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Com autismo e TDAH, moradora de Santa Bárbara cursa terceira faculdade

Formada em física nuclear e enfermagem e agora cursando medicina veterinária, ela brinca: "Tem gente que fala que vivi muitas vidas em uma"

Por Jucimara Lima

25 de março de 2024, às 09h58 • Última atualização em 25 de março de 2024, às 09h59

Se cursar três faculdades completamente diferentes já é algo surpreendente, a história de vida da moradora de Santa Bárbara d’Oeste, Maria Regina Rodrigues Scorsato, de 52 anos, vai muito além de ser inusitada. Não é à toa que ela brinca. “Tem gente que fala que vivi muitas vidas em uma.”

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Em 2023, após uma vida inteira taxada como uma “pessoa difícil”, a estudante de medicina veterinária da FAM (Faculdade de Americana) recebeu o diagnóstico tardio de autismo.

“Eu tinha dificuldade de interação social e hoje eu entendo. Antes eu achava que estava toda errada. Não que o diagnóstico seja uma muleta, mas saber me traz escolhas sobre o que eu quero mudar e o que não faço questão”, reflete.

Com altas habilidades para a área de exatas, aos 17 anos, filha única de uma diarista com um pai ausente, Maria Regina ingressou na faculdade de física nuclear da USP (Universidade de São Paulo). Quando se formou, foi trabalhar com laudos de ressonâncias e tomografias, razão pela qual depois se interessou pela área de saúde.

Missão em Luanda modificou a visão de mundo da enfermeira – Foto: Arquivo Pessoal

Ela avalia que o fato de ter mudado o interesse de números para pessoas tem a ver com o prazer em zelar pelo próximo. “Cuidar me traz satisfação, inclusive, eu acho que em algum momento desenvolvi um hiperfoco nesse sentido”, pontua ela, que também tem o diagnóstico de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).

Sempre muito estudiosa, Maria Regina cursou auxiliar e técnico de enfermagem, faculdade de enfermagem, duas pós-graduações, além de um mestrado não concluído, porque se mudou do País.

Em 2008, atendendo a um convite do governo de Angola, Maria Regina passou dois anos atuando como enfermeira em um projeto voltado para cirurgias cardíacas que funcionava na capital Luanda e promoveu a primeira cirurgia cardíaca do país. “Foi uma experiência transformadora, porque lá a gente vê até onde chega a miséria humana.”

Retorno. De volta ao Brasil, Maria Regina se mudou para o interior e passou a trabalhar em outros ramos até chegar ao segmento de beleza. Como maquiadora, se destacou no mercado no qual empreendeu até 2020, quando teve início a pandemia e o chamado da profissão falou mais alto. “Eu pensei: sou enfermeira, não posso me isentar nesse momento.”

Assim, ela esteve na linha de frente até 2021 e, como muitos profissionais, encerrou sua contribuição com uma depressão. “Foi muito pesado, vimos muitas coisas”, recorda.

Maquiadora profissional também faz parte do currículo de Maria Regina – Foto: Arquivo Pessoal

Pós-Pandemia. Quando voltou para maquiagem, optou por empreender no marketing digital e passou a vender cursos. Devido ao hiperfoco – um estado de concentração intenso -, ela desenvolveu a síndrome de Burnout e quase desistiu de viver.

Foi quando, ao procurar ajuda, descobriu seus diagnósticos. Apesar de alguns meses muito abalada, aos poucos Maria Regina foi melhorando e, se o ano de 2023 começou com notícias tristes, ele terminou com ela engatando a terceira faculdade, dessa vez, medicina veterinária.

Atualmente, Maria Regina cursa Medicina Veterinária na FAM e está apaixonada pelo curso – Foto: Marcelo Rocha_Liberal

Gateira assumida, atualmente, a estudante da FAM tem 12 animais e acredita que a escolha pela veterinária tem a mesma essência da feita pela enfermagem.

Curiosamente, ela recorda-se que na infância, quando alguém lhe fazia a clássica pergunta o que você será quando crescer, a resposta era “veterinária”.

Hoje, Maria Regina cursa o segundo semestre e se diz feliz com a realização do sonho de menina. Sempre focada, já planeja colocar em prática outros desejos, como o de criar um projeto com cães de suporte emocional com animais sem raça definida.

“Normalmente, esses cães – que auxiliam nas crises são de raças específicas, por possuírem mais facilidade de adestramento. A minha ideia é treinar vira-latas e oferecer para pessoas que não tenham condições de pagar pelos cães e pelo treinamento”, explica.

Para isso, ela pretende contar com o investimento de pessoas e empresas que queiram apadrinhar o treinamento dos cães, que por sua vez devem vir de ONGs. “Acredito no potencial do projeto e dos vira-latas”, argumenta. Questionada se essa será sua última faculdade, a estudante sorri e diz. “Vou terminar a faculdade com 56 anos, já é uma idade que não dá para se aventurar tanto assim, mas acho que faria medicina”, finaliza. 

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