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Testes genéticos

Prescrição assertiva de medicamentos em tratamentos

Paciente descobre que composto recomendado para tratamento de cinco anos não teria eficácia e, sim, elevado potencial de efeitos colaterais

Por Redação

31 de outubro de 2020, às 08h02

Milena Flauzino foi diagnostica há 3 anos com câncer de mama receptor de hormônio positivo (câncer de mama com receptores de estrogênio e/ou progesterona). Então com 39 anos, a empresária se submeteu à mastectomia parcial para a retirada e a reconstrução do seio direito e, em seguida, a sessões de radioterapia.

Para evitar um retorno da doença, foi indicado o uso do Tamoxifeno, um medicamento comumente prescrito para o tratamento desse tipo de câncer ou para as mulheres com predisposição para a doença.

Milena Flauzino realizou teste genético para avaliar predisposição a medicamentos – Foto: Arquivo Pessoal

Com isso, se abriu uma janela de medo, desconfiança e angústia de Milena que, após ler os efeitos colaterais do remédio, não teve coragem de iniciar o tratamento que, em seu caso, seria de cinco anos.

“Consultei três oncologistas renomados em São Paulo e todos disseram que era o medicamento indicado e que ele poderia reduzir pela metade as chances do câncer voltar. Mas fiquei muito preocupada com os efeitos colaterais, como trombose, complicações na visão, sangramentos, entre outros, e resolvi não seguir com o tratamento”, explica.

Com a supervisão da ginecologista e da endocrinologia, a paciente optou por tratamentos alternativos para o fortalecimento do organismo e hoje comemora seu estado de cura da doença.

Passados três anos, a empresária conta que realizou um teste genético para avaliar sua predisposição a medicamentos e, entre eles, estava o Tamoxifeno como remédio sem eficácia, com suscetibilidade elevada a efeitos adversos devido à metabolização baixa de Milena aos componentes da fórmula.

“Não duvido e não tenho nada contra o medicamento, mas para mim ele não traria efeito algum e me deixaria vulnerável aos possíveis efeitos que eles mesmo descrevem na bula. Na época, não me conformei com a indicação. Me sentia no escuro como mais um caso da literatura médica. Estava com muito medo do que poderia acontecer”, relata.

Testes genéticos no auxílio na prescrição de medicamentos

Segundo a OMS, mais de 50% de todos os medicamentos são incorretamente prescritos, dispensados e vendidos, e mais da metade dos pacientes que os utilizam o fazem incorretamente.

“Há no Brasil, e em todo o mundo, um volume de prescrições feitas na tentativa e erro por protocolos médicos aplicados incorretamente, ou com pouca evidência. É crucial uma avaliação por parte de médicos, e demais profissionais de saúde, para o uso das ferramentas de farmacogenética para prescrições mais eficazes e sem riscos à qualidade de vida (e à vida) do paciente”, afirma o farmacologista Fabrício Pamplona.

Pamplona lidera uma equipe de pesquisadores na Proprium, uma health tech que atua no Brasil, Portugal e EUA, e desenvolve testes farmacogenéticos para auxiliar na administração e na dosagem seguras de medicamentos, suplementos e canabinóides para tratamentos nas áreas de oncologia, psiquiatria, pediatria, neurologia e geriatria.

“No futuro, a coleta de informações genéticas será considerada uma prática corriqueira na prescrição de tratamentos, se tornando inclusive obrigatória pelos conselhos de saúde”, frisa.

FÁRMACOS
No caso dos fármacos, segundo Pamplona, o teste que está sob sua gestão é capaz de identificar reações a 104 compostos, presentes nos principais medicamentos comercializados em todo o mundo.

A pesquisa é realizada a partir de painéis genéticos que identificam variantes genéticas associadas à metabolização de substâncias dentro do organismo, e sua predisposição aos efeitos adversos decorrentes da exposição.

O resultado fornece orientações desde composições de produtos, dosagem, até a melhor estratégia de administração, adequada ao perfil de cada indivíduo. Após essa avaliação, os fármacos são categorizados por nível de confiança para maior ou menor risco de falha terapêutica e/ou efeitos adversos.

Os resultados ficam hospedados em uma plataforma que pode ser acessada pelo paciente e médico. O objetivo é estimular que outros profissionais de saúde, que venham atender esse paciente, consultem os resultados de seu sequenciamento genético. Anotações sobre a evolução no tratamento podem ser feitas na plataforma.

Prescrição de canabinóides

Além dos compostos fármacos e de suplementos, a startup também desenvolveu um teste genético que vai permitir a prescrição segura de canabinoides, por meio da identificação das taxas de metabolismo dos princípios ativos da planta, CBD e THC, auxiliando uma parcela significativa de brasileiros que utiliza a cannabis medicinal para diversos tipos de tratamentos, entre eles para diferentes tipos de câncer.

Segundo o o farmacologista Fabrício Pamplona, atualmente o tratamento do câncer de mama, com redução efetiva do tumor pelos canabinoides, é um dos mais estimulantes horizontes de pesquisa clínica oncológica na área, com grande promessa de resultado e potencial para se tornar mais uma opção no arsenal médico.

Para o especialista, o uso dos produtos à base de cannabis, com indicação e dosagem específicas para cada tipo de organismo, podem melhorar de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes sob quimioterapia, reduzindo náusea, gerando apetite e melhorando a qualidade do sono.

“A contribuição da farmacogenética é justamente entender qual das ferramentas disponíveis hoje (e no futuro) são mais adequadas ao tratamento de cada um e otimizar esses tratamentos, deixando de ficar à mercê da tentativa e erro”, destaca.

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