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INVESTIMENTOS SOB SUSPEITA

Clientes apontam ‘sumiço’ de corretora e prejuízos milionários com criptomoedas em Americana

Empresa fala em "momento atípico" e promete reparação a clientes; investidor tenta resgatar mais de R$ 1 milhão

Por Walter Duarte

09 de julho de 2023, às 08h19 • Última atualização em 10 de julho de 2023, às 16h41

Clientes de uma corretora especializada na negociação de criptomoedas com sede em Americana estão buscando a Justiça após não conseguirem sacar os valores aplicados.

A empresa é a Gocap Intermediação Inteligente de Ativos, que funcionava em um imóvel de alto padrão na Rua Washington Luiz, no Centro da cidade (veja a versão dela abaixo).

Sede da empresa, no Centro de Americana, está fechada – Foto: Marcelo Rocha/Liberal

O escritório foi fechado e o grupo é alvo de uma ação de despejo por falta de pagamento do aluguel do espaço.

Investidores ouvidos pelo LIBERAL sob a condição de anonimato disseram que a oferta tinha as características de um bom negócio: baixo risco e potencial de ganhos acima da média.

“Podia render de 1% a 2% ao mês, mas não havia garantia de rendimento, apenas de que não teríamos perdas. O meu (investimento) estava rendendo 1,8% mês”, explica um servidor público, que vendeu um carro para aplicar com a Gocap.

Pelo contrato firmado entre a corretora e os clientes, o período mínimo de aplicação deveria ser de seis meses. Após esse prazo, era possível resgatar os recursos e o lucro obtido. Para isso, a empresa teria 45 dias úteis.

“Meu contrato finalizou dia 7 de janeiro e eu tinha R$ 39 mil para resgatar. O prazo terminou dia 27 de março e aí começou a dor de cabeça. Pediram validação disso e daquilo, tudo fora do previsto no contrato e falaram até de uma lei que ia entrar em vigor. A resposta que dão toda vez é que está no jurídico”, completa o investidor.

O advogado Roliandro Antunes da Costa representa outras três famílias que não conseguem resgatar os valores aplicados com a Gocap. Apenas um de seus clientes tem R$ 1,3 milhão a receber da corretora.

“Os investidores realizaram diversos depósitos e transferências para as contas indicadas pela Gocap. Esses valores eram considerados aportes financeiros destinados à gestão e administração dos fundos na plataforma online promovida pela empresa. As promessas de rentabilidade não se concretizaram e a confiança depositada foi abalada quando se tornou evidente que o sócio da empresa agia de forma enganosa”, afirmou. O responsável pela Gocap é Maxciel Ferrero Cavalheiro.

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O autônomo J. A. W. é outro investidor que se sente enganado pela empresa. Ele afirma ter investido com a Gocap por confiança, já que era amigo de infância do empresário.

“Nós éramos amigos de longa data, estudamos juntos. Ele faz parte de um grupo da Acia (Associação Comercial e Industrial de Americana), que se reúne mensalmente para falar de negócios e eu fiz o contrato com ele baseado nessa confiança. Cheguei a ganhar dinheiro com alguns investimentos, mas os últimos dois contratos, que somam mais de R$ 13 mil com os juros não foram pagos”, afirma.

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Após reiterados contatos com a corretora sem uma definição sobre a devolução do dinheiro aplicado, o autônomo decidiu acionar a Polícia Civil.

“Fiz o boletim de ocorrência por estelionato, apresentei os documentos para a polícia e vou procurar a Justiça”, completou.

Sede fechada

A reportagem esteve, na sexta-feira (7), no prédio onde funcionava a corretora. O espaço está fechado há mais de um mês e sem qualquer aviso sobre mudança de endereço. Segundo vizinhos, várias pessoas já se frustraram ao buscar informações sobre a Gocap.

A oferta da Gocap
Entenda como é o serviço oferecido pela empresa, que virou dor de cabeça para parte dos clientes

1) Corretora oferecia aplicações em criptomoedas com rendimentos variáveis entre 1% e 2% ao mês

2) Clientes faziam aportes mensais e podiam acompanhar o “rendimento” por app

3) Após um período de seis meses, o investidor poderia pedir o resgate, que seria pago em até 45 dias úteis

4) Clientes relatam que o prazo não foi cumprido e que não há justificativa por parte da Gocap

Corretora fala em ‘momento atípico’ e promete reparação

Em nota, encaminhada ao LIBERAL por sua assessoria de imprensa, a Gocap admitiu o descumprimento de contratos. A empresa informou que passa por um “momento atípico” por conta da aprovação de uma nova lei, mas se comprometeu a reparar os danos causados aos clientes.

“A lei, sancionada em 21 de dezembro de 2022, determina ao órgão regulador, estabelecer as condições e prazos, não inferiores a seis meses, para a adequação às novas regras por parte da Gocap. Desta forma, nossa empresa passou por um período de adequação à nova demanda”, afirma a nota.

“Para garantir a integridade e a confiabilidade da Gocap, e em compensação à morosidade do processo, a empresa está fornecendo o reajuste de todos os valores a serem resgatados com base no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) calculado a partir do período de atraso do depósito”, diz o texto.

Em outro trecho, a corretora se disse aberta a dialogar com os investidores. “Reforçamos nosso compromisso com a transparência, segurança, verdade e credibilidade para com os nossos clientes e, sobretudo, com o patrimônio deles a nós confiado. Para tanto, nossa equipe se coloca à disposição para atender a todos por meio de nossos canais oficiais”, conclui a nota.

Acia esclarece que nunca teve relação com a Gocap

Em nota enviada ao LIBERAL nesta segunda-feira (10), a Acia (Associação Comercial e Industrial de Americana) esclarece que nunca teve qualquer relação com a empresa Gocap.

“O sócio dessa empresa nunca fez parte da diretoria da entidade. Ele participou de um grupo de networking que se reunia nas dependências da Acia até o ano de 2019, para expor seu ramo de negócios”, informou a associação.

Marcelo Fernandes, presidente da Acia, disse houve a criação de um grupo denominado RNE (Rede de Negócios Empresariais) formado por empresários de vários segmentos do mercado que tinha foco gerar negócios de maneira eficiente e contínua.

“Era uma troca de serviços entre esses empresários. A Acia nunca fez captações para determinado investimento e nem apoiou esse tipo de atividade. A entidade apenas cedia o espaço para esses encontros que tinham como objetivo fazer negócios em diversos setores e fortalecer a economia da cidade”, explicou Fernandes.

Este grupo fez reuniões até o início de 2020, mas devido à pandemia de Covid-19 os trabalhos foram encerrados, segundo a Acia.

Colaborou Stela Pires

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