09 de maio de 2024 Atualizado 01:09

Notícias em Americana e região

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

Saúde em Pauta

Resfriado comum: dá pra curar?

Como as mutações virais driblam a ciência e dificultam a proteção a uma das doenças mais corriqueiras

Por Paulo Renato Monteiro da Silva

20 de agosto de 2023, às 12h10 • Última atualização em 20 de agosto de 2023, às 12h11

O ano 2000 trouxe uma notícia que prometia controlar os resfriados. Havia sido criado um medicamento, com o nome Pleconaril, que poderia acabar com essa doença. Nos testes, ele de fato funcionou, mas (e sempre tem um mas), alguns dias depois do contato com o citado remédio, já se encontravam variantes do vírus resistentes ao tal Pleconaril.

Que as mutações ocorrem e que surgem micróbios resistentes, já é algo conhecido, porém, o que chamou a atenção foi a rapidez com que isso ocorreu. Foram anos de pesquisas para se chegar ao medicamento e, surpreendentemente, em poucos dias, ele foi superado pela engenharia viral.

Receba as notícias do LIBERAL no WhatsApp

Ainda hoje, a principal e praticamente única defesa que temos contra o vírus do resfriado fica toda ela dependente do nosso sistema imunológico, sendo que para as pessoas que têm alguma falha nessa linha de proteção, essa doença, relativamente simples, pode ser bem mais intensa.

Ao longo da vida poderemos ter mais de uma centena de resfriados, e embora os sintomas sejam semelhantes, os tipos causadores são diferentes. Há no mínimo oito famílias de vírus, e famílias grandes, tendo vários componentes dentro de cada uma.

Quando os vírus invadem nosso corpo, o sistema imunológico entra em ação, e muitos dos sintomas que apresentamos são sinais dessa proteção, por exemplo: nariz escorrendo, febre, dor de cabeça, olho ardendo, mal-estar geral. Todos eles representam os efeitos colaterais dessa luta, ou seja, é nossa imunologia lutando contra o vírus.

Se são tantos tipos de vírus diferentes que causam resfriado, nunca teremos uma vacina?

Embora sejam muitas famílias de vírus, uma dessas representa de 30% a 50% de todos os resfriados: a família rinovírus. Se pudéssemos encontrar uma vacina que atuasse sobre esse grupo rinovírus, já teríamos uma redução em praticamente metade dos resfriados.

E medicamentos antivirais, funcionam?

A principal dificuldade em desenvolver um medicamento contra o vírus é devido ao fato de que eles atuam dentro de nossas células e se multiplicam aos milhares, milhões, e vão se distribuindo pelo corpo.

Aí que entra a dificuldade: encontrar um medicamento que consiga atuar sobre o vírus e não sobre nossas células. E é bom nos lembrarmos que a capacidade de mutação desses vírus é muito grande, o que poderia fazer com que, mesmo que desenvolvêssemos um remédio, ele logo possa se tornar obsoleto devido à mutação viral.

Siga o LIBERAL no Instagram e fique por dentro do noticiário de Americana e região.

Os vírus são bastante traiçoeiros, mas já tivemos sucessos incríveis, como a erradicação da varíola e a redução fantástica da poliomielite. Mas também frustrações, por exemplo, como com o HIV. Aqui a situação é bastante diferente, pois apesar de décadas de tentativas, ainda não temos uma vacina, dada a sua capacidade de mutação ser muito grande.

Infelizmente, ainda não há como escapar do resfriado. Mas nas últimas décadas, com o desenvolvimento das vacinas de RNA, produzidas através de uma técnica chamada de CRISPR, e que tivemos chance de ver durante a pandemia da Covid-19 o quanto foram atuantes, é nessa linha que a ciência vem trabalhando, trazendo esperanças quanto à redução dos resfriados.

Paulo Renato Monteiro da Silva

O médico Paulo Renato Monteiro da Silva, especialista em alergologia e imunologia, fala sobre temas da saúde em alta e sobre como manter hábitos saudáveis