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146 anos

Novas versões para fatos que fazem parte da história

A partir de pesquisa, historiadores locais apresentam novas informações sobre acontecimentos do passado

Por Maria Eduarda Gazzetta

27 de agosto de 2021, às 08h05 • Última atualização em 27 de agosto de 2021, às 08h06

Dizem que quem conta um conto, aumenta um ponto. Em momentos da história de Americana, muitas são as divergências sobre alguns dos fatos que aconteceram na cidade, seja porque a população romantizou as histórias ou até mesmo pela dificuldade em se registrar os acontecimentos na época.

A reportagem do LIBERAL foi em busca de historiadores e de antigos moradores da cidade para reunir informações sobre momentos que marcaram o passado de Americana. Conheça alguns deles.

A visita de Dom Pedro II em Americana

De acordo com registros de jornais da época, o imperador Dom Pedro II e sua comitiva real participaram da inauguração em 1875 da linha férrea que percorreu três estações: Rebouças, Boa Vista e Santa Bárbara, que hoje leva o nome de Estação Cultura de Americana.

Os periódicos Correio Paulistano e Gazeta de Campinas relataram que o trem que levava o imperador e sua comitiva saiu de Campinas e seguiu até à estação de Santa Bárbara.

Apesar de alguns historiadores defenderem a tese de que o imperador não compareceu, mas sim apenas integrantes da comitiva, as notícias dos jornais da época relatam que Dom Pedro esteve, de fato, na inauguração, tendo, inclusive, participado de um lanche servido a ele e sua comitiva no local.

Na época, o território de Americana pertencia às terras de Santa Bárbara e a estação de trem, inaugurada em 27 de agosto de 1875, recebeu o nome de Estação Ferroviária de Santa Bárbara. Americana só conseguiu sua autonomia em 30 de julho de 1904.

O asfalto nas ruas do antigo bairro Carioba

Muitas são as divulgações, até os dias atuais, de que as ruas do antigo bairro Carioba foram as primeiras do Estado de São Paulo e até mesmo do Brasil, a receberem pavimentação.

Asfalto de Carioba – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Entretanto, de acordo com o professor e historiador Alexandre Pignanelli, registros históricos e do jornal O Estado de S. Paulo, a Avenida Paulista, em São Paulo, recebeu asfalto em 1909, já as ruas do bairro de Americana, em 1935, ou seja, 26 anos separam as obras nas duas localidades.

Origem das primeiras terras

O grupo Historiadores Independentes de Carioba, formado por quatro pesquisadores, percorreram livros, inventários em cartórios e também a pintura de um quadro com o objetivo de conseguir traçar quem foi o dono da Fazenda de Salto Grande, gleba que originou Americana. A história mais conhecida por muitos americanenses traz que a fazenda era de propriedade da família Vilela, comprada por Manoel Teixeira Vilela e depois, vendida à família Campos Penteado.

Vista do Sítio de Antonio Manoel Teixeira – sem data – Foto: Hércules Florence / Divulgação

Entretanto, após os historiadores de Carioba analisarem os inventários, não foi possível encontrar esta fazenda listada nas propriedades de nenhum membro da família Vilela, como apontado pela historiografia, mas sim listada nos inventários da família Campos Penteado.

Além disso, os historiadores levaram em consideração um apontamento feito pelo historiador Carlos Lemos de que um quadro pintado por um pintor francês, Hércules Florence, amigo da família Vilela, estaria representando a Fazenda de Salto Grande.

Ao analisar a obra com fotos atuais da propriedade, a quantidade de janelas na pintura estaria divergente da realidade, levantando-se a incerteza de que se tratava da mesma fazenda. Portanto, os historiadores apontam que a gleba seria de propriedade da família Campos Penteado, desde, pelo menos, o início do século XIX e não da família Vilela.

Tromba d’água

Em 1949, a cidade testemunhou uma forte chuva tida como tromba d’água, que devastou o centro de Americana e causou mortes. Muito se questiona sobre a ajuda prestada pelo palhaço de um circo instalado na cidade durante a tempestade, a quantidade de vítimas fatais e se, de fato, a tragédia foi causada por uma tromba d’água.

Tromba d’água – Foto: Arquivo / O Liberal

Em pesquisa, o professor e historiador Alexandre Pignanelli conversou com pessoas envolvidas e analisou documentos para saber exatamente o que aconteceu naquela noite de 12 de dezembro.

De acordo com pesquisa do historiador, o Circo Teatro Universal estava instalado em um terreno usado por circos na época, localizado numa área abrangida pelas ruas Fernando Camargo, Rui Barbosa, Washington Luís, e avenida Dr. Antônio Lobo.

Em suas pesquisas, Alexandre reuniu dados de que os palhaços do circo se encontravam distantes dos acontecimentos daquela noite e, portanto, não poderiam ter participado do salvamento de diversas pessoas. Desta forma, não seria possível ter um palhaço herói na história.

Entretanto, há registros de um funcionário do circo que teria ajudado muitas pessoas a se salvarem durante a tempestade: Domingos de Jesus. Ele não era palhaço, mas trabalhava no circo como auxiliar de serviços gerais e, segundo o artigo do historiador Alexandre, testemunhas relatam que até 12 pessoas deviam suas vidas a Domingos.

Mesmo tendo salvado tantas pessoas naquela noite, foi uma das vítimas fatais do fenômeno natural. Ele foi surpreendido pelo desmoronamento de toda extensão de um muro da rua Rui Barbosa, que não suportou o volume e a pressão da água que descia pela via, atingindo-o em cheio.

Além da morte do auxiliar de serviços gerais do circo, também faleceu a sobrinha dele, Regina Berenice, que tinha pouco menos de três anos. Na história, há registro de outras quatro mortes, desta vez na região chamada, à época, de Chácara Faraone, que corresponde aproximadamente ao atual Jardim Girassol. As vítimas foram uma mulher de 38 anos e o filho de 3, além de outra mulher da mesma idade e uma criança de 2 anos.

No passar dos anos, o fenômeno natural que atingiu Americana ganhou o nome de tromba d’água, mas na verdade foi uma grande tempestade. Isso porque, ainda de acordo com o historiador, a tromba d’água é formada a partir de nuvens sobre o mar ou outros grandes corpos d’água, não sendo possível acontecer na região central de Americana.

O LIBERAL conversou com Clélia Dell Prati, artista teatral e ginasta do Circo Universal, que estava na cidade naquela noite. Hoje com 93 anos, Clélia conta que realmente foi uma chuva muito forte que atingiu o município. “Era muito forte. Descia muita água onde o circo estava e sempre usamos essa expressão porque era uma chuva torrencial que durou cerca de três horas”, disse.

Clélia contou que ficou no circo de seu padrinho Máximo Bernardi até completar 25 anos, quando se casou. A artista atualmente mora no Rio de Janeiro e tem dois filhos, um de 60 anos e outra de 55.

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