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AMERICANA, 145 ANOS

Os tombamentos e a preservação dos patrimônios

Conheça a história e a importância dos conjuntos de obras arquitetônicas que são consideradas patrimônios de Americana e que já foram tombadas pelo Condepham

Por Isabella Holouka

27 de agosto de 2020, às 08h54 • Última atualização em 09 de dezembro de 2020, às 16h53

Considerados valiosos para a reconstrução histórica não só de Americana, mas também do Estado de São Paulo e até do Brasil, os patrimônios históricos do município resistem aos efeitos do tempo, enquanto convidam os cidadãos ao conhecimento e valorização das origens da cidade.

Americana tem uma legislação própria para a proteção dos patrimônios históricos, cujo órgão responsável é o Condepham (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Americana).

Segundo o presidente do conselho, Diego Bernardo, os processos de tombamento cumprem a diversos requisitos, costumam demorar cerca de uma década para ficarem prontos e levam em conta aspectos arquitetônicos e históricos, cuja relevância seja justificada.

“O Condepham ou qualquer cidadão podem iniciar o processo, pedindo para tombar uma casa, por exemplo, por achar que ela tem relevância. O Condepham vai analisar o pedido e a palavra final é do prefeito, mas tudo é submetido ao Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico), a nível estadual”, explica o presidente.

Conheça a história dos conjuntos arquitetônicos que são considerados patrimônios históricos em Americana, tombados pelo Condepham.

Capela Nossa Senhora Aparecida e praça ao redor

Capela Nossa Senhora Aparecida tem traços da arquitetura portuguesa – Foto: Clayton Damasceno – Arquivo – O Liberal

Construída pelos imigrantes portugueses Mabília de Oliveira Mota e José da Silva Calvo, e datada de 1944, a Capela Nossa Senhora Aparecida tem traços da arquitetura portuguesa e é considerada um marco religioso-histórico de Americana. A construção tem cerca de 24 m² e o terreno, 118m².

Até a atualidade ela é preservada pela família e muito frequentada por devotos, especialmente no dia 12 de outubro, quando se comemora o Dia de Nossa Senhora Aparecida.

Onde
Rua 30 de Julho, nº 895 – Vila Jones

Casa sede da antiga Fazenda Salto Grande

O prédio hoje abriga o Museu Histórico e Pedagógico Municipal Dr. João da Silva Carrão – Foto: João Carlos Nascimento – Arquivo – O Liberal

A casa sede da Fazenda Salto Grande foi edificada no início do século XIX, próximo a confluência dos rios Atibaia e Jaguari, em terras doadas por concessão de sesmarias, tendo como primeira donatária Thereza de Camargo Penteado, que passa a propriedade para seu irmão Antônio de Camargo Penteado. No início, a casa sede foi tida como núcleo familiar, até um dos herdeiros, Francisco de Campos Andrade, comprar o restante das terras dos demais herdeiros em 1870.

Em sua formação, a fazenda contou com a mão de obra de escravizados até o ano de 1887, quando chegaram na região as primeiras famílias de imigrantes italianos para trabalhar na lavoura, com a transição da mão de obra escrava para a assalariada no ano de 1888, quando enfim chega a
Abolição da Escravatura.

Em 1907, as terras e a casa sede são adquiridas pelo grupo Rawlison Müller e Cia, da Fábrica de Tecidos Carioba, que construiu no Rio Atibaia a primeira Usina Hidrelétrica da região, inaugurada em 1911, que gerou energia para os bairros que hoje estão inseridos em Americana e em outras cidades da região, como Santa Bárbara, Cosmópolis e Nova Odessa.

Em 1945, a propriedade é adquirida pelo Grupo J.J. Abdalla, que após mais ou menos 30 anos de administração e por razões diversas, transferem a propriedade para a Prefeitura Municipal de Americana.

A casa sede foi construída por mão de obra escravizada, com sistema construtivo em taipa de mão e taipa de pilão. Possui 36 cômodos e um pé direito de 15 metros de altura, edificada em dois pavimentos.

O prédio hoje abriga o Museu Histórico e Pedagógico Municipal Dr. João da Silva Carrão, cujo acervo é composto por 3.763 peças das mais diversas naturezas. Atualmente, o local encontra-se fechado para visitação, no
aguardo de restauro.

Tanto o espaço quanto o acervo são considerados de suma importância para a preservação histórica e o resgate da memória para a população americanense, pois não só retratam o período colonial e o estilo arquitetônico da época, como também resgatam o valor de pertencimento de uma sociedade englobando as várias etnias que formaram a população e sua cultura.

