08 de maio de 2024 Atualizado 19:17

Notícias em Americana e região

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

146 anos

Lobo-Mau: o lanche tradicional de Americana

Lancheiros icônicos da cidade contam a história e apontam motivos para a adoração ao prato

Por Isabella Holouka

28 de agosto de 2021, às 08h32 • Última atualização em 28 de agosto de 2021, às 08h37

Qual é o segredo do sucesso do lanche no prato feito em Americana há mais de 50 anos, que encanta não só os moradores da cidade, mas de toda a região? Servido no prato – e muito bem servido – o Lobo Mau marca presença no cardápio de diversas lanchonetes da cidade, com uma tradição que dificilmente terá um fim.

O sanduíche leva pão de forma, maionese caseira, rodelas finas de tomate italiano, filé mignon e camadinhas de presunto e queijo; é envolto em uma omelete fininha e servido em um refratário, imerso em molho de tomate caseiro – feito também com tomates italianos. Por cima de tudo isso pode haver a presença de mais maionese, ervilhas ou queijos muçarela e parmesão, gratinados ou simplesmente derretidos. Acompanham o lanche maionese caseira à parte e pãezinhos ou torradas.

Biá Sacilotto: o “pai” do lanche Lobo Mau – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

O responsável por criar e iniciar a divulgação dessa iguaria americanense é o empresário Luiz Gabriel Sacilloto, o Bié, de 71 anos. Ele comandou a lanchonete Bié Lanches, da Rua Fernando de Camargo, entre 1966 e 1982, e conta que a invenção do Lobo Mau foi por volta de 1970.

“Eu nunca quis ter um boteco, sempre quis ter uma lanchonete, então a gente tinha que fazer coisas diferentes. Não criei apenas o Lobo Mau, como também outros lanches que faziam parte do cardápio da época, ‘Frango Louco’, ‘Galinha, porém Honesta’, fazíamos um beirute, vários sucos diferentes, como o Super Suco de Morango, que era um sucesso, sempre com chantili”, lembra.

Para nomear os lanches, Bié contava com a ajuda do americanense João Augusto Palhares, publicitário que na época trabalhava em uma agência em São Paulo.

O Lobo Mau se destacou e Bié afirma que o segredo era ter sua mãe como parceira na criação das receitas. Eliza de Boni Sacilotto fazia o creme de maionese e o molho de tomate especial.

O lanche ficou famoso, passou a ser copiado, e Bié não ligou. “As pessoas iam na lanchonete e eu achava bacana. Se estavam copiando, é porque estava sendo legal, nós nunca nos preocupamos com a imitação. E o Lobo Mau fez sucesso, tinha gente que vinha de Sorocaba, de Piracicaba, viajantes que passavam por São Paulo…”.

Durante cerca de 17 anos, Bié Lanches fechava apenas no Natal, Ano Novo e Sexta-feira Santa; estavam abertos sempre das 7h30 até 2 horas da madrugada. No final da década de 1970, Bié e a família Sacilotto iniciaram a Danny Cosméticos e, na dificuldade de conciliar os dois negócios, a lanchonete foi vendida.

Receita do Lobo Mau do Disk Nello: segredos do tradicional lanche de Americana – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

Os segredos do Lobo Mau foram repassados de Eliza, ao casal Nello Luis Maria Simeoni e Raquel Buttolo Simeoni, de 67 e 58 anos, do Disk Nello Lanches.

“Quando começamos a lanchonete na Avenida Brasil, em 1985, ao lado da Prefeitura de Americana, no primeiro Bar do Nello que abrimos, a mãe do Bié nos ensinou a fazer o molho, e a maionese branca que vai em cima do Lobo Mau, e são os segredos deles. Ela passou as receitas para agente, e começamos a fazer”, conta Raquel.

Nellinho e a mãe, Raquel, dizem que tradição e qualidade fazem diferença na venda do lanche – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

Filho de Nello, Nello Luis Siomeoni, de 37 anos, conhecido como Nellinho, conta que acrescentar ervilhas ao molho foi ideia do pai. Apesar deste acréscimo na cobertura, a receita do Lobo Mau no Nello Lanches continua intacta. “Tradição e qualidade dos ingredientes, isso agrega valor à mercadoria. Nós não mudamos a receita”, aponta Nellinho.

O Lobo Mau é o principal prato servido na lanchonete e pelo delivery – compete apenas com a parmegiana. Nellinho conta que o lanche é sucesso nas redes sociais, e que a iguaria americanense continua atraindo moradores de outras cidades.

João Marques, da lanchonete Lobo Uau – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

Para João Marques da Silva, de 59 anos, proprietário da lanchonete Lobo Uau, o lanche no prato é “o porta-voz gastronômico de Americana”. Uma vinda à cidade sem comer um Lobo Mau, segundo ele, é comparável a uma viagem à Roma sem uma visita ao Papa. “O Lobo Mau é o xerife da cidade”, afirma ele.

“Faço o Lobo Mau há 35 anos. Lembro de quando lanchei no Bié, eu tinha 15 ou 16 anos. Um amigo me disse ‘tem uma lanchonete lá no centro que é o maior barato!’, e quando eu recebi meu pagamento, fui lá. Foi a primeira vez que eu comi o lanche. Eu gostei, e tudo, mas como era ‘moleque novo’, eu gostava mesmo era de um x-tudo”, lembra João aos risos.

Ele talvez seja o grande responsável pela popularidade do Lobo Mau fora de Americana. João foi convidado pelo programa televisivo Terra da Gente, da TV Globo, para ensinar a receita do lanche pelo menos três vezes na última década – sempre com ótima repercussão.

“Eu fiz adaptaçõezinhas e o sucesso é tão grande que o pessoal pensa que fui eu que inventei, mas não fui eu, não. O segredo do lanche é a combinação de ingredientes. Combinam muito bem o filé mignon, a omelete, presunto e queijo. O pão de forma, além de compactado, tem que estar sem as aparas. E tem que ser um bom molho, que é a alma do Lobo Mau”, descreve ele.

Tanto no Disk Nello Lanches quanto no Lobo Uau, o lanche no prato para servir duas pessoas custa entre R$ 40 e R$ 50. O Lobo Mau também é encontrado em outras lanchonetes americanenses, como o Kintal Lanches e Kimba lanches.

Publicidade