26 de abril de 2024 Atualizado 14:18

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Procedimento

Barriga solidária é mais uma alternativa para ter um filho

Alternativa está sendo abordada na novela “Amor de mãe”, da Rede Globo; saiba mais sobre e conheça as regras para o procedimento

Por Marina Zanaki

01 de março de 2020, às 08h46 • Última atualização em 02 de março de 2020, às 13h30

Quando Ana Paula Silva Campos descobriu que não tinha útero, aos 15 anos, ouviu da mãe a promessa que poderia usar sua barriga quando quisesse ter um filho. Hoje, com 33 anos e formada em pedagogia, Ana Paula é mãe de Maria Alice, de cinco anos. Ela e o marido, o analista de sistemas Thiago Campos de Lima, de 33 anos, recorreram à mãe de Ana Paula para que Alice tivesse uma “casa” onde pudesse ser gestada.

Foto: Divulgação
O casal recorreu à mãe de Ana Paula para que Alice tivesse uma “casa” onde pudesse ser gestada

“Minha mãe disse, fica tranquila, quando você quiser ter filho os médicos vão ter inventado alguma coisa e, se precisar, minha barriga está aqui”, recorda Ana Paula, que mora na cidade de Campinas (SP).

Para realizar o sonho de ser mãe, a pedagoga usou a técnica da barriga solidária. O tema está sendo abordado atualmente na novela “Amor de mãe”, da Rede Globo, na qual a personagem da atriz Adriana Esteves sugere emprestar a barriga para gerar o neto após a nora ter perdido o útero.

De acordo com o médico Aristides Manoel Bragheto, ginecologista especializado em medicina reprodutiva, o procedimento de barriga solidária é uma “excepcionalidade” dentro da reprodução assistida, já que boa parte dos problemas para fertilização estão relacionados aos gametas. Nesses casos, a fertilização in vitro acaba solucionando.

A barriga solidária – ou útero de substituição, como também é conhecida – é indicada para os casais em que o problema se encontra no útero. Mulheres com síndrome de Rokitansky, que assim como Ana Paula nasceram sem o útero, podem lançar mão dessa alternativa. O procedimento consiste em coletar óvulos e espermatozoides do casal, fecundá-los, e implantar o embrião no útero de uma mulher.

Foto: Divulgação
Alice, hoje com 5 anos de idade

“A gente pergunta para a Alice: como papai do céu fez você? Ela responde que ele abençoou o médico, que pegou um pedacinho da mamãe, um pedacinho do papai, misturou e colocou na barriga da vovó”, contou Ana Paula.

“O importante dentro desse conceito da barriga solidária e da doação de gametas é que se trata de um ato altruísta. No caso dos gametas, são pessoas que não se conhecem; já a barriga solidária entra nesse conceito ao ceder o útero temporariamente para alguém realizar o sonho de ser mãe”, declarou Bragheto.

“Acho de extrema importância abordar esse assunto, porque sei que existem muitas mulheres que como eu sofrem dessa síndrome e nem sabem por onde começar, não sabem que isso é possível. Não é um processo simples e nem fácil, tem muitos papeis para preencher e não é barato, mas é uma possibilidade. Vai ter dificuldades, lidar com pessoas falando. No meu caso deu certo na primeira tentativa, mas tem gente que precisa tentar várias vezes”, alertou Ana Paula.

O que diz a lei sobre barriga solidária

No Brasil é proibida a comercialização de qualquer parte do corpo humano. Dessa forma, o útero de substituição deve ocorrer sem qualquer relação comercial. Uma resolução de 2017 do CRM (Conselho Regional de Medicina) regulamentou as regras para a doação do útero.

O médico Matheus Roque, especialista em reprodução humana, explicou que a resolução permite que apenas mulheres com vínculo familiar de até 4° grau do casal podem atuar como barriga solidária. Assim, pode emprestar o útero quem for mãe, irmã, avó, tia ou prima de uma das partes do casal.

“Caso não exista uma parente de 4º grau, e seja uma amiga, por exemplo, precisamos de uma liberação do CRM para que possa ser feito o tratamento. Tem que ser feita uma avaliação psicológica, exames de quem vai gestar, mostrando que não existem riscos e também comprovando que não existe vínculo financeiro”, explicou o médico.

Ele indicou ainda que, apesar de não ser permitido pagar pelo procedimento no Brasil, os pais devem arcar com todos os custos médicos durante a gestação, como pré-natal, e suporte psicológico à gestante, caso seja necessário.

A mulher que se dispõe a ser a barriga solidária deve passar por avaliações médicas que atestem que ela tem condições de passar por uma gestação. Os profissionais indicam que tenha, no máximo, 50 anos.

Publicidade