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146 anos

Momento ‘recordar é viver’: relembre as baladas de Americana

A arte de atrair pessoas sempre foi o segredo do sucesso de lugares que se eternizaram, nem que seja na lembrança

Por Jucimara Lima

28 de agosto de 2021, às 08h32 • Última atualização em 30 de agosto de 2021, às 08h34

Quando somos jovens, achamos que tudo dura para sempre. Quando amadurecemos, percebemos que com o passar do tempo a única coisa que permanece intocável são as lembranças dos momentos vividos e das emoções compartilhadas.

Quando o assunto é saudade, é dos vinte e poucos anos que a maioria sente falta, e se a questão estiver relacionada com festas que marcaram época, muita coisa fica guardada no coração, alimentando esse saudosismo bom que todos gostam de sentir. Saudade dos globos rotativos, das luzes piscando e até daquelas fumaças inebriantes que pareciam nos levar para outras dimensões.

Saudade também da música alta, das pessoas dançando, da bebida rolando e de saber que “todo mundo” estaria naquele “point”. A arte de atrair pessoas sempre foi o segredo do sucesso de lugares que se eternizaram, nem que seja na lembrança. E se no início de nossa história o passeio preferido dos jovens era nadar no Ribeirão Quilombo ou fazer piquenique no Parque Ideal, com o tempo vimos cada geração encontrando sua maneira de se divertir e de se “permitir”.

Difícil enumerar lugares e pessoas que escreveram a história da vida noturna americanense sem ser injusto com alguém, considerando que foram muitos e o nosso espaço é curto. Ainda assim, ousamos mexer no baú das lembranças de muita gente.

Coluna social da inauguração da My Way em 1993 – Foto: Arquivo Pessoal

Esperamos que gostem e que de alguma forma encontrem algo que seja do seu tempo, ressaltando que os depoimentos são baseados nas lembranças de cada um dos personagens que gentilmente nos cederam entrevista. Logo, pedimos que considerem a possível divergência de dados como uma licença poética, afinal, cada um recorda de sua própria história de uma maneira única. Divirtam-se!

Squalidus Disco Club

Em novembro de 1979, a Squalidus Disco Club abria suas portas. Diferente de tudo que já havia sido visto até então, não demorou para ela se tornar a casa noturna mais conhecida da época. O DJ Jonacyr Washington Carvalho iniciou profissionalmente sua carreira naquele espaço, localizado na Rua Rui Barbosa, 429, centro. Antes dela, ele atuava amadoramente nas famosas brincadeiras de garagem. Ainda assim, ele não começou como DJ.

Jonacyr Washington Carvalho na segunda metada da década de 80 – Foto: Arquivo Pessoal

Jonacyr conta que apesar de um início mais elitista, com o tempo a Squalidus se popularizou. “Em dias normais a casa chegava abrigar 900 pessoas”, recorda. Noite das Bruxas, Noite do Agasalho (a entrada era um agasalho para ser doado), Noite do Flashback, Noite do Jeans, Quinta Sertaneja e tantas outras festas marcaram essa época.

Detalhe: no final dos bailes tinha até ônibus para levar os frequentadores embora. “Eram 10 ônibus grátis que ficavam à disposição, inclusive com passagem por todos os bairros de Americana”.

Apesar de não ter a data exata, muito provavelmente a casa encerrou suas atividades no final da década de 90, deixando muitas lembranças no coração de seus frequentadores.

Copetin Piano Bar

Vado Negri em uma de suas apresentações em março de 1986 – Foto: Arquivo Pessoal

Oficialmente era Copetin Piano Bar, contudo, popularmente acabou ficando conhecido apenas como Piano Bar. Muito bem localizado no alto da Rua Fernando de Camargo, mais precisamente no Centro Empresarial Edifício Rotary, a casa começou a funcionar em 1986. Extremamente presente na memória dos americanenses, o espaço idealizado pelo saudoso publicitário André Luiz Bastelli era um charme só. Aconchegante e muito bem frequentado, durante anos foi ponto de encontro para os badalados, bem-nascidos e festeiros da cidade.