Onde
Entre a barra dos rios Atibaia e Jaguari, Av. Nicolau João Abdalla nº 5.005

Casas que compõem a Colônia Sobrado Velho

No ano de 1870, o Major Francisco de Campos Andrade, começa um processo de aquisição de terras ampliando sua fazenda, através de compra de sítios localizados no interior da fazenda Salto Grande, cujos vendedores eram seus parentes, herdeiros de seu pai José de Campos Penteado.

Presume-se que as colônias tenham sido construídas no ano de 1890, por mão de obra italiana – Foto: Arquivo – O Liberal

O Major em 1887, traz as primeiras famílias de imigrantes italianos para trabalhar na lavoura e substituir a mão de obra escrava. O primeiro grupo de imigrantes italianos era constituído de 28 famílias lideradas por Joaquim Boer.

Mais tarde, por problemas financeiros, Francisco doa glebas de terras para os colonos, em forma de pagamento pelos serviços prestados. Dá -se início a formação de sítios e, mais tarde, vilas que ainda nos dias atuais levam o nome de algumas dessas famílias, como Bertini, Meneguel, Cia, Faé, Boer, Santa Rosa.

Presume-se que as colônias tenham sido construídas no ano de 1890, por mão de obra italiana. Das oito colônias nas terras pertencentes à fazenda, apenas duas restaram deste período, a Colônia Sobrado Velho e a Colônia Casarão, que é anexa à casa sede. As outras colônias se denominavam Boa vista, Quebra Canga, Botafogo, Casa Nova, Monjolo e Saltinho.

Em 1996, através da Lei nº 2.984 de 05 de Junho, é instituído o Dia da Comunidade Italiana no Município de Americana, comemorado em 2 de junho. A data integra o calendário escolar, cultural e turístico do município, reconhecendo a importância dos imigrantes na formação da cidade e a importância deste patrimônio como marco cultural e do desenvolvimento socioeconômico, por se tratar do início da mão de obra assalariada.

Onde
Estrada da Usina Estér, nº 5421 – Salto Grande.

Capela Santo Antônio

Capela faz referência aos colonos da fazenda Salto Grand – Foto: José Roberto Bueno – Arquivo – O Liberal

Considerada um marco histórico da fé católica e a primeira Capela de Santo Antônio, a Capela que atualmente está localizada no terreno particular da Empresa Santista faz referência aos colonos da fazenda Salto Grande, tendo como padroeiro Santo Antônio de Pádua.

Pádua é uma cidade na região de Veneto, no norte de Itália, de onde originaram as primeiras famílias que chegaram na região. Ela foi construída em 1894, pelos próprios imigrantes italianos, com uma área de cerca de 60 m². Posteriormente na edificação, além da imagem do próprio santo, foram incluídas as imagens de Nossa Senhora da Aparecida e a de Santa Edwirges.

As três imagens foram retiradas da capela, que está fechada para a visitação. A última recuperação do espaço foi feito no ano 2000.

Onde
Área da empresa Santista, situada na Av. Nicolau João Abdalla, nº 4.125 – Bairro Salto Grande

Capela Nossa Sra. do Carmo

Igreja foi construída há 60 anos e continha imagens que vieram de Portugal – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

Localizada nas terras do antigo sítio Boer, atualmente nomeado de Jardim Boer II, a capela denominada Nossa Senhora do Carmo, foi construída há 60 anos e continha imagens que vieram de Portugal.

Em seu entorno foram formados três bairros e comunidades, Jardim Mirandola, Comunidade São Pedro, Jardim Bertoni e Comunidade São Cristóvão, Jardim Boer I e Comunidade Santo Expedito – todas vinculadas à Diocese de Limeira.

Onofre Boer construiu a capela no ano de 1960, após a aquisição das terras, segundo informou Waldemar Boer, filho de Onofre. Na construção foram encontrados vestígios de outra capela, com objetos antigos e pertencentes a imigrantes, como imagens e castiçais, que foram realocados na nova capela.

Onde
Jardim Boer II

Matriz Velha de Santo Antônio: construção em estilo neogótico

Com o crescimento da população de descendentes dos primeiros imigrantes italianos, que se espalharam pelos bairros da futura cidade de Americana, houve a necessidade de construir outro templo religioso para abrigar os fiéis, o que os levou a edificar uma igreja em louvor ao Padroeiro Santo Antônio, no povoado que estava se formando nas proximidades da Estação Ferroviária, cuja construção teve início no ano de 1897.

Igreja foi construída em sistema de mutirão em terras doada pelo Capitão Ignácio Corrêa Pacheco – Foto: João Carlos Nascimento – Arquivo – O Liberal

Em estilo neogótico, a Igreja foi construída em sistema de mutirão em terras doada pelo Capitão Ignácio Corrêa Pacheco. A sua primeira missa celebrada pelo Bispo de São Paulo, Dom Antônio Cândido de Alvarenga, na inauguração no dia 28 de julho de 1900.

A função religiosa da igreja, que pertence à Diocese de Limeira, com a realização de missas, casamentos e batizados, foi encerrada no ano de 1990 devido à necessidade de reformas e manutenção. Em 1997, foram feitas novas reformas e, posteriormente, algumas poucas atividades ainda continuaram, como missas semanais e casamentos.

Em março de 2016, devido a problemas estruturais e infiltração no telhado da igreja, a Diocese de Limeira decidiu encerrar as atividades até que o processo de restauro seja concluído.

Onde
Praça da Matriz, nº 41 – Centro

Em gesso, a imagem mede 1 metro de altura por 65 centímetros de diâmetro – Foto: Arquivo – O Liberal

Imagem de Santo Antônio de Pádua

Datada de 1876, a imagem foi trazida da Itália pelos primeiros imigrantes italianos que vieram trabalhar na lavoura da Fazenda Salto Grande no ano de 1887.

Ela pertenceu a primeira Capela de Santo Antônio, da mesma fazenda. Em gesso, a imagem mede 1 metro de altura por 65 centímetros de diâmetro. Durante a década de 1990, quando a capela foi fechada, o ex-funcionário Sebastião Mazeo a guardou em sua própria casa, nas dependências da empresa Santista. No ano de 1999, a empresa a encaminhou para o Município de Brotas para ser restaurada.

Após restauro, realizado na cidade de São João Del Rei em Minas Gerais, a imagem do padroeiro foi colocada no altar da Basílica de Santo Antônio de Pádua, onde está até os dias de hoje.

Onde
Rua Vieira Bueno, nº 150 – Centro

Criação da cidade passa pela Estação Ferroviária

 Uma placa afixada na estação com os dizeres “Villa Americana” deu origem ao nome da cidade – Foto: Arquivo – O Liberal

A história da Estação Ferroviária coincide com a narrativa que levaria à criação da Villa Americana. A Estação representa um marco da expansão comercial e socioeconômica e das diversidades culturais que se estabeleceram na região central do município.

No século anterior à sua construção, com a expansão cafeeira no oeste paulista, os Barões do Café (como eram conhecidos os proprietários de fazendas e cultivadores em larga escala deste produto), encontravam dificuldades em escoar a produção até o porto de Santos.

A carga era transportada no lombo de mulas ou em carroças puxadas por bois até a Estação Ferroviária de Jundiaí. Deste ponto em diante, seguia através de trens da inglesa Railway de Estradas de Ferro, até ser embarcada em navios no porto de Santos.

Para facilitar o escoamento destes produtos, os cafeicultores tinham a intenção de prolongar a malha férrea até Campinas e desta até Rio Claro, facilitando o transporte e diminuindo perdas ao longo do trajeto.

Porém, a Railway não possuía concessão para tal prolongamento. Então é criada a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, proveniente da união dos Barões do Café.

Em 1872, é inaugurado o primeiro trecho do prolongamento até Campinas, e em 27 de agosto 1875 é inaugurada a Estação de Santa Bárbara, nas terras da Fazenda Machadinho, pertencentes a Basílio Bueno Rangel, o que facilitaria igualmente o escoamento dos produtos agrícolas da futura Americana.

Em 1900, para evitar a ocorrência de extravios de correspondências, Ignácio Corrêa Pacheco, junto a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, colocam na Estação uma placa com os dizeres “Villa Americana”.

A Villa já era conhecida devido à presença dos imigrantes confederados – que trouxeram inovações nas técnicas agrícolas para a cultura do algodão e fundaram escolas, além de serem afamados dentistas, médicos e professores.

Então, disputas pelos impostos começaram a ser evidentes e a população da Villa, insatisfeita por ter que pagar a Campinas e Santa Bárbara d’Oeste, iniciou uma disputa política para serem inseridos na comarca de Campinas, passando assim a contribuírem apenas com este município.

O resultado é a criação do Distrito de Paz de Santo Antônio de Villa Americana, no dia 30 de Julho de 1904. A emancipação viria 20 anos depois, em 12 de novembro de 1924, com luta política encabeçada por Antônio Lobo, Hermann Müller, Tenente Sebastião Antas de Abreu, Cícero Jones, dentre outros nomes.

São considerados os fundadores da cidade de Americana, Basílio Bueno Rangel e o Capitão Ignácio Correa Pacheco, por terem sido os primeiros a impulsionarem a formação do núcleo urbano na cidade.

No ano de 1912 é inaugurado o novo prédio da Estação Ferroviária, que desta vez foi feita em alvenaria em estilo inglês. Atualmente conhecida como Estação Cultura, ela é utilizada como espaço cultural pela Secretaria de Cultura e Turismo de Americana, sediando eventos culturais e turísticos. Atualmente encontra-se em processo de restauro.

Onde
Av. Dr. Antônio Alvares Lobo, nº 196 – Centro

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