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Covardemente

Ataque contra o LIBERAL completa 60 anos neste sábado

Depredação da primeira sede do LIBERAL ocorreu em 1º de agosto de 1960 e foi cometida por irmãos revoltados com matérias

Por Leonardo Oliveira

01 de agosto de 2020, às 07h54 • Última atualização em 01 de agosto de 2020, às 09h10

Neste exato dia do mês de agosto de 1960, o LIBERAL sofria um dos maiores ataques à sua linha editorial em 68 anos de história. Foi em um dia 1° de agosto, há seis décadas, que a primeira sede do jornal foi “empastelada”, ou depredada, por dois irmãos que eram donos de uma empresa telefônica que geria o serviço na cidade.

Eles entraram no imóvel onde o jornal existia, na Rua Doze de Novembro, agrediram um dos colaboradores, o bancário José Nascimento, a socos e pontapés, e destruíram a redação do jornal, espalhando tipos (letras) pelo chão, além de quebrar móveis.

Oficina da Rua 12 de Novembro ficou destruída depois do ataque dos irmãos em 1960 – Foto: Reprodução

O motivo do ato criminoso foi a insatisfação dos irmãos com a cobertura do LIBERAL sobre o contrato que existia entre a prefeitura e a empresa da qual eram donos. A própria administração municipal não estava contente com o serviço prestado e entrou na Justiça contra as condições impostas.

Por isso, todos os telefones da prefeitura foram desligados pela Empresa Telefônica de Americana, cerrando o contato do poder público com a população. O LIBERAL publicou uma série de artigos e matérias denunciando a situação e cobrando soluções.

Um dos textos tinha como título “reitera a empresa telefônica seus atos arbitrários”. O conteúdo foi acompanhado por piadas publicadas na coluna de humor do jornal, o que levou os proprietários, de família tradicional, ao ato de vandalismo.

O episódio ficou conhecido como o “empastelamento do Jornal O Liberal”. Esse termo era usado para explicar a destruição de um veículo de comunicação na época.

Originalmente a palavra se referia a mistura dos tipos e outros elementos de impressão durante a montagem do jornal. As duas edições seguintes foram impressas em uma gráfica de Nova Odessa e circularam em formato tabloide.

Matéria sobre o ataque contra a sede do LIBERAL – Foto: Reprodução

“Covardemente”, é o início do título que abre a página que conta toda a história do empastelamento, no primeiro periódico que circulou depois da depredação.

“Naquela época, Americana não era como é hoje, grande assim. Uma cidade pequena, quando tinha um acontecimento desse chamava a atenção, todo mundo ficava falando sobre o assunto”, disse o radialista Geraldo Miante, hoje com 87 anos.

A pressão sobre a linha editorial não se restringiu a esse movimento, afirma a diretora financeira do LIBERAL, Luciana Medon Bianco.

“O jornal nasceu com um conceito de dar voz para todo mundo. E quem tinha o poder na época não aceitava isso. Na época da ditadura o jornal sofria censura, meu pai [Jessyr Bianco] chegou a ir para a base de Campinas, processos teve muitos durante esse tempo”, revelou.

Jessyr, um dos fundadores do LIBERAL, chegou a ter os direitos políticos caçados depois de denunciar irregularidades na demolição do Casarão da família Antônio Zanaga, que ficava em frente à praça Comendador Muller.

Depois, as ilegalidades foram provadas e ele teve a condenação suspensa.

Em 68 anos, ainda houve invasão de delegado na redação, ameaça a cronista e até tentativa do ex-prefeito Jairo Azevedo de tirar o LIBERAL de circulação por causa de uma matéria que tratava de uma proposta de governo não executada.

“Os ataques sempre vieram de pessoas e grupos que se julgam poderosos, que são ignorantes quanto ao papel dos jornalistas diante do interesse público. Vão desde meras ameaças de processos e ataques verbais a graves episódios de agressões”, afirmou o editor executivo do Grupo Liberal, João Colosalle.

As tentativas de cerceamento à liberdade de expressão ocorridas nas décadas passadas se assemelham ao momento atual, com veículos de comunicação suspendendo a cobertura realizada no Palácio da Alvorada devido aos ataques praticados a jornalistas.

“As investidas contra a imprensa, infelizmente, continuam e se intensificaram nos últimos anos. Hoje, os ataques têm como principal ambiente as redes sociais, onde ocorrem em grande escala” finaliza Colosalle.

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