Ele vive dentro de casa e perto dos seres humanos. Com hábitos diurnos, o mosquito (apenas a fêmea) se alimenta basicamente de sangue humano, principalmente ao amanhecer e ao entardecer, para se reproduzir. A reprodução acontece em água parada, limpa ou suja, a partir da postura de ovos pelas fêmeas. Os ovos são colocados em água e distribuídos por diversos criadouros.

Algumas medidas ajudam a evitar a proliferação do mosquito:

  • Tampe os tonéis e caixa d’água
  • Mantenha as calhas sempre limpas
  • Deixe garrafas sempre viradas com a boca para baixo
  • Mantenha lixeiras bem tampadas.
  • Deixe ralos limpos e com aplicação de tela
  • Limpe semanalmente ou preencha pratos de vasos de plantas com areia
  • Limpe com escova ou bucha os potes de água para animais
  • Retire água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa

Fonte: Ministério da Saúde

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