PAIS & FILHOS
Saiba como identificar e lidar com pais narcisistas
Pessoas com esse transtorno de personalidade buscam ser o centro das atenções e projetam nos filhos seus desejos, tratando-os apenas como objetos
Por Ana Carolina Leal
29 de abril de 2024, às 13h45 • Última atualização em 29 de abril de 2024, às 13h47
Link da matéria: https://liberal.com.br/mais/bem-estar/segunda-saiba-como-identificar-e-lidar-com-pais-narcisistas-2161499/
O narcisismo é um transtorno de personalidade que existe em um espectro. Por isso, qualquer pessoa pode ter sinais de narcisismo, no entanto, especialistas estimam que apenas cerca de 6% da população é diagnosticada com a forma mais extrema, o transtorno de personalidade narcisista. Mas e quando você tem pais narcisistas? O que fazer? Como lidar com os desafios que surgem desse tipo de relação?
A psicóloga cognitiva comportamental e especialista em hipnose ericksoniana, Elaine Mobilon, de Americana, destaca a importância de diferenciar entre expectativas elevadas e comportamento narcisista. Nem todo pai ou mãe que coloca altas expectativas sobre seus filhos é necessariamente um narcisista.
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De acordo com a profissional, um pai ou mãe narcisista busca sempre ser o centro das atenções, projetam nos filhos seus desejos grandiosos, tratando-os apenas como objetos para a realização de suas vontades.
Esses pais, segundo Elaine, carecem de empatia e frequentemente recorrem à manipulação emocional para atingir seus objetivos, além de criticar constantemente as conquistas de seus filhos, diminuindo seu valor e autoestima.
“Os efeitos psicológicos desse tipo de relação podem ser devastadores, resultando em uma visão negativa de si mesmo por parte da criança, baixa autoestima, dificuldade em estabelecer limites nas relações e até mesmo o desenvolvimento de ansiedade e depressão”, comenta.
O ambiente emocionalmente instável criado por pais narcisistas pode levar as crianças a se sentirem responsáveis pelos sentimentos dos próprios, desenvolvendo um sentimento de culpa constante. Diante desse cenário, Elaine diz ser fundamental que os filhos reconheçam a importância de manter o foco em suas próprias vidas, buscando apoio emocional e compreensão sobre a dinâmica narcisista presente na relação.
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Rompimento
Tomar a decisão de cortar laços com um pai ou mãe narcisista é uma escolha extremamente difícil, complexa e individual, afirma Elaine.
De acordo com ela, alguns casos podem ser tratados apenas com a mudança de comportamento. “Um filho, por exemplo, que está saindo de casa. A mãe ou o pai narcisista pode dizer que está sendo abandonado. Esse filho pode explicar aos pais que apenas está seguindo a vida saudável de um adulto e não os abandonando”, sugere.
No entanto, destaca, há alguns casos em que a redução de contato e até mesmo o corte temporário são necessários, principalmente quando há situações graves de manipulação emocional e a repetição de padrões de abusos psicológicos.
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“O rompimento dos laços com pais narcisistas é um processo doloroso e complexo. Envolve não apenas lidar com a perda de uma relação emocionalmente próxima, mas também enfrentar sentimentos de culpa, solidão e até mesmo luto. É uma jornada que pode afetar profundamente o bem-estar emocional e mental da pessoa envolvida”.
Elaine afirma que ao decidir se distanciar de pais narcisistas, é natural sentir-se dividido entre o desejo de proteger seu próprio bem-estar emocional e a culpa por “abandonar” uma relação familiar. Mesmo que a pessoa entenda racionalmente que o rompimento é necessário para sua própria saúde mental, o coração muitas vezes se enche de dor e conflito.
“É como se estivesse perdendo não apenas os pais, mas também uma parte de sua própria identidade e história. A solidão e o isolamento podem se tornar companheiros frequentes nesse processo, especialmente quando amigos e outros membros da família não compreendem a decisão e se afastam”, pontua a psicóloga.
O rompimento também pode deixar cicatrizes emocionais profundas que afetam a capacidade de estabelecer e manter relacionamentos saudáveis no futuro. A ausência de amor genuíno na infância pode dificultar a compreensão e expressão desse sentimento, levando a padrões disfuncionais de interação social, explica Elaine.
“É um processo que requer tempo, paciência e esforço. Aprender a confiar novamente e estabelecer relacionamentos saudáveis com outras pessoas pode ser uma jornada longa e desafiadora, mas também recompensadora”, conclui.
Dicas da psicóloga
– É fundamental colocar a saúde mental e bem-estar em primeiro lugar.
– Procure apoio de amigos de confiança, outros membros da família e um profissional. Ter alguém com quem você possa compartilhar seus sentimentos e receber suporte pode ser muito reconfortante.
– Procure entender o comportamento narcisista: Educando-se sobre o narcisismo e os padrões de comportamento associados a ele, você pode ganhar uma compreensão melhor do porquê de seus pais agirem da maneira que agem. Isso pode ajudar a reduzir os sentimentos de culpa e o ajudará a viver de maneira mais tranquila.
– Encontre formas saudáveis de lidar com a culpa: Quando os sentimentos de culpa surgirem, encontre maneiras saudáveis de lidar com eles. Isso pode incluir escrever em um diário, praticar a auto-compaixão ou buscar aconselhamento profissional.
– Aceite que o processo de lidar com a culpa e o conflito emocional podem levar tempo. Seja paciente consigo mesmo e permita-se sentir e processar suas emoções à medida que elas surgem.