O músico Vado Negri atuou durante um bom tempo como atração do bar e se lembra com carinho e gratidão dessa época. “Tive o privilégio de tocar durante quatro mudanças de proprietários. O bar sempre com excelentes músicos de nossa cidade e região”, ressalta. Segundo ele, o Piano Bar teve suas atividades encerradas por volta de 1988.

MyWay Lounge Bar

Na porta da My Way a fila era praxe, afinal, muita gente queria curtir a noite na casa noturna mais badalada da época – Foto: Arquivo Pessoal

No dia 17 de setembro de 1993, Americana via nascer uma das casas noturnas mais lindas, modernas e famosas (da região) de todos os tempos. A My Way Lounge Bar comandada por Valmir e Beth Silva é uma lenda, e começou grandiosa já em sua inauguração. Concorridíssima, a festa apenas para convidados teve cobertura do LIBERAL e foi comentada durante meses. “Não se falava em outra coisa”, relata Beth.

Os donos da noite, Valmir e Beth Silva em meados dos anos 90 – Foto: Arquivo Pessoal

Com capacidade para 1400 pessoas, a casa tinha uma super pista de dança com telão automático, som de primeira linha, camarote, área externa e o charmoso American Bar.

Eclética, a My Way foi palco de todo tipo de evento. “Chegamos a abrir de terça a domingo, quase sempre em parceria com promoters”, ressalta.

Grandes shows também marcaram a história da casa como Nando Reis, Marcelo Novo, Supla, Frejat, Raimundos, Jane Duboc, Belchior, além das melhores bandas de pagode da cidade e região.

Em 1994 foi montado telões para assistir aos jogos do Brasil e depois festejar as vitórias – Foto: Arquivo Pessoal

Um marco muito lembrado também eram as famosas filas virando o quarteirão. Em fevereiro de 2009, a My Way encerrou as atividades, deixando um grande legado, afinal, revelou muitos profissionais que até hoje atuam na vida noturna como DJs, promoters e bandas.

Alok foi a atração da festa Frequenzza de 2015. No clique ele, entre Moby e Theo Pioli – Foto: Arquivo Pessoal

Moby Eventos

Rodrigo Mobilon Alcântara, o “Moby”, adora ser definido como festeiro, porque de fato é. Sua trajetória começou em 1998 com o evento “Feijão Preto”, uma parceria dele com os amigos Fred Faé Kühl e Giovanni Pamfílio. Em seu currículo com mais de duas décadas como promotor, ele perdeu as contas de quantas festas e shows levou sua assinatura. “Foram tantos eventos e lugares diferentes, tantas histórias”, recorda.

Diversos shows também fazem parte de suas produções do sertanejo ao pagode. A famosa Festa do Branco e tantas outras são muito lembradas pelos jovens de 30 e poucos anos. “Trouxemos até o Alok, quando ele já era o DJ número 1 do Brasil”.

Carioba Caipira Clube

Casa voltada para o sertanejo, também oferecia espaço para outros estilos musicais – Foto: Arquivo Pessoal

Em 11 de abril de 1997, o Carioba Caipira Clube surgiria para se tornar uma das maiores referências de casas noturnas de todo Estado. Localizado na antiga casa dos donos de Carioba, dona Diva e seu Nicolau Abdalla (in memorian), o espaço era gigantesco e abrigava 3 ambientes, com grande destaque para o de música sertaneja.

Na época, o estilo musical estava em alta e os irmãos Ronaldo, Luis Carlos e Ocimar Duzzi, típicos americanenses, decidiram investir nesse sonho. “Nós tivemos a visão de montar o Carioba e nosso pensamento era proporcionar algo bem eclético para os frequentadores. A ideia era agradar todo mundo”, afirma Ronaldo.

A dupla Gino e Geno entre os proprietários da casa, Ronaldo, Luis Carlos e Ocimar Duzzi – Foto: Arquivo Pessoal

Além do sertanejo, o samba e pagode também tinha seu espaço, assim como o ambiente da balada, que era a preferência dos mais jovens. Passaram por seus palcos, nomes como Bruno & Marrone, Cezar & Paulinho, Rionegro e Solimões, Milionário & José Rico, Teodoro Sampaio, Revelação, Negritude Jr, Dudu Nobre e até Alcione e Jorge Aragão.

