Operação Invoice II
Quadrilha de estelionatários aplicava golpes de maneira sofisticada
Segundo MP, estelionatários tinham grupo no WhatsApp com 175 membros para compartilhar dados bancários
Por Leonardo Oliveira
20 de dezembro de 2020, às 08h20 • Última atualização em 20 de dezembro de 2020, às 09h17
Link da matéria: https://liberal.com.br/cidades/sumare/quadrilha-de-estelionatarios-aplicava-golpes-de-maneira-sofisticada-1393248/
A Polícia Civil desencadeou, neste ano, a primeira e segunda fases da Operação Invoice, que investiga uma quadrilha interestadual acusada de praticar golpes pela internet. E o modo de agir do grupo era sofisticado, com um complexo esquema para praticar fraudes bancárias e comerciais. A avaliação é do Ministério Público, que apresentou denúncia contra 13 pessoas na semana passada na 1ª Vara Criminal de Sumaré.
O crime é apurado na cidade porque o suposto líder da quadrilha é de Sumaré. Foi a partir da prisão dele, em abril, que a polícia chegou a outras pessoas acusadas, moradores em diversos estados do País, de integrar o grupo, neste mês.
Com a quebra do sigilo telefônico do líder, os agentes tiveram acesso a conversas pelo WhatsApp que indicam que o golpe era realizado em seis etapas. Diferentes pessoas eram encarregadas por cada uma das atividades.
Primeiro, havia indivíduos que conseguiam as informações de cartões de créditos das vítimas.
Um deles, apelidado de “Magaiver”, vendia os dados individuais ou em pacotes para a quadrilha. Ele cobrava valores diferenciados de acordo a categoria de cartões de crédito, segundo o MP.
Magaiver administrava um grupo no Whats App com 175 participantes. Nele, a suspeita é de que vendia e trocava dados bancários e logins de lojas virtuais. Isso fazia parte da segunda etapa do esquema.
Com as informações das vítimas em mãos, os integrantes tentavam comprar em diversas lojas na internet mercadorias como televisores, celulares e computadores. Em caso de sucesso, geravam uma dívida para as vítimas.
Depois da compra, o desafio era receber o produto. Para isso, há membros que se infiltravam em transportadoras para assediar funcionários e desviar a rota. Com isso, em vez de o produto ir para o endereço verdadeiro dos clientes prejudicados, era levado até a casa dos estelionatários.
Com os bens em mãos, os criminosos revendiam para outros membros, segundo as investigações. Em média era cobrado 50% menos do que o valor real do produto, cotado em nota fiscal. Os compradores, por sua vez, eram os responsáveis por venderem os eletroeletrônicos pela internet.
Havia ainda, caso fosse necessário, um outro membro que falsificava cartões de crédito. Em uma das conversas interceptadas, o suspeito oferece a outro um cartão com chip para usar em máquinas, com valor de compra ilimitado. Ele cobra R$ 10 mil por esse cartão.
Ao todo, 28 suspeitos de participarem do esquema foram presos nas duas fases da operação. Juntos, eles deram no ano passado um prejuízo de R$ 5 milhões com os golpes praticados, segundo a Polícia Civil. O caso segue sob investigação e ainda não houve decisão sobre a denúncia do MP.
LUXO
O material juntado no processo indica que os suspeitos levavam uma vida luxuosa. Em uma das conversas, dois integrantes combinam de pagar viagens em um cruzeiro usando cartões falsos, inclusive citando que levariam drogas para serem traficadas durante a viagem.
“Salienta-se que todos os bens apreendidos nas buscas e apreensões demonstram-se incompatíveis com os rendimentos dos réus, sendo que nenhum destes demonstrou, quando das diligências realizadas, renda fixa que seja derivada de outra atividade que não os crimes que cometeram”, diz um trecho da denúncia a qual o LIBERAL teve acesso.
COMO FUNCIONAVA O GOLPE
Em relatório de investigação, Polícia Civil detalhou esquema que envolvia divisão de funções e práticas criminosas
CARTÕES DE CRÉDITO. Em um primeiro momento, os integrantes da quadrilha conseguem acesso a informações de cartões e as vendem a outros integrantes.
LOGINS. Além dos cartões, eles também conseguem informações sobre contas de usuários em lojas virtuais.
APROVAÇÃO. Com as informações de cartões e logins, os criminosos realizam testes e, resultando positivo, fazem compras de mercadorias em nomes de terceiros.
FALSIFICAÇÃO. Para o recebimento das mercadorias, é necessário apresentar ao carteiro, ao entregador ou ao lojista documento de identidade com o nome do comprador, e assim, são confeccionados documentos falsos.
ROTA. Entregues pelo Correios ou por transportadores, as mercadorias são desviadas da rota em conluio entre os integrantes da quadrilha e o entregador.
VENDA. Com os produtos desviados, parte da quadrilha os compra por valor até 50% mais baixo do que o normal e revendem a terceiros, pessoalmente ou por meio de sites de vendas.