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ECONOMIA

Afetado por e-commerce internacional, setor têxtil mira crescimento em 2024

Indústria, que emprega cerca de 9,1 mil pessoas em Americana, busca competitividade neste ano

Por Ana Carolina Leal

07 de janeiro de 2024, às 08h00 • Última atualização em 07 de janeiro de 2024, às 08h54

A indústria têxtil inicia 2024 com perspectiva de crescimento para o setor depois de um ano desafiador, especialmente marcado pela concorrência acirrada com produtos importados.

O cenário de competitividade se tornou a principal preocupação das fábricas de vestuário, impactadas pela isenção de imposto de importação para compras de até US$ 50, destinadas a varejistas certificados no programa Remessa Conforme, como as gigantes chinesas Shein, Shopee e AliExpress.

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Segundo Dilézio Ciamarro, diretor da Ciamarro Têxtil em Americana, que produz tecidos para confecções, área de informática e aplicações industriais, no ano passado houve uma redução no faturamento de aproximadamente 25% na comparação com 2022. Ele atribui esse declínio à falta de confiança dos clientes no mercado, resultando em pedidos reduzidos e uma abordagem mais cautelosa em relação aos estoques.

“Esperamos que em 2024 as coisas comecem a se encaixar e que a confiança volte. Por enquanto, o mercado está bastante retraído”, afirma Ciamarro.

O empresário também comentou sobre os prejuízos que as fábricas brasileiras estão tendo, especialmente o setor têxtil, com a taxação dos produtos.

“É um valor [refere-se ao US$ 50] que hoje equivale a cerca de R$ 250, portanto, existem muitos produtos dentro desse preço que as pessoas buscam lá fora com uma redução muito grande de valores em função da não cobrança de imposto. E aqui, mesmo com esses R$ 250, pagamos impostos. Então, isso não é justo”, critica.

Dilézio Ciamarro, empresário do setor têxtil em Americana – Foto: Claudeci Junior/Liberal

Pedro Saltorelli, da Saltorelli Têxtil, com mais de 25 anos de atuação no ramo têxtil em Americana, destaca que 2023 foi um ano desafiador tanto para a indústria quanto para o varejo, com uma queda de 7% a 8% nas atividades de confecção.

Ele aponta o impacto negativo do aumento das importações convencionais de confeccionados, que subiram 25%, somado às encomendas de pequeno valor agregado por meio de plataformas internacionais de vendas.

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Saltorelli prevê que aproximadamente 3,5% a 4% do consumo de vestuário em 2024, o equivalente a 250 milhões de peças, virá para o Brasil por meio dessas plataformas digitais. “Isso tudo resultou em um ano negativo para o varejo e consequentemente para a indústria”.

Apesar dos desafios, o empresário demonstra otimismo para 2024, destacando os investimentos realizados no ano anterior em sua empresa – localizada às margens da Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304), em Americana –, incluindo uma nova tecelagem, melhorias no tratamento ambiental e na recuperação de água. Ele acredita que esses investimentos permitirão competir de forma mais eficaz com produtos provenientes de países asiáticos.

Maria Fernanda Grecco Meneghel, também empresária do ramo têxtil de Americana, afirma que 2023 foi um ano estável e demonstra perspectivas de crescimento para 2024. Ela destaca a importância da concorrência justa, onde todos pagam os devidos impostos, ressaltando que a deslealdade no cumprimento dessas obrigações é prejudicial ao próprio setor.

Em Americana, a indústria têxtil emprega cerca de 9,1 mil dos 75,8 mil trabalhadores com carteira assinada, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Indústria têxtil emprega cerca de 9,1 mil pessoas em Americana – Foto: Arquivo/Liberal

Associação que representa setor prevê reação tímida em 2024

A Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) acredita em uma reação modesta para o setor em 2024, com um crescimento entre 0,5% e 0,9% na produção.

Os últimos levantamentos, feitos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e relativos a outubro, mostram queda, em 12 meses, de 8,4% nas vendas de tecidos, vestuário e calçados. Na produção, as fábricas de confecção de artigos de vestuário e acessórios também apresentaram um recuo de 9,3% no mesmo período.

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Rafael Cervone, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e presidente emérito da Abit, demonstra cautela diante da situação, mas vislumbra um cenário mais positivo em comparação com o ano anterior. Ele destaca a aprovação da reforma tributária como um fator que melhora o ambiente de negócios no Brasil, apesar de seus efeitos serem percebidos a médio prazo.

A mudança na forma como o País cobra seus impostos, a partir de 2033, unificará cinco tributos – ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins – em uma cobrança única, dividida entre os níveis federal (CBS – Contribuição sobre Bens e Serviços) e estadual/municipal (IBS – Imposto sobre Bens e Serviços).

Com relação às compras no e-commerce, Cervone considera o cenário bastante preocupante e diz que tem afetado, especialmente as pequenas e médias empresas.

“A Shein [empresa estrangeira], em apenas três dias importou mais de 100 toneladas de material têxtil para o Brasil. Foram mais de 200 milhões de pacotes no decorrer do ano passado, resultando em uma perda de arrecadação estimada entre R$ 30 a R$ 40 bilhões para o governo federal. Isso é um absurdo, uma falta de isonomia total entre empresas brasileiras e estrangeiras”, critica.

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