A extensão do Carioba era de 47 mil metros, considerando a área total – Foto: Arquivo Pessoal

Icônico e lembrado até hoje, o Carioba era grandioso, não apenas por sua extensão (cerca de 47 mil metros), mas por tudo que representava. Em junho de 2014, o Carioba deixou de funcionar, porém, até hoje vive na memória de frequentadores saudosistas daqueles bons tempos.

Gardens Café

Uma geral da galera, lá em 2002 – Foto: Arquivo Pessoal

Instalado na Avenida Brasil, no piso superior do Smart Mall, o Gardens Café também marcou a vida da juventude americanense. Se você tem por volta dos 40 e poucos anos, com certeza curtiu as noites quentes nesse espaço que iniciou suas atividades no primeiro ano do novo milênio.

Com uma programação muitíssimo diversificada, a casa noturna também atraía todo tipo de público. Charles Neme, gerente do Gardens entre os anos de 2001 e 2004, afirma que o empreendimento estava à frente do seu tempo. “Chegamos com um menu diferenciado, tanto com pratos individuais quanto por porções que harmonizavam com clube do whisky”.

No clique, professor Tanus, apresentando a banda Berimbau Elétrico da Danny Asa e Cia – Foto: Arquivo Pessoal

Além disso, o espaço trouxe para Americana vários nomes importantes do cenário musical como Sandra de Sá, Beto Lee e a internacional Mafalda Minnozzi, entre outros artistas, especialmente do Samba. Carlinhos Martins, um dos promoters da casa, além de guardar boas lembranças também é saudosista desse tempo. “Eu era promoter e quanto mais as festas faziam sucesso e a gente ia ficando conhecido, mais lotava a casa”.

Aliás, quem não se recorda da escada lotada, um indicativo de que a noite seria boa, certamente não viveu o início dos anos 2000 em Americana.

Sunny Bar Dance

Tradicional a Sunny sempre foi opção para quem gostava de dançar – Foto: Arquivo Pessoal

Durante alguns anos, Thiago Menegassi, o conhecido “DJ Chapolim”, foi um dos responsáveis em comandar o som da Sunny Bar Dance, uma casa localizada em um galpão próximo ao aeroporto de Americana, na Rodovia SP-304. Antes dele, grandes nomes como o de Alexandre Ganso, também comandaram as Pick-ups do espaço.

Diferenciada, a Sunny só aceitava casais e homens desacompanhados não entravam. A casa teve várias fases, dos tempos de ouro a outros menos aclamados, mas também bem especiais para os frequentadores, que basicamente iam ao espaço para dançar ouvindo um bom flashback.

Thiago Menegassi, o DJ Chapolim, comandou a noite da Sunny durante alguns anos – Foto: Arquivo Pessoal

A passagem de Chapolim ocorreu durante o início da década de 2010, época da qual ele guarda com carinho muitas boas lembranças. “Apesar de não ter pego o auge da casa foi muito gratificante para mim. A Sunny, sem dúvida alguma, realmente marcou história em Americana. Então, fazer parte desse tempo, me deixa muito honrado”, ressalta.

Som do Erik

O primeiro evento do Som do Erik em Americana foi no início de 1974 – Foto: Arquivo Pessoal

O Som do Erik começou em 1973. Segundo o idealizador Erik Reibel, nesta época praticamente só existiam bandas de baile para tocar nos eventos. Essas bandas se apresentavam para público adulto, já quer era proibida a entrada de menores de 18 anos em bailes com início a partir das 23 horas.

Por outro lado, o repertório dessas bandas era de sucessos consagrados, ou seja, somente após as músicas tocarem bastante nas rádios e virarem sucesso é que elas passavam a tocá-las. “Nós começamos na contramão de tudo que estava sendo feito. Repertório cheio de novidades e a cada evento músicas inéditas”, recorda Erik.

O fato de sempre ter músicas novas e os lançamentos serem simultâneos com a Europa e os Estados Unidos, era único. “Tudo mixado, sem intervalo entre seleções de músicas (coisa que não ocorria com as bandas, que paravam para descansar) e repertório atualizadíssimo”, aponta ele.

O primeiro evento do Som do Erik em Americana foi no início de 1974, no porão da igreja do Dom Bosco, promovido pela comissão de formatura para arrecadar fundos. “Foi um sucesso e na segunda edição a fila para comprar ingresso dava a volta no quarteirão”.

Rio Branco, Clube do Bosque, onde com a produção de Totonho Azevedo e outras pessoas, promoveu a emblemática e eterna “A Noite é Azul”, Piano Bar, Flamengo, e tantos outros lugares e eventos tiveram a chance de ouvir o Som do Erik animando a noite.

Em 2009, depois de muitas décadas marcando história, o Som do Erik encerrou as atividades, porém, sempre é lembrado como grande referencial.

Julião Biágio

Festa à Fantasia na Fidam, edição 2003 – Foto: Arquivo Pessoal

Ninguém fez mais festas em Americana do que Julião Biágio. A declaração parece forte, mas basta dar uma olhada na trajetória dele para confirmar a veracidade. Basicamente, Julião iniciou a sua trajetória em 1983 quando promoveu pela primeira vez um evento na chácara de um amigo.

Apesar dessa primeira experiência, a festa que o conduziu para o caminho de promoter aconteceu só em maio de 1993. Foi “O Circo vai Pegar Fogo”, produzida em parceria com o amigo Budé. “Trouxemos DJs de São Paulo. De Americana, tocaram Joca e o Gutto (ainda bem garotinho). Foi muito legal”.

Antes disso, no início dos anos 90, junto com alguns amigos, construiu uma das choperias mais agitadas de todos os tempos: o Pier 33, que ficava localizada no coração da Avenida Brasil.

Ponto de referência em toda região, era onde a juventude americanense se encontrava para curtir música ao vivo. Depois disso, surgiram as emblemáticas festas JG, de Julião & Gusula. Segundo ele, foram mais de 150 festas, em 15 anos. Entre elas, a festa Fantasia JG, que chegou a ser considerada a terceira maior do estado, com público de mais de oito mil pessoas.

Em 2008, Fernando Giuliani, Zé Ramalho e Julião em um show público produzido pela Secretaria de Cultura – Foto: Arquivo Pessoal

Além disso, na linha flashback já são anos de sucesso, inclusive trazendo grandes atrações como Double You, Rádio Táxi, Maurício Manieri, Kiko Zanbianchi, além de DJs e bandas de grande expressão na cena noturna.

Festa Privada

A Waldemaro Lopes, segundo Marquinho, foi a banda “mais louca” da Festa Privada, único evento no qual se apresentava – Foto: Arquivo Pessoal

Em meados da década de 1990, o promoter Marquinhos Leite idealizou a Festa Privada. Segundo ele, o propósito era fazer uma festa de rock com bandas ao vivo tocando som autoral. “Queria tirar as bandas da garagem, porque na época, elas não tinham lugar para tocar”, comenta.

Apesar de ter alcançado o auge quando realizada no Clube da Nardini, a Festa Privada nunca teve local fixo. Marquinho conta que a festa acabou se tornando itinerante porque normalmente tinha dificuldade em encontrar um espaço.

“Os locais geralmente não aceitavam fazer de novo, porque naquele tempo, o barulho do som e um monte de roqueiros juntos não era algo muito habitual por aqui”, brinca. Ainda assim, o fato é que a Festa Privada não só abriu espaço para o rock alternativo na cidade, como revelou muitas bandas e despertou o público para esse estilo musical. “Nós fomos palco para o início de infinitas bandas da região. Não importava se era bom ou ruim, o que realmente valia era ter a atitude de formar uma banda. Isso era suficiente”, pontua.

Atualmente, Marquinhos planeja promover mais uma edição da Festa Privada, que ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, nunca deixou de existir.

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