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Alessandra Olivato

Retóricas

E daí que o “rei da oratória” não foi tão bem quanto geralmente vai, que o outro falou besteira de novo, que as outras mostraram-se preparadas e o que outro é mais do mesmo?

Por Alessandra Olivato

31 de agosto de 2022, às 07h08 • Última atualização em 31 de agosto de 2022, às 10h50

Muito se disse, escreveu e se analisou sobre o debate dos presidenciáveis essa semana. Algumas boas e assertivas análises, outras predominantemente ideológicas, outras sem foco.  

“Fulano foi melhor que ciclano”, “Fulana se mostrou a mais bem preparada”, “Dr. X estava apático”, “Beltrano ofendeu não sei quem”, “Os marqueteiros tiveram trabalho”, blá blá blá blá blá blá. Desculpe o blá blá blá, mera expressão pro momento, sem intenção de desprezar o trabalho de ninguém. Mas a pergunta que não cala dentro de mim: e daí? E daí que o “rei da oratória” não foi tão bem quanto geralmente vai, que o outro falou besteira de novo, que as outras mostraram-se preparadas e o que outro é mais do mesmo? E daí?

De que adianta jornalistas e comentaristas políticos competentes tecerem esclarecedoras análises se a maioria tem preguiça de ler mais do que uma simples manchete de notícia ou o primeiro parágrafo de um artigo? De que adianta se a maioria continua se informando apenas por rede social para embasar desafiadores comentários do tipo “se fulano ganhar vão tomar nossa casa” ou “se o outro ganhar o fascismo será instalado”?

Que importância ainda têm os debates, no frigir dos ovos, se nem mais se dão ao trabalho de responder às principais perguntas: como colocar o Brasil definitivamente nos trilhos da prosperidade e da riqueza (alguém ainda tem alguma coisa contra a prosperidade?), ao mesmo tempo gerando os alicerces para uma maior justiça social? Há algum plano concreto, passo-a-passo, para dar um salto real no nível educacional da população, corrigindo sérios problemas como a alta evasão do ensino médio? Em que medida continuar investindo nas políticas afirmativas e, sobretudo, como monitorar seus resultados e fazer uma gerência eficaz dos recursos públicos? Quais os erros a corrigir?

O quanto se pretende investir em ciência, energia e tecnologia, áreas fundamentais para o desenvolvimento de uma nação? Quais são nossos maiores problemas no setor e como pretendem resolver? Nos contem, por favor. O quanto e como pretendem – se é que pretendem – valorizar as mentes brilhantes e os talentos nacionais potenciais? Por gentileza, o que pensam sobre o empreendedorismo no Brasil? Como pretendem estimulá-lo e apoiá-lo? Como, de fato, controlarão os preços frente às crises econômicas mundiais? Como farão para proteger a Amazônia da pura e simples destruição? Como pretendem resolver os complexos conflitos de interesses em relação a ela? Que importância dão ao esporte como uma das mais promissoras políticas sociais em um país como o nosso? Têm algum plano sobre isso?

Senhores e senhoras, o que sabem de fato sobre a corrupção e o quanto onera a sociedade brasileira além apenas de ser um dos assuntos de que mais se utilizam demagogicamente? Pretendem adotar algum plano de transparência sobre isso? Como enfrentarão? E, acima de tudo e não menos importante, conseguem jurar que a principal motivação de concorrerem ao maior cargo executivo do país são os interesses do povo e não a inconfessável vaidade de ser chamado(a) de presidente e obter o direito às mordomias e status do cargo?

Não que eles não tenham um plano aqui e ali, não que não exista um candidato menos pior do que o outro. Mas como amarram todos esses planos que resulte em um “Projeto Brasil?” de verdade? Falam, falam e falam e menos esclarecem quase nada. A rabugice se instalou de vez, peço perdão. Mas me espanta que alguém ainda se encante com as retóricas politiqueiras, sobretudo as iluminadas pelos holofotes da tv.

Alessandra Olivato

Mestre em Sociologia, Alessandra Olivato aborda filosofias do cotidiano a partir de temas como política, gênero, espiritualidade, eventos da cidade e do País.