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COVID-19

Médico de Americana integra equipe que descobriu que coronavírus pode causar lesões de retina

André Romano é especialista em oftalmologia e assina o primeiro artigo do mundo a identificar as alterações

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17 de maio de 2020, às 08h26 • Última atualização em 17 de maio de 2020, às 08h30

O médico oftalmologista André Romano, de Americana, faz parte da equipe responsável pelo estudo que descobriu que o novo coronavírus (Covid-19) pode causar lesões na retina. O artigo foi publicado na última terça-feira na revista científica The Lancet, uma das mais conceituadas do gênero.

Em entrevista ao LIBERAL, o médico explicou que o trabalho é o primeiro do mundo a mostrar que a Covid-19 provoca alterações na retina e, por consequência, no sistema nervoso central. Até então, os pesquisadores sabiam que o vírus pode causar danos no cérebro, pulmão, nariz, intestino, rim e até no paladar.

O médico oftalmologista André Romano, em seu consultório em Americana – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Foram testados 12 pacientes diagnosticados com a doença, inclusive assintomáticos (que não apresentaram sintomas). Todos são profissionais da saúde que não tinham comorbidades e que não foram entubados.

“A gente descobriu que o vírus em si causa alterações anatômicas bem discretas na retina, quase imperceptíveis. Os pacientes tinham exatamente essa mesma alteração e sempre na mesma região”, comentou Romano.

O exame necessário para identificar a lesão não está disponível em qualquer clínica de oftalmologia. É necessário um aparelho de tomografia de coerência óptica, cuja tecnologia foi desenvolvida com a colaboração de Romano. Através da análise das estruturas micrométricas da retina, foi possível identificar a alteração em uma célula específica.

“É um tipo de neurônio. Isso nos dá suporte para dizer que é possível que exista uma correlação direta às funções neurológicas. A retina faz parte do sistema nervoso central. Isso significa que essas alterações podem ser o que a gente chama de biomarcador, ou seja, presença de lesões no sistema nervoso central que ainda não são clinicamente perceptíveis”, explicou Romano.

O exame leva cerca de três segundos para ser feito, é indolor e pode ser repetido quantos vezes for necessário. “É como se fosse uma fotografia sem flash. O paciente nem percebe que está sendo feito o exame”, disse Romano.

Desdobramentos

Os pesquisadores ressaltam que ainda não é possível afirmar se o vírus pode provocar a perda da visão ou prejudicá-la de alguma forma.

O estudo continua em andamento e o grupo – formado por quatro médicos – está acompanhando outras 13 pessoas diagnosticadas com a doença. Um dos objetivos é entender melhor como o vírus pode afetar o sistema nervoso central, algo que ainda não está claro.

“De todos os pacientes que nós avaliamos, nenhum deles teve baixa de visão. Estão com 100% de visão, eram apenas lesões anatômicas, estruturais. (…) A gente sabe que afeta os neurônios, temos relatos de convulsões e inflamações no cérebro que são fruto da infecção, mas ninguém sabe exatamente como isso ocorre”, afirmou Romano.

Podcast Além da Capa
Diante da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), em virtude da determinação de paralisação de atividades econômicas e do isolamento social forçado pela quarentena, o reflexo no mercado de trabalho é um dos principais termômetros para medir os danos. Nesse episódio, o editor Bruno Moreira conversa com o repórter George Aravanis, que trata do aumento dos pedidos de seguro-desemprego e acompanha os anúncios de suspensões de contrato de trabalho em empresas da RPT (Região do Polo Têxtil).

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