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Histórias de Americana

Dia da Mulher: igualdade, ‘conselhos’ e contrastes

Em 1982, no LIBERAL, a Federação das Mulheres Paulistas e a Comissão Pró-União das Mulheres de Americana publicaram nota ligada ao Dia Internacional da Mulher

Por Gabriela Simonetti Trevisan

12 de março de 2023, às 08h31 • Última atualização em 12 de março de 2023, às 08h32

Em 1982, no LIBERAL, a Federação das Mulheres Paulistas e a Comissão Pró-União das Mulheres de Americana publicaram uma nota ligada ao Dia Internacional da Mulher, abordando a igualdade de direitos entre os gêneros.

No texto, intitulado “A libertação da mulher é a libertação do povo”, os coletivos argumentam que a opressão contra as mulheres não é fruto de uma ação deliberada masculina, mas de uma estrutura social capitalista, que as aprisiona no espaço privado e tenta afastá-las de qualquer pensamento crítico.

Segundo as militantes, a luta das mulheres é a luta de todos os trabalhadores: pelos direitos, pelo fim da exploração e pela construção de uma nova sociedade. De cunho profundamente marxista, o texto conclama à luta proletária em pleno final de ditadura.

É notório o quão destemida é essa proposição nesse contexto histórico. Além disso, é interessante analisar que não se compreende homens como inimigos, mas como possíveis aliados das causas das mulheres.

Contudo, nem tudo são flores no processo lento de redemocratização dos anos 1980. Duas páginas seguintes, na mesma edição, aparece o texto “Transforme seu marido em um homem ‘sexy’”, instruindo as mulheres a se tornarem mais atraentes para seus cônjuges, a partir de alguns conselhos.

Entre eles, estão controlar a alimentação e o sono do marido, dar-lhe liberdade para relaxar sem se preocupar com os cuidados da casa, elogiá-lo constantemente e, claro, não forçá-lo a aceitar as ideias da esposa.

O escrito encerra com um alerta: o segredo do bom casamento seria a própria mulher, que deveria ser atraente, interessante, amorosa e dedicada. O texto, conservador, traça um contraste ferrenho com o escrito anterior. Busca conclamar as mulheres ao cuidado do lar, unicamente.

Inclusive, reproduz ideias do século XIX, como a suposta natureza feminina voltada totalmente para a dedicação ao casamento, e incentiva a abnegação das mulheres, já que espera que abandonem seus ideais em nome de tornar a vida do marido a mais confortável possível.

É interessante analisar como ambos os textos se enfrentam diretamente no mesmo jornal e disputam, também, uma mesma data comemorativa, relembrando discussões atuais: o Dia Internacional da Mulher simboliza exatamente o quê? Historicamente falando, trata-se de um dia de luta por direitos femininos e igualdade.

Ainda que a antiga narrativa da fábrica cheia de operárias que pegou fogo não tenha sido, na realidade, a explicação para o surgimento do 8 de março, como bem explica a pesquisadora Ana Isabel Álvarez González, a data surge da luta de trabalhadoras em um período em que os direitos trabalhistas eram praticamente nulos para todos.

Depois, o 8 de março ganha foco na luta por igualdade, tanto salarial quanto por direitos, como voto e divórcio. As rosas e os chocolates vieram apenas após essa construção política, quando o esforço empresarial passa a capturar a data e caminhar na direção de sua comercialização, mostrando que, assim como em 1982, o Dia das Mulheres ainda está em disputa. 

Historiadores de Carioba

Blog abastecido pelo grupo Historiadores Independentes de Carioba, que se dedica à pesquisa histórica sobre Americana.