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Boas Histórias

Catadora se desdobra para levar festa para crianças do Zincão

Catadora de materiais recicláveis, Silmara se desdobra para garantir momentos de alegria às crianças que vivem no Zincão

Por Valéria Barreira

09 de outubro de 2019, às 07h55 • Última atualização em 09 de outubro de 2019, às 11h53

Uma catadora de materiais recicláveis da favela Zincão, no Parque da Liberdade, em Americana, se desdobra – ela também é bordadeira e faxineira – para manter a tradição e realizar pelo menos três festas anuais às crianças da comunidade – Páscoa, Dia das Crianças e Natal. Com a ajuda da família, que também mora na área, ela corre atrás de tudo.

Silmara Jesus de Oliveira tem 32 anos e passa meses economizando para fazer as festas sem precisar de ajuda externa. Mas, neste ano, a situação complicou.

Há quase dois meses, a picape Ford Pampa, ano 1987, que ela usava durante a coleta dos recicláveis, quebrou. Foi um golpe no orçamento da família e ela não teve outra saída a não ser partir em busca de ajuda para o dia 12 de outubro não passar em branco – a festa, porém, será dia 19.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Silmara é mãe de dois filhos, além de ser vista também como referência por outras crianças que vivem na favela, no Parque da Liberdade

“Graças a Deus”, como ela diz, vai conseguir o brinquedo para a festa que era o sonho das crianças do local, um inflável onde elas escorregam no sabão. O aluguel do brinquedo custa R$ 1,3 mil. Ela conseguiu, com recurso próprio, dar um “sinal”, e recebeu ajuda de uma ONG (Organização Não Governamental) para pagar mais uma parte, mas ainda faltam R$ 450. “Não contava que o motor do carro fosse fundir”, conta.

Sem poder catar reciclável, ela aumentou o número de faxinas e borda “sem parar”. “Fico até de madrugada”, explica.

Na sua lista de crianças para a festa consta 282 nomes. Cada uma vai ganhar um presente. Eles serão dados por um casal de voluntários que se prontificou a ajudá-la.

O cardápio será refrigerante, cachorro quente e gelatina. Ela não conseguiu o bolo, mas já garantiu também a sacolinha surpresa com balas.

Sua relação com as crianças não se limita às festas. Desde que se mudou para o Zincão, há 12 anos, Silmara se dedica a aconselhar, amparar e estimular os pequenos da comunidade a sonhar com uma vida melhor.

“Não é porque moram numa favela que precisam pensar pequeno. Tem que querer algo grande. Tem que querer mudar desse lugar, ter uma vida melhor”, diz a mãe de dois filhos – uma menina de oito e um garoto de 15 anos.

Sua relação com as crianças da favela é na base da conversa. Silmara sonha em poder dar abrigo às crianças no período inverso ao da escola para focar no que elas querem e ajudá-las a chegar lá. Mas atualmente o que tem para oferecer é o seu carinho e sua disposição para ouvir e querer ajudar.

“Converso muito. Meu pai e minha mãe não paravam em casa. Eu não tinha com quem conversar. Tive que aprender com a vida. Então, eu tento passar algo diferente pra eles”, detalha.

Silmara mora num barraco com os dois filhos e o marido. Ela diz se preocupar com o futuro das crianças que moram no Zincão.

No início, reunia grupos de crianças e levava para sua casa. Lá, fazia gincana, ensinava brincadeiras que nem existem mais e conversava. “As crianças precisam de alguém que veja o sonho delas e as incentive a acreditar nele”.

O objetivo final dessa relação é mostrar que existem opções melhores à vida na favela e manter as crianças afastadas das drogas. “O problema não é morar no barraco. O problema é se envolver com drogas e cair num caminho sem volta”.

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