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Histórias de Americana

Memória coletiva e verdade absoluta

A historiografia americanense sempre foi pautada na memória, fato este presente quando se refere à fundação da cidade

Por Elizabete Carla Guedes

08 de abril de 2023, às 07h49

A historiografia americanense sempre foi pautada na memória, fato este presente quando se refere à fundação da cidade, sempre atribuída às ondas imigratórias europeias e dos confederados estadunidenses.

Além da afirmação constante nos livros didáticos distribuídos nas redes de ensino, pode-se encontrar também relatos e referências a essa memória em publicações diversas. A matéria publicada no LIBERAL em
1 de junho de 1982, com o título “Tombamento: a placa chegou” é uma ótima referência sobre a produção historiográfica local vinculada à memória coletiva.

Diz o texto: “muitos comentários foram feitos nos últimos dias a respeito do tombamento da sede da Fazenda Salto Grande, ato oficializado pelo Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado – Condephaat – após mais de oito anos de espera.

Mas, estamos em ano eleitoral, embora nenhuma providência de caráter prática tenha sido concretizada de imediato, em benefício do Casarão (caindo em pedaços) – o governo mostrou que tem pressa e não pode perder ‘tempo’: mandou logo a placa comemorativa.

Confeccionada em mármore branco, de excelente qualidade, com letras garrafais e perfeitas, encontra-se a entrada do Casarão Museu Salto Grande a placa significativa, com os seguintes dizeres: Fazenda Salto Grande monumento de interesse histórico arquitetônico, remanescente da antiga sede da Fazenda Salto Grande, marco da expansão do ciclo açucareiro no interior de São Paulo (…), em 16 de abril de 1982, governador Paulo Maluf, Prefeitura Municipal de Americana, prefeito Waldemar Tebaldi, Secretaria de Estado da Cultura, deputado Cunha Bueno.

Apesar do ato oficial do tombamento ter sido assinado no dia 12 de maio, e não 16 de abril, como consta da placa, revela-se o pormenor, porque houve alterações ditadas pela Secretaria de Cultura, mandando-se data, anteriormente prevista.

O que muita gente não entendeu é a assertiva ‘marco da expansão do ciclo açucareiro’ – pois Villa Americana sempre produziu algodão (sem falar na famosa melancia, introduzida pelos americanos). E não faltam fotos da própria Fazenda Salto Grande, onde aparecem colonos ‘catando algodão’. Com a palavra os pesquisadores e expert no assunto ‘açúcar’ de Americana”.

Diante desta narrativa, podemos observar a presença da memória coletiva, que sugere que Americana, apesar de ter pertencido ao período histórico conhecido como Brasil Colônia, não esteve inserida no contexto histórico nacional.

O relato alega que a cidade foi criada a partir da imigração estadunidense, como o próprio nome da cidade sugere. Ainda é necessário ressaltar que, mesmo que se saiba ser tardia a imigração confederada, mais de 67 anos após as primeiras doações de sesmarias na região que se tornaria o município, não se leva em consideração que no local estava inserido vasto contingente de mão de obra escravizada, explorada por portugueses, espanhóis e brasileiros filhos destes.

O que fica evidente é o descaso do texto em relação à pesquisa histórica embasada em estudos e em documentos primários desenvolvida pelo Condephaat, na ocasião do tombamento da casa sede da Fazenda Salto Grande.

É como se uma foto fosse um documento que por si só comprovasse a verdade absoluta da narrativa trazida no texto, e a cidade de Americana brotasse ao sol dourado da imigração confederada, imaculada e sem manchas das quais o passado possa lhes legar. 

Elizabete Carla Guedes
Membro do grupo Historiadores Independentes de Carioba, dedicado
à pesquisa histórica sobre Americana

Historiadores de Carioba

Blog abastecido pelo grupo Historiadores Independentes de Carioba, que se dedica à pesquisa histórica sobre Americana.