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AMERICANA, 145 ANOS

‘Espero ter cumprido minha obrigação’, diz Omar

Em fim de mandato, prefeito de Americana avalia legado deixado por seu governo e fala sobre os desafios do próximo gestor em entrevista

Por André Rossi

27 de agosto de 2020, às 08h08 • Última atualização em 09 de dezembro de 2020, às 16h55

Eleito para um mandato tampão em dezembro de 2014 e reeleito em 2016, Omar Najar (MDB) encerra em dezembro deste ano seu ciclo como prefeito de Americana. “Passei dificuldades, muitas dificuldades, noites sem dormir, mas espero ter cumprido o meu dever”, disse Omar ao LIBERAL.

Nesta entrevista, o político e empresário fala sobre os desafios impostos pela situação financeira da prefeitura ao longo dos últimos seis anos, o legado deixado por seu governo e aponta os principais desafios que o próximo prefeito terá de enfrentar.

O prefeito Omar Najar, em entrevista ao LIBERAL – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Qual o balanço que o senhor faz sobre as condições da prefeitura neste momento?
Os problemas são muito, muito grandes. Mesmo com todo esse esforço, tudo que a gente fez, infelizmente vai ficar muita coisa para trás. Eu tive a infelicidade de pegar o País em crise, numa situação desagradável. Depois veio essa pandemia e arrebentou com tudo. Queda da arrecadação, uma série de coisas.

Além disso, nós temos recebido algumas cobranças do governo federal de verbas que não foram utilizadas. Vieram para uma finalidade e infelizmente não foram utilizadas. E o governo exige que sejam devolvidas.

Nós temos um problema sério com relação ao hospital municipal, que o governo estadual quer que a gente devolva R$ 22 milhões da verba que veio na época e o prefeito não utilizou. A gente está alegando uma série de coisas, que nós conseguimos terminar o pronto-socorro. Não deu para terminar o hospital, mas eles querem a devolução. Estou tentando um parcelamento que dê para enquadrar no orçamento do município. Afinal de contas, esse ano nós tivemos uma baixa muito grande na arrecadação.

Quando o senhor assumiu, a folha de funcionários era um problema enorme. Além dela, quais adequações tiveram de ser feitas?
Eu acho o seguinte: pessoal fala muito “porque nós vamos fazer”, mas tem coisas sérias aqui que o próximo prefeito vai ter que enfrentar, e com garra. Não vai ser fácil, não. Não adianta o cara falar que eu fechei postinho [de Saúde].

“Eu não fechei postinho. Simplesmente racionalizei. Tinha posto de saúde que ficava a 300 metros um do outro, não tinha lógica isso”

Eu consegui equacionar. A prefeitura quando eu assumi, eram mais de sete mil funcionários. Nós fizemos muito PDV [Programa de Demissão Voluntária], acordo, pagamos funcionários, mandamos embora, teve uma série de coisas. Hoje, a prefeitura tem 4.400 funcionários.

Você tem que acrescentar a Gama (Guarda Municipal de Americana), o DAE (Departamento de Água e Esgoto), que é uma autarquia, portanto vive com as pernas dela, e nós temos a Fusame (Fundação de Saúde de Americana). A prefeitura caiu para 4.400 funcionários.

Uma coisa muito importante é deixar a prefeitura viável. Não adianta você prometer em uma campanha política que você vai fazer isso, aquilo. Primeiro veja a realidade. A realidade está aqui.

“Por mais esforço que eu fiz, eu consegui equilibrar as contas, mas as coisas que vem pela frente são pesadas”

Às vezes, as pessoas falam que temos número elevado de comissionados. Eu não tenho número elevado. Uma grande parte é de concursados. Se você pegar os secretários meus, grande parte é concursada.

Com essa dispensa de três mil funcionários, a prefeitura continuou trabalhando a mesma coisa. Até uma situação mais eficiente. Aqui se dava trombada. Tinha pessoas que nem apareciam para trabalhar, só vinham buscar o holerite.

O Paço Municipal Javerte Galassi, sede do governo em Americana – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Eu não sou favorável a inchar, eu nunca pensei em inchar a máquina. Então, o outro prefeito tem que ter muito cuidado porque se inchar a máquina, a prefeitura vira o caos, porque com essa queda da arrecadação e com o gasto que está tendo, nós estamos quase no limite. Quando eu assumi a prefeitura, 73% do que se arrecadava era para pagar funcionalismo público.

Qual a situação financeira da prefeitura em relação a dívidas?
São coisas que não foram do meu governo. Eu não estou deixando dívidas. Nós estamos em dia com os nossos fornecedores. Estamos pagando religiosamente na data. Não estamos deixando nenhum fornecedor para trás. Mas é uma coisa pesada [dívidas passadas], que esses candidatos deveriam pensar bem e procurar se inteirar.

“A prefeitura é aberta para qualquer um ver a situação que está”

A gente sente muito. Esses seis anos foram difíceis. Pegamos diversas crises institucionais. Muda presidente, cassa presidente, assume outro.

Por exemplo. Nós tínhamos o governo Temer para fazer a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) da Carioba. Infelizmente na mudança dele para o Bolsonaro, os recursos foram congelados todos a fundo perdido.

Você recebe cada surpresa. Essa do hospital foi uma surpresa muito grande. Nós estamos num ano difícil para todo mundo. A queda foi de 25% na arrecadação, imagine receber uma cobrança dessa agora.

Além das dificuldades, quais foram as alegrias durante o período? E quais as principais realizações do seu governo?
Uma das alegrias foi que nós pegamos a cidade e, com a ajuda de industriários, e comerciantes, a gente abriu o Teatro Municipal Lulu Benencase, que estava fechado há quatro anos. O OMA (Observatório Municipal de Americana), com parceria de particulares, voltou a funcionar. Estava abandonado. Depois que pegou fogo ninguém fez nada.

E um dos legados que a gente deixa é a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) da Balsa, que será inaugurada no dia 27 de agosto, no aniversário da cidade.

Nós trocamos muitas lâmpadas para LED, iluminando diversos bairros. Americana tem 30 e poucos mil pontos de luz. Nós vamos trocar pelo menos 50% com recurso do município até o final do meu governo, que é o dinheiro da CIP (Contribuição sobre Iluminação Pública).

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Nós temos R$ 8 milhões. Vamos gastar nessa licitação que fizemos R$ 3,7 milhões. Portanto vai dar para trocar essas 15 mil lâmpadas e deixar, talvez, para o outro governo fazer.

Isso é importante também porque você tem uma economia de energia elétrica que o município paga. As lâmpadas de LED consomem menos energia. Na Cidade Jardim nós conseguimos uma redução de mais de R$ 10 mil reais por mês.

Nos últimos três anos, diversas obras foram realizadas pelo DAE para lidar com os problemas constantes de falta d’água. Como foi esse processo?
É um legado importante, que ninguém pensou por todos esses anos. Nós conseguimos recuperar o DAE.

Quando nós assumimos, tinha R$ 30 milhões de dívida. Conseguimos recuperar, pagamos a dívida. Hoje o DAE tem uma reserva de R$ 30 e poucos milhões no banco.

Fizemos a compra de caixas d’água, tudo com recurso do DAE, que foram R$ 8 milhões e pouco. Importadas da Áustria, que é a última palavra em modernidade e higiene. E a captação de água bruta no Rio Piracicaba, que estava praticamente por um fio em Americana, vamos, se Deus quiser, fazer a inauguração também.

O prefeito Omar Najar durante inauguração da obra de barramento no Rio Piracicaba, em julho – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Teve o barramento da represa. O Brasil inteiro está numa seca. Americana, graças a Deus, com esse barramento que nós fizemos no Rio Piracicaba, hoje nós temos tranquilidade. Essa é uma coisa que não se vê.

Infelizmente, a gente não teve recurso ainda para trocar a tubulação da cidade. São tubulações que tem 40 anos e estão inservíveis. Os canos que estamos pensando em trocar no São Vito são de ferro fundido, isso não tem jeito mais. Tem que ser trocado.

O próximo prefeito tem que pensar. Não vai dar para fazer tudo. É muito dinheiro, mas que faça devagar e pegue as áreas mais críticas. Nós trocamos aqui no Santa Catarina toda a tubulação. Agora estamos vendo se troca no São Vito. Tudo trocando devagar porque infelizmente o município não tem recurso para fazer tudo isso aí.

Em Americana, a taxa de água ainda é muito baixa em relação a outras cidades.

“As pessoas falam de privatizar. Eu tenho medo de privatização”

A gente vê por outras cidades, como no caso de Limeira. Vê o valor da água. Se privatizar, talvez a empresa vá pensar no lucro e aí a população vai sofrer mais porque a gente sabe de cidade que privatizaram e o valor da água deu um pulo muito alto.

Qual a sensação de estar encerrando esse ciclo de quase seis anos como prefeito de Americana?
Esperto ter cumprido com a minha obrigação. Fomos à luta. Foram seis anos praticamente. Anos difíceis, mas eu acho que estou com a minha consciência tranquila. De tudo que eu pude fazer pela minha cidade.

“Não foi sacrifício nenhum. Faria tudo novamente para melhorar – sem falsa modéstia – a minha cidade”

Eu nasci aqui em Americana, respeito a população de Americana, agradeço a confiança que me deram.

Passei dificuldades, muitas dificuldades, noites sem dormir, mas espero ter cumprido o meu dever. E o futuro dirá se o que nós fizemos foi bom ou não foi bom. E agradeço as pessoas de boa índole em Americana.